quarta-feira, 16 de abril de 2014

DEPOIMENTO DE CERVERÓ TAMBÉM VIOLA A LÓGICA E É BOM PARA O GOVERNO DILMA

Pois é… Havia certa expectativa de que o depoimento de Nestor Cerveró, diretor da Área Internacional da Petrobras quando a refinaria de Pasadena foi comprada, pudesse deixar o governo numa situação um pouquinho mais difícil. Nunca foi a minha. Para que assim acontecesse, seria preciso que ele confessasse ter cometido algum deslize, mas em parceria com o Planalto, o que, obviamente, não faria porque iria se complicar do mesmo jeito. Ainda que em lugares distintos da peleja e transformado, em certa medida, em vilão pela presidente Dilma Rousseff e por Graça Foster, atual chefona da Petrobras, Cerveró fez o óbvio e lógico para os três: assegurou a absoluta lisura da operação e, insistindo na tecla de José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, acha que, apesar do prejuízo contábil, fez-se, no fim das contas um bom negócio. É hora de deixar a ingenuidade do lado de fora da sala, não? É claro que esses depoimentos estão sendo meticulosamente planejados por advogados — e não há nada de errado nisso. Veja-se no detalhe o depoimento de Graça Foster aos senadores na terça-feira: omissão culposa de Cerveró, que não incluiu as cláusulas Put Option e Marlim no resumo executivo, ela vê, sim — endossando discurso de Dilma, mas descarta a ação dolosa. Tudo se resumiu a um equívoco, que conduziu a um mau negócio. Cerveró não aceita nem isso. Diz ter omitido as cláusulas porque elas não eram importantes. Você tem algum amigo que atua próximo dessa área? Pois é… A cláusula “put option” é mesmo comum. A “Marlim” — que garantia à Astra Oil rentabilidade de 6,9% ao ano independentemente das condições de mercado, não! Em seu depoimento, Cerveró divide a responsabilidade com a direção executiva da empresa — não fez nada sozinho — e também tenta se esconder atrás do Conselho, a exemplo do que fez Dilma Rousseff. Pois é… Ocorre que esse mesmo conselho vetou a compra dos outros 50% da empresa, certo?, o que gerou a disputa judicial. E a Petrobras só teve de levar a refinaria, ao fim de tudo, por um valor superior a U$ 1,3 bilhão por causa de uma das cláusulas que o conselho desconhecia e que Cerveró julga sem importância. Essa coisa “sem importância” custou à Petrobras um desembolso superior a US$ 800 milhões, correspondentes à compra da segunda metade da refinaria. Infelizmente, a história não fecha. A exemplo de Graça, Cerveró diz não ser verdade que a Astra Oil tenha comprado todos os ativos da refinaria de Pasadena por US$ 42,5 milhões. Teriam custado, na verdade, US$ 360 milhões ao grupo belga. Tá certo. US$ 360 milhões foi o que a Petrobras pagou por apenas 50% da refinaria. Não por acaso, os belgas comemoraram o resultado excepcional e inesperado da negociação. Talvez a tal situação do “mercado’, à época, explique, então, uma valorização de 100% em menos de um ano, já que não há mercado que explique o abacaxi de US$ 1,3 bilhão. O depoimento de Cerveró não poderia ser melhor para o governo. Ele só discorda de Dilma e Graça numa coisa: essa é uma história sem culpados. Só há inocentes nesse fabuloso prejuízo. A culpa é do mercado. Por Reinaldo Azevedo

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