terça-feira, 15 de julho de 2014

DIRETOR DA CSN ALERTA EM ARTIGO QUE...... A BOLA PAROU E É HORA DE ENCARAR UMA REALIDADE NADA AGRADÁVEL, O BRASIL CAMINHA PARA UMA RECESSÃO

Artigo de Benjamim Steinbruch, diretor-presidente da CSN e primeiro-vice-presidente da Fiesp
As derrotas do Brasil e da Argentina para a Alemanha, poderosa no futebol e na economia, fizeram-me lembrar de uma brasileira, dessas senhoras que só vêem futebol durante a Copa. Com os olhos cheios de lágrimas, em 1998, quando a França derrotou o Brasil por 3 a 0, ela lamentou: “Isso é injusto, os franceses já são tão ricos, poderiam deixar pelo menos essa alegria do futebol para o povo brasileiro”. A frase se adapta agora melhor ainda à Alemanha, país riquíssimo e talvez o único da Europa que atravessa a atual crise sem grande impacto para a população. É difícil, mas necessário, escrever sobre economia em um dia como este, ainda marcado pelas repercussões da final da Copa. Mas o fato é que a bola parou e é hora de encarar uma realidade nada agradável, a de que o País caminha para uma recessão. Enquanto rolava a bola, vários indicadores foram confirmando o esfriamento da atividade em vários setores, inclusive no comércio, que deveria ser beneficiado pelo movimento de compras da Copa. A produção industrial está bastante fraca. Em todo o País, houve três quedas mensais seguidas, em março, abril e maio. O nível de maio estava 3,2% abaixo do de maio de 2013 - o emprego acompanha essa tendência. Na indústria paulista, as previsões do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp indicam que haverá redução de produção de 4,4% neste ano. É bastante provável que, em junho/julho, a indústria tenha enfraquecido ainda mais, com a atividade prejudicada pela redução da produção nos dias de jogos. Nas fábricas de veículos, houve queda de 33% na produção de junho em relação a igual mês do ano passado. No setor de serviços, ainda será preciso apurar se a demanda gerada pela Copa, especialmente em turismo, foi suficiente para compensar a paradeira em outras áreas - o turismo de negócios em São Paulo, por exemplo, caiu quase a zero. O que de fato preocupa é o comportamento adotado por parcela da opinião pública brasileira, que pouco se importa com crescimento da economia e criação de empregos. Alastrou-se a idéia conservadora de que o País precisa unicamente de corte de gastos públicos, sejam eles correntes ou de investimentos, e de uma rigorosa política monetária. Às portas da recessão, a economia brasileira convive com os juros mais altos do mundo, de 11% ao ano, nível que deve ser mantido pelo Banco Central nesta quarta-feira. E não se ouve um pio contra essa aberração. O crédito, por sua vez, deve crescer só 12% em 2014, a menor taxa de expansão em 11 anos. Enquanto isso, os juros na Europa e nos Estados Unidos continuam próximos de zero. E a presidente do banco central americano, Janet Yellen, deixa claro que não pretende aumentar a taxa para responder a um quadro de instabilidade financeira, como deseja o mercado, porque ela se preocupa com o nível de emprego nos Estados Unidos. Esqueçamos a Copa e olhemos para a frente. Já começou a campanha eleitoral e é interessante que os programas dos candidatos apresentados até agora sejam apenas discursos superficiais sobre os programas econômicos que defendem. Seria muito útil ao debate sucessório que se pudesse aprofundar desde logo a discussão em relação a pontos cruciais da condução econômica, como juros, câmbio, crédito, política fiscal e de desenvolvimento, incentivo ao capital nacional e à inovação tecnológica. Seria também muito útil que os programas pudessem dizer desde já se e como pretendem reavivar o enorme parque industrial brasileiro, já bastante diversificado e até bem distribuído geograficamente no País. A indústria vem tendo sua competitividade corroída por fatores internos, como custos do crédito, guerra fiscal entre estados, infraestrutura precária e falta de estímulo ao investimento em tecnologia. E enfrenta também obstáculos externos, como a invasão do mercado local por produtos estrangeiros, muitos carregados de subsídios na origem. A Copa ficou para trás, e agora é hora de olhar para a economia. Quem pretende lutar pelo crescimento e pela criação continuada de empregos precisa mostrar as armas e o método que vai utilizar. Não bastam discursos teóricos, que muitas vezes expõem uma clara contradição com outras posições conservadoras de assessores e apoiadores. E há providências que nem podem esperar as eleições.

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