terça-feira, 1 de julho de 2014

ISRAEL E OS TRÊS ADOLESCENTES MORTOS: JÁ HÁ CERTO ESFORÇO PARA CULPAR AS VÍTIMAS E ABSOLVER OS ASSASSINOS

Bandeira de Israel na multidão que acompanhou enterro dos três jovens judeus (Finbarr O'Reilly/Reuters)
Bandeira de Israel na multidão que acompanhou enterro dos três jovens judeus(Finbarr O’Reilly/Reuters)
Uma multidão como raramente se viu em Tel-Aviv, em Israel, acorreu para as cerimônias fúnebres dos jovens Naftali Fraenkel, Gil-Ad Shaer e Eyal Yifrah, assassinados a tiros pelo Hamas. Os corpos, depois, foram queimados. O governo israelense prometeu prender os assassinos. Só para deixar claro: os alvos atacados por forças israelenses na Faixa de Gaza nada têm a ver com essa tragédia. Trata-se de uma reação ao lançamento de mísseis. Ainda não está claro qual será a resposta do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Seja lá qual for, conta com a solidariedade de um país chocado e indignado.
O Hamas, com a canalhice moral peculiar a grupos terroristas, nem assumiu nem negou a autoria dos atentados — praticado, muito provavelmente, por uma milícia sua aliada, que atua na Cisjordânia. Mundo afora, e eu não esperava outra coisa nestes dias de moral torta, os apelos por uma resposta branda de Israel são bem superiores e mais eloquentes do que a condenação ao ataque brutal. E não me venham com a história de que o repúdio a ações dessa natureza são um pressuposto. Não são, não!
Eu não tenho especial simpatia pelo atual governo Israelense e muitas das correntes que o apoiam, mas acho realmente asqueroso que se tente inverter o peso das responsabilidades. Aqui e ali já li textos sugerindo — e um colunista chega a apelar a um blogueiro judeu (claro!) para não ter de assumir ele mesmo a tese — que, não houvesse os assentamentos judaicos na Cisjordânia, coisas assim não aconteceriam. É estupefaciente! Isso corresponde a responsabilizar a vítima e a absolver o algoz. Mais: trata-se de uma mentira rematada! Basta saber o que é e o que quer o Hamas. Basta ler seu estatuto, cuja íntegra já publiquei em meu blog. Que tal isto: “Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer todos aqueles que existiram anteriormente a ele”? Bastante eloquente, não é mesmo?
Israel saiu inteiramente de Gaza, pondo a polícia contra seus próprios cidadãos para desocupar assentamentos. Obra, ora vejam!, do “falcão” Ariel Sharon, que levou a tese adiante com a oposição de importantes setores da política israelense. E o que se viu na sequência? O Hamas deu um golpe e transformou a região numa espécie de campo de treinamento do terror. Os adversários internos do Fatah não foram tratados com muito mais gentileza do que tratariam aqueles a quem chamam “sionistas”. Sem a força militar israelense, a Faixa de Gaza se converteu numa base de lançamento de mísseis. E isso é apenas um fato. Como é um fato que o tal muro fez cair drasticamente o número de atentados terroristas.
Noto também certo esforço para tentar limpar a barra de Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina e líder máximo do Fatah. Há até a conversa, veiculada pela CNN, segundo a qual um grupo chamado Ansar as-Dawla al-Islamiya, que se responsabilizou pelo ataque, teria ameaçado destruir a própria AP… Desculpem-me, mas já vivi demais para cair nessa conversa. Abbas celebrou em abril um entendimento com o Hamas. Quem se “entende” com o Hamas, sendo o grupo o que é, incorpora o terrorismo, o sequestro, as execuções sumárias — e aquele tal credo — como parte aceitável da “luta”.
É claro que os três jovens poderiam ter sido sequestrados e mortos ainda que não tivesse havido o acordo. Mas houve. “Abbas não pode ser responsabilizado por atos delinquentes isolados!”, diria alguém. Não se trata de ato isolado. O crime é parte do credo do Hamas e dos grupos sobre os quais exerce influência.
O ponto é rigorosamente este: dado o atual estágio da aproximação entre a Abbas e o Hamas, não há menor chance de avançar qualquer coisa parecida com, sei lá, prenúncios da paz. E um evento como o assassinato dos três rapazes só torna ainda mais difícil a pregação dos moderados. Eventos assim impõem que, antes de que se fale mda paz, se dê uma resposta a quem quer a guerra. e ela será dada. Por Reinaldo Azevedo

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