terça-feira, 5 de agosto de 2014

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO AVÓS DA PRAÇA DE MAIO ENCONTRA NETO ROUBADO PELOS MILITARES ARGENTINOS APÓS 35 ANOS

A presidente da associação Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, recuperou o neto Guido depois de mais de três décadas de buscas. Ele era um dos desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina, que durou de 1976 a 1983. Um teste de DNA confirmou o parentesco e foi o próprio Guido que teve a iniciativa de submeter-se ao exame. O neto de 36 anos é músico e mora em Olavarría, na Grande Buenos Aires. A mãe de Guido, Laura Carlotto, estava grávida quando foi detida, em novembro de 1977. Integrante da organização terrorista de esquerda os Montoneros, ela tinha 23 anos quando foi levada ao centro clandestino de 'La Cacha', na cidade de La Plata (60 quilômetros ao sul da capital) e acabou dando à luz na prisão, em 26 de junho de 1978. Foi morta dois meses depois e seu corpo foi entregue à família, mas o menino não foi achado. Sua avó, hoje com 83 anos, e uma das fundadoras da associação, passou as últimas décadas tentando descobrir o paradeiro do neto, certa de que ele estava vivo. Ele acabou sendo criado por um fazendeiro, que já morreu. Os militares no poder tinham por hábito tirar os filhos recém-nascidos de presas políticas e entregá-los a pessoas de confiança do regime. Estima-se que tenham roubado 500 crianças durante a ditadura. A organização humanitária formada por pessoas cujos filhos e netos desapareceram durante a repressão realiza análises genéticas para tentar encontrar os desaparecidos e restitui-los às suas famílias. A associação foi fundada em outubro de 1977 como uma organização próxima das Mães da Praça de Maio, quando algumas mães de desaparecidos deram prioridade à busca por seus netos. "O resultado é positivo. Encontramos o meu sobrinho depois de 35 anos. Ele se apresentou voluntariamente, submeteu-se a um exame de DNA e deu 99,9% de compatibilidade. É uma emoção enorme", disse o secretário de Direitos Humanos da província de Buenos Aires, Kibo Carlotto, filho de Estela e tio do homem encontrado. "É um choque terrível para ele. Mas ele se apresentou voluntariamente, e está tudo bem", acrescentou. Outro irmão de Laura, o deputado governista Remo Carlotto, disse que toda a família está profundamente feliz e ansiosa para conhecer o parente, "para que ele se encontre com a história que lhe pertence". "Eu não queria morrer sem tê-lo abraçado", resumiu Estela. "Quero compartilhar com vocês a alegria enorme que a vida me brindou hoje. Encontrei aquilo que busquei e hoje estamos em família. Tenho agora todos os meus catorze netos comigo", disse a avó, que ainda não encontrou o neto pessoalmente. A ditadura militar argentina foi de um barbarismo absoluto, o hábito de roubar bebês de mães que deram à luz no cativeiro é terrorismo de Estado além de qualquer limite humano. E esse terrorismo de Estado foi rebatido pelo terrorismo das organizações de esquerda, especialmente Montoneros e ERP (Exército Revolucionário Popular). Até hoje, como se verifica pela história dos Carlotto, essa chaga histórica está aberta.

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