terça-feira, 12 de agosto de 2014

COMISSÃO DA VERDADE DO RIO DE JANEIRO COMPROVA QUE HOUVE TORTURA E MORTE DE PRESO EM PLENO HOSPITAL MILITAR

A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro comprovou nesta segunda-feira o primeiro caso de tortura dentro de um hospital militar, no período da ditadura. Nesta segunda-feira a Comissão Estadual da Verdade divulgou laudo pericial confirmando que, por pelo menos três vezes, o engenheiro Raul Amaro Nin Ferreira, terrorista que militava no MR8, sofreu tortura, inclusive às vésperas de sua morte, no Hospital Central do Exército, em Triagem, na zona norte do Rio de Janeiro. Raul passou 12 dias em poder dos militares. Com base em vasta documentação oficial e no laudo cadavérico, o médico-legista da Comissão da Verdade, Nelson Massini, revelou que Raul tinha lesões pelo corpo adquiridas durante a internação no Hospital Central do Exército, para onde foi levado no quarto dia de prisão, 4 de agosto de 1971. O terrorista tinha contusões no tórax, nas pernas e nas coxas, o que indica que foi atingido com socos, mas principalmente com pontapés e por meio de instrumento não identificado. O uso de choque elétrico não foi descartado. Segundo Massini, a coloração dos hematomas em Raul é contundente para estimar os dias em que a vítima foi torturada. “O laudo cadavérico traz detalhadamente a cor e o espectro das lesões, com os quais se pode detalhar a evolução regressiva delas. Ele tem lesões dos dias 6 e 7 de agosto e, por fim, do dia 11. Essas últimas, vermelhas (que são as mais recentes), em pontos diferentes, sinal de que, no dia da morte, ele foi espancado e o legista detalhou isso no laudo”, informou. Documentos a que a família teve acesso para compor o dossiê sobre o caso, entregue à Comissão da Verdade em 2013, mostram que o Exército enviou investigadores para interrogar Raul no Hospital do Exército dia 11 de agosto, o que pode explicar as lesões mais recentes no corpo da vítima. Oficialmente, o ativista morreu de infarto, o que, segundo Massini, pode ter sido decorrente do estresse. Em nota, a família de Raul se disse “horrorizada” com a tortura dentro do Hospital do Exército. Ela cobra que o único coronel vivo envolvido no caso, José Antonio Nogueira Belham, que assina documento enviando os interrogadores ao Hospital Central do Exército, esclareça lacunas do dossiê, como os sinais de tortura no corpo do ativista antes de ele chegar ao hospital, e revele a identidade dos torturadores.

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