quinta-feira, 3 de abril de 2014

SÉRGIO CABRAL DEIXA O GOVERNO DO RIO DE JANEIRO PELA PORTA DOS FUNDOS

Uma carta de cinco linhas, lida às 16h35 pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Paulo Melo (PMDB), encerrou de forma discreta e melancólica a passagem de Sérgio Cabral pelo governo do Estado. Melo declarou vago o cargo de governador até as 9 horas desta sexta-feira, quando será então empossado o atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão, aposta do partido para a eleição deste ano. A renúncia atende a dois propósitos: dar visibilidade a Pezão e permitir que Cabral se candidate a deputado federal ou ao Senado – uma equação a ser discutida com o comando peemedebista, considerando a baixa popularidade do agora ex-governador. Pezão, que patina nas pesquisas de intenção de voto, tem agora a cadeira e a caneta para se fazer popular, sem o incômodo do “Fora Cabral”, grito que tomou conta das manifestações de rua iniciadas em junho do ano passado. A tarefa não é simples: nesta sexta-feira, horas depois de assumir, ele enfrentará sua primeira manifestação na condição de alvo principal dos mascarados, programada para as 18 horas, no Largo do Machado – com possibilidade de mais cenas de depredação e vandalismo nas imediações do Guanabara. O nome do protesto une, numa só frase, o trio peemedebista que comanda Estado e capital: “Cabral, vá em Paes! Pezão, bem-vindo à revolução”. Das heranças para Pezão, uma das mais indigestas é a crise em que estão mergulhadas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e a situação da segurança em todo o Estado. O mês de janeiro de 2014 foi o recordista de roubo dos últimos dez anos no Estado. As UPPs, que dominaram o programa reeleição de Cabral em 2010, são hoje um "filho problema". Mesmo em áreas da Zona Sul, consideradas mais tranquilas e onde, supostamente, o programa de “pacificação” estaria consolidado, voltaram a ter tiroteios. Na manhã de quarta-feira, dois homens foram baleados no Morro do Cantagalo – um deles, com passagem pela polícia, morreu. Houve em seguida um protesto com interdição da Estação Nossa Senhora da Paz do metrô e de uma agência do Rio Poupa Tempo. As imagens de lixo queimado em ruas de um bairro nobre são um tiro no pé da popularidade das UPPs – que dificilmente servirão à eleição de Pezão como atenderam ao objetivo de reeleger Sérgio Cabral. Apesar do tom confiante das autoridades de segurança, em especial o secretário josé Mariano Beltrame, as UPPs chegaram ao ano da Copa do Mundo pedindo ajuda às Forças Armadas – neste sábado, 2.500 homens do Exército e da Marinha vão ocupar o Complexo da Maré. A leitura óbvia é de que, sozinha, a Polícia Militar e as demais forças estaduais não conseguem mais, sozinhas, manter a situação sob controle nas favelas ocupadas – ou “pacificadas”. Em 2007, o governador tomara posse havia menos de um mês quando, em 19 de janeiro, 500 homens da Força Nacional de Segurança chegaram ao Rio de Janeiro, por determinação do então presidente Lula (o alcaguete da ditadura militar, que delatava companheiros para o Dops paulista, conforme Romeu Tuma Jr.), para enfrentar ações do crime organizado. A intervenção aconteceu a pedido de Cabral, que se aproximara de Lula no segundo turno da eleição de 2006. A derrocada na popularidade começou com a exposição das relações do governador com o empresário Fernando Cavendish, da Delta, empreiteira que dominava os contratos com o governo do Estado. Inimigos políticos liderados pelo ex-governador Anthony Garotinho divulgaram imagens de Cabral e seus secretários em um restaurante de luxo em Paris, com guardanapos na cabeça. O ponto alto da impopularidade ocorreu quando VEJA revelou as viagens de helicóptero do governador e sua família – com participação do cão de estimação Juquinha. A exposição das viagens diárias, entre o heliponto da Lagoa e o Palácio Guanabara, obrigou o governador a fazer um pedido de desculpas e a assumir que precisava de “mais humildade”.

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