segunda-feira, 2 de junho de 2014

RIO DE JANEIRO É TRATADA NO NOTICIÁRIO INTERNACIONAL COMO CIDADE PERIGOSA, ONDE TRAFICANTES ATUAM À VONTADE E POLICIAIS SÃO CAÇADOS

A imagem do Rio de Janeiro como uma cidade violenta começou a ser atenuada em 2008, quando surgiu a primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), notícia imediatamente seguida por uma campanha de marketing que incluía a visita de celebridades como Madonna às favelas “pacificadas”. O trabalho de convencimento de que o Rio de Janeiro mudou, e que as favelas são seguras, rolou ladeira abaixo justamente no período mais importante, a chegada dos turistas para a Copa do Mundo e a ‘época de ouro’ da cidade, sede da Olimpíada de 2016. Os esforços do governo do Estado, com apoio federal e do município (que paga a gratificação aos policiais das UPPs), foram neutralizados nos Estados Unidos e na Europa por uma sequência de reportagens que têm, como nas décadas de 1980 e 1990, o crime e a violência urbana como centro da questão. Na semana passada, a rede de TV CNN destacou, em seu site, uma reportagem que mostra traficantes armados vendendo cocaína, maconha e crack em uma favela não identificada. As câmeras também flagram o consumo de drogas à luz do dia, enquanto crianças brincam numa rua. No fim de semana, o jornal americano New York Times publicou uma reportagem, com texto e vídeo, que parte de um ponto de vista específico, a morte de mais de 100 policiais este ano, 30 deles nas favelas com UPPs. Personagens cariocas entrevistados pelo The New York Times lançam a pergunta: se a polícia não consegue proteger os policiais, como garantirá a segurança de quem visita o Rio de Janeiro? Entram, em seguida, quase todos os tipos de problemas de segurança que atormentam os cariocas, como milícias, envolvimento de policiais com o crime, abusos de policiais (como a mulher arrastada por uma viatura) e protestos contra a UPP. Nem todos estão conectados, é verdade, mas contribuem de alguma forma para o momento turbulento que a cidade atravessa, num ‘revival’ indigesto dos piores momentos da insegurança de décadas atrás. O destaque internacional para a criminalidade no Rio de Janeiro é impulsionado pela proximidade da Copa do Mundo. E, para desespero das autoridades de segurança e da população, o período coincide com uma retomada do crescimento dos índices de violência. O Mapa da Violência, estudo anual que é referência para as ocorrências de homicídios e mortes de causas externas no País, cuja edição referente a 2012 será publicada nas próximas semanas, destaca a volta do crescimento dos homicídios. O Brasil, com 29 casos para cada 100.000 habitantes, voltou ao patamar de 1980. O Rio de Janeiro registrou taxa de 28,3, idêntica à de 2011 e bem inferior à de 2002, quando era de 56,5. O governo do Estado sustenta que houve redução significativa no volume de assassinatos, com queda acentuada no período das UPPs. Mas, como destaca uma prévia do Mapa da Violência, a curva voltou a ser ascendente. Especificamente no caso do Rio de Janeiro, houve, a partir do ano passado, uma retomada da ofensiva do tráfico de drogas, com ataques sistemáticos à polícia. O The New York Times cita a jornalista carioca Roberta Trindade, que mantém um blog dedicado a acompanhar casos de grande repercussão e, em especial, as mortes de policiais. Roberta Trindade acompanha de perto os casos de policiais baleados e mortos, e passou a ser, para os próprios policiais, a referência nesse tipo de contabilidade. O blog que atualiza diariamente cita caso a caso – ou seja, não trata apenas dos números colhidos na estatística oficial. Ao longo de 2014, de acordo com essa contagem, houve 121 policiais baleados – dos quais 119 militares. Trinta morreram. Estavam trabalhando 75 deles, outros 41 foram mortos de folga, seja como vítimas da criminalidade a que estão expostos os cidadãos comuns ou executados por serem policiais, descobertos por bandidos durante um assalto, por exemplo. Mas são crimes mais leves, e mais frequentes, os que impactam diretamente na sensação de segurança da população. E nesse quesito o Rio de Janeiro vai mal. Os roubos de rua – que compreendem os assaltos, os roubos de celular e os ataques dentro do transporte público – são os que mais rapidamente se refletem no comportamento da população. Em janeiro deste ano o Rio de Janeiro bateu um recorde, com o maior índice de roubos dos últimos dez anos. Somados todos os tipos de roubo (residência, coletivos, transeuntes, carros e celulares), o primeiro mês do ano da Copa do Mundo foi o mais perigoso dos últimos dez anos, com 13.876 registros.

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