domingo, 14 de setembro de 2014

Movimento sem-teto diz que entidade ligada à prefeitura encaminhou 24 famílias para prédio invadido

Pelo menos 24 famílias foram encaminhadas pela prefeitura à invasão do prédio do Cine Marrocos, no centro de São Paulo, segundo o Movimento Sem-Teto de São Paulo (MSTS). Essas famílias teriam sido acolhidas pelo movimento ao apresentarem documentos em papeis timbrados da prefeitura de São Paulo, que solicitavam o abrigo e atestavam a sua situação de pobreza. As certidões, analisadas pelo site de VEJA, foram emitidas entre novembro de 2013 e fevereiro deste ano. Os papeis levam a assinatura, o carimbo e o número de registro de seis assistentes sociais – cinco deles trabalham no albergue Arsenal da Esperança, conveniado com a prefeitura, e um no Centro de Referência de Especializado de Assistência Social da Barra Funda, pertencente ao próprio município. Segundo o secretário-geral do MSTS, Wladimir Ribeiro Brito, a prefeitura encaminha alberguados para a invasão irregular desde novembro do ano passado. Das 500 famílias que moram no edifício, 37 teriam sido acolhidas com os documentos da administração municipal. Brito relata que na mesma semana em que o antigo teatro foi invadido duas Kombis com o emblema da prefeitura trouxeram mais de dez pessoas para serem alojadas. Nesta semana, o Bom Dia São Paulo, da TV Globo, relatou o caso de duas famílias que chegaram ao local com um ofício assinado por duas funcionárias Centro de Referência de Especializado de Assistência Social da Barra Funda. Após a divulgação do caso, ambas foram demitidas. Ao site de VEJA, o presidente do MSTS, Robinson Nascimento dos Santos, afirmou que a invasão ao antigo teatro foi sugerida pelo então secretário de Relações Governamentais da prefeitura, o ex-deputado petista João Antônio, indicado pelo prefeito Fernando Haddad para o Tribunal de Contas do Município. Santos afirma que a conversa ocorreu em reunião entre militantes e representantes da prefeitura, no dia 7 de julho de 2013. Fundado em 2012, o MSTS era um dos grupos vinculados à Frente de Luta por Moradia (FLM), que tem ligação histórica com o PT. Após uma briga interna entre as lideranças dos dois movimentos, o MSTS se desvinculou da FLM e se afastou das orientações do partido. Das sete invasões que o movimento mantém em São Paulo, duas estão em processo de reintegração de posse – o Cine Marrocos e o Museu do Disco. O presidente do MSTS, Robinson Santos, disse que os dois pedidos protocolados na Justiça como “perseguição política”, uma vez que as invasões da FLM não são tratadas da mesma forma que as do seu movimento. Santos reproduziu a conversa que teve com o ex-secretário na reunião: "Ele falou bem assim: 'Tem muitos prédios em São Paulo, você não está vendo que tem um do outro lado da rua. Você está esperando o quê?  Eu abrir a porta para você? Respondi: 'Tudo bem, se é para entrar, não demoro nem cinco minutos". O prédio do "outro lado da rua" seria o Cine Marrocos. O MSTS mantém uma outra invasão no antigo Museu do Disco, em frente ao antigo teatro. O movimento cobra taxas de 80 reais a 200 reais dos militantes acolhidos para pagar as despesas da invasão.

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