domingo, 2 de março de 2014

PLANILHA INDICA PROPINA DE R$ 150 MIL DA SIEMENS PARA GRUPO DE ROBERTO JEFFERSON

Planilhas que integram a ação penal que trata de corrupção nos Correios indicam que a multinacional alemã Siemens acertou pagamento de pelo menos R$ 150 mil em propina ao grupo do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) para obter um contrato com a empresa pública em 2005. Naquela época, Jefferson controlava politicamente os Correios, durante o governo petista. Foi em meio a denúncias de que estaria sendo beneficiado por desvios que o então deputado e também presidente do PTB decidiu denunciar o Mensalão do PT, esquema de pagamento de parlamentares que funcionou no primeiro mandato do ex-presidente alcaguete Lula (delator de companheiros ao DOPS paulista, durante a ditadura militar, conforme Romeu Tuma Jr). O contrato dos Correios que envolve a Siemens — que hoje também é alvo de investigações por causa do cartel que funcionou nos governos tucanos em São Paulo — tinha o valor de R$ 5,3 milhões. Ele foi firmado no governo Lula para fornecimento de sistemas eletrônicos de movimentação e triagem de carga. As planilhas que indicam o pagamento de propina foram encontradas pela Polícia Federal após apreensão dos computadores do ex-diretor da estatal Maurício Marinho, pivô do escândalo, e de outro assessor de diretoria dos Correios. Além disso, e-mails apreendidos com lobistas que atuavam na estatal mostraram que o diretor da Siemens, Luiz Cox, negociou pagamento de "comissão" para obter contrato com a estatal. Os documentos integram ação penal em que Marinho e Jefferson são réus na Justiça Federal do Distrito Federal. O ex-deputado responde por formação de quadrilha e é acusado de ser "o chefe da estrutura criminosa" que atuava nos Correios e desviava dinheiro para o PTB. Marinho é acusado dos crimes de quadrilha e corrupção. Os Correios também viram indícios de suborno em outro contrato com a Siemens, este de 2001, na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no valor de R$ 24,9 milhões. Neste contrato, as autoridades que investigaram o caso não conseguiram detectar o valor da propina. Na ocasião, os Correios eram presididos por Hassan Gebrin, indicado pelo então ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga. Pimenta hoje é o candidato tucano ao governo de Minas Gerais. Jefferson denunciou o mensalão depois que a revista Veja publicou, em maio de 2005, reportagem que abordava o esquema na estatal. A reportagem citava vídeo em que Maurício Marinho recebia R$ 3 mil de propina de um empresário. O funcionário dos Correios também revelava ser apadrinhado por Jefferson. Três semanas depois, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Jefferson revelaria o Mensalão do PT. O ex-deputado alegaria ter visto digitais do ex-ministro José Dirceu, atualmente também preso, no vazamento do vídeo. Jefferson acreditava que o PT desejava de ocupar o espaço do PTB nos Correios, daí porque o partido, em seu entender, tentava rifá-lo incriminando um apadrinhado dele. Ainda em 2005, a Polícia Federal faria uma operação para desmontar o esquema na estatal. Além do material apreendido nos Correios, a polícia também aprendeu computadores de lobistas que, segundo o Ministério Público Federal, cooptavam empregados da estatal para obter informações privilegiadas sobre licitações e se associavam com empresas para fraudar as concorrências. Os lobistas José Santos Fortuna e Clauzer Esteves, sócios da empresa Atrium, viriam a ser denunciados em outra ação penal também por desvio de dinheiro dos Correios. Em seus computadores, a Polícia Federal encontrou e-mails trocados com o diretor da Siemens, Luiz Cox, que assinou o contrato de 2005. Em e-mail datado de 3 de julho de 2004, Cox -atualmente gerente de soluções inteligentes de tráfego da empresa - escreveu para os lobistas: "propomos reduzir o valor mínimo necessário para que participemos do processo de 5.4 para 5.3 (excluída a comissão, que neste caso poderia até ser um pouco maior se as devidas previdências forem tomadas". No material apreendido os lobistas também escreveram ter recebido "comissão" por ajudar a Siemens em negócios. "Fiz uma negociação com a Siemens. Ganhei uma comissão por ajudá-los em um negócio que precisava de uma intermediação", escreveu um deles. Os Correios também encontraram documentos que mostravam troca de informações da Siemens com os lobistas sobre o contrato de 2001.

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