domingo, 3 de agosto de 2014

JUSTIÇA RECONHECE QUE RUY BERBERT FOI MORTO SOB CENSURA

A Justiça reconheceu que o guerrilheiro Ruy Carlos Berbert, foi morto sob tortura, aos 24 anos, na cadeia pública de Natividade, hoje Tocantins, em 1972. Pela decisão, o documento de óbito deixará de apontar suicídio, versão oficial colocada em xeque pelo jornal O Estado de S. Paulo, há dois anos, com a publicação de fotos do corpo e relatórios inéditos. A mudança do registro de cartório levou a mãe do guerrilheiro, Ottília Vieira Berbert, 95 anos, moradora da cidade paulista de Jales, a agradecer ao juiz do caso por apagar a imagem do filho dependurado na cela. Ottília disse que nunca acreditou que o filho pudesse se matar. O advogado Rodrigo Berbert Pereira, sobrinho do guerrilheiro, autor da ação que pediu a mudança na certidão de óbito, contou que a certeza da família, de tradição espírita, do assassinato do guerrilheiro nunca foi suficiente para apagar uma imagem incômoda. Localizadas numa pasta do Arquivo Nacional, em Brasília, as fotos do corpo do guerrilheiro estendido num estrado na prisão forçaram um novo encontro da família com o passado. Ottília não teve acesso às imagens, mas foi informada da existência de documentos que sugeriam que o filho passou por maus tratos num interrogatório. Para surpresa da família, ela deu aval para que o único neto, Rodrigo, recorresse à Justiça para a retificação do óbito. Um perito que analisou as fotografias a pedido dos Berbert avaliou que as marcas no pescoço não podiam ser de um suicídio unilateral. O guerrilheiro também não teria condições de subir no telhado de cinco metros de altura e de lá se enforcado num lençol. O corpo foi enterrado sem avaliação de um médico legista. Dois farmacêuticos deram o atestado da morte. A versão oficial destaca que Berbert se matou um dia depois da prisão efetuada pelo delegado local. O jornal revelou, porém, que agentes do Centro de Informações do Exército (CIE), núcleo de extermínio de guerrilheiros, organizou uma força tarefa que envolveu homens da 3ª Brigada de Infantaria, da Polícia Federal, da Aeronáutica e do DOI-CODI, para combater militantes do Movimento de Libertação Popular (Molipo), grupo de Berbert, na região. O relatório da Operação Ilha, como foi batizada a força-tarefa, destaca que a polícia teria feito a prisão do guerrilheiro a 31 de dezembro de 1971, depois de receber informação de agentes do CIE. Em 1992, a família já tinha entrado na Justiça para garantir que o guerrilheiro fosse reconhecido como o homem enterrado a 2 de janeiro de 1972, no cemitério de Natividade, com o codinome de João Silvino Lopes. A certidão de óbito de Lopes foi, então, corrigida com o nome de Ruy Carlos Vieira Berbert. Estudante de Letras da Universidade de São Paulo (USP), Ruy Carlos Vieira Berbert foi um dos integrantes do Molipo que recebeu treinamentos em Cuba e retornou ao Brasil. A  ditadura militar brasileira fez uma verdadeira caçada aos guerrilheiros no interior do País.

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