domingo, 6 de julho de 2014

MENDONÇA DE BARROS ANTEVÊ FORTE QUEDA NA ECONOMIA

O economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do governo Fernando Henrique Cardoso, aponta, em artigo, forte desaceleração da economia. Leia a seguir: "A queda na atividade se intensifica - As informações mais recentes mostram que a atividade econômica está desacelerando muito rapidamente, mais do que o esperado. Os itens mais significativos a destacar são os seguintes: 1) As expectativas dos agentes vêm caindo acentuadamente nesta primeira parte do ano. Se compararmos o índice de junho, recém-findo, com o mesmo mês de 2013, a confiança do consumidor caiu 8%, a do comércio 7,4%, a da construção 8,9%, a do setor de serviços 9,30% e a da indústria mergulhou 16%! Não me lembro de período no qual, tanto produtores de todos os setores, como consumidores, tenham ficado tão desanimados simultaneamente. Este comportamento acaba se traduzindo numa profecia que se auto confirma: se o consumidor está reticente, vai comprar menos; se os produtores ficam pessimistas tentarão cortar custos e reduzir estoques. O resultado só pode ser uma queda na atividade. 2) A produção industrial divulgada nesta semana desabou até maio. Neste período, a indústria como um todo encolheu 1,6%, bem como todas as categorias econômicas, exceto bens não duráveis de consumo, que acumulou ganho de 1%. No caso dos bens duráveis, a queda foi extraordinária. Conforme divulgado também nesta semana, a produção de veículos encolheu quase 20% em relação a maio de 2013. Ainda assim, a escassez de clientes foi de tal natureza que os estoques se elevaram muito no varejo e na indústria, levando a um grande volume de paradas na produção. Estas decisões de ajuste de oferta/demanda, em segmentos com cadeias de produção relativamente complexas, como é o setor automotivo, sempre são tomadas apenas em último caso, em situações de forte desequilíbrio, uma vez que a redução no fluxo de produção de uma montadora exige de 60 a 90 dias para se materializar, dada a necessidade de se coordenar fornecedores e distribuidores. Outro segmento que gera preocupações é o de bens de capital, cujo resultado desabou quase 6%, entre janeiro e maio deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Seguramente, os investimentos vão continuar se contraindo, pois os dados da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) mostram uma queda no faturamento do setor de quase 14% nos primeiros cinco meses deste ano em relação a 2013. 3) Olhando para adiante, é certo que a atividade industrial continuará caindo. No setor automotivo a MB projeta para o ano uma queda de quase 10% na venda de autos e comerciais leves, de 15% na de caminhões e de 10% na de ônibus. Os estoques já acumulados garantem que um corte de produção significativo ainda será necessário. A mesma coisa vale para outros bens duráveis. Existe um fator específico neste ano a contribuir para o encolhimento da atividade industrial, que é o encarecimento do preço da energia elétrica no mercado livre, fruto da severa redução de água nos reservatórios e da intensa utilização da termoeletricidade. Como resultado, muitas empresas consumidoras intensivas em energia optaram por desligar equipamentos e vender sua eletricidade assegurada no mercado livre, a preços muito elevados. Isto fica muito claro, quando se observam (gráfico) as quedas na produção de setores de alta e média intensidade no consumo de energia elétrica. Ainda não é possível fazer uma avaliação mais cuidadosa de qual o volume de produção cortado, mas têm-se notícias de muitos desligamentos de equipamentos nos setores de metais, química, cimento, etc. Além disso, os dados de comércio exterior mostram uma apreciável redução nas exportações de produtos industriais, especialmente tendo-se em vista a crise pela qual passam vários de nossos vizinhos, como Argentina e Venezuela. É inescapável uma forte queda no produto da indústria de transformação deste ano, que projetamos ser da ordem de 3,6%. 4) Quando olhamos para o mercado de trabalho, fica claro que o efeito negativo no emprego será muito mais acentuado agora no segundo semestre. Por exemplo, se considerarmos os dados de emprego formal, mostrados pelo Caged em maio deste ano, observamos uma geração líquida (contratados menos desligados) de empregos de apenas 59 mil pessoas. A indústria reduziu seu contingente em 28 mil empregados, o comércio dispensou 1000 funcionários, a construção civil contratou 3000 e apenas os setores de serviços (mais 41 mil) e a agropecuária (mais 44 mil) contrataram de maneira mais significativa. A abertura dos dados de serviços mostra o efeito da Copa, uma vez que os itens de hospedagem e alimentação foram os mais relevantes. Entretanto, na agropecuária 65% do saldo de contratações foi de colhedores de café, atividade de curta duração, uma vez que até o fim do próximo mês, a safra já estará nos armazéns. O fato é que no segundo semestre é que ocorrerá o grosso da redução do emprego industrial e da redução do emprego na construção civil, uma vez que muitas obras ficaram prontas e terão seus canteiros desativados, como é o caso dos estádios. Além disso, o ajuste decorrente da questão da energia terá seu efeito pleno dado que a maior parte das companhias só organizou sua decisão de desligar equipamentos em março/abril. Nosso crescimento caminha para zero e não dá para culpar o resto do mundo, mesmo tendo-se em conta que a escolha de nossos parceiros comerciais preferenciais não tenha sido das mais felizes".

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