domingo, 2 de fevereiro de 2014

SATÉLITE ESTUDARÁ UM BILHÃO DE ESTRELAS PARA FORMAR O MAPA DA VIA LÁCTEA

Um mapa tridimensional da Via Láctea começa a ser produzido por um dos objetos mais caros e avançados já lançados pelo ser humano ao espaço. Embora superlativos, os números não dão conta de dimensionar o verdadeiro tamanho da empreitada: 1 bilhão de estrelas investigadas, centenas de pesquisadores de diversos países envolvidos e 1 bilhão de euros (cerca de R$ 3,3 bilhões) investidos. Esses esforços financeiros e científicos foram necessários para a concretização da Gaia, missão da Agência Espacial Européia que atingiu sua órbita em janeiro para revelar, a partir de agora, a composição, a formação e a evolução da nossa galáxia. Além da quantidade de estrelas monitoradas, cerca de 1 bilhão, a missão se diferencia pela qualidade dessa observação. “Isto é, a precisão com que realizará medidas astrométricas, fotométricas e espectroscópicas. Os dados irão solucionar um problema fundamental de toda a astronomia, que é o conhecimento das distâncias dos astros de maneira confiável. Sem o conhecimento das distâncias, não podemos converter aquilo que observamos, aparente, em absoluto. Em resumo, o Gaia nos revelará o Universo em três dimensões”, descreve Ramachrisna Teixeira, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). O professor explica: “Para se ter uma boa idéia, basta lembrar que atualmente conhecemos bem a distância de aproximadamente 30 mil estrelas e passaremos a 150 milhões. Ou ainda, atualmente conhecemos muito bem a posição de aproximadamente 700 estrelas e passaremos a 18 milhões”. Os primeiros resultados do Gaia deverão aparecer por volta de 2017, e os resultados definitivos, em 2020. Equipado com dois telescópios, fotômetros azuis e vermelhos e espectrômetro de velocidade radial, o satélite não enviará imagens à Terra, e sim números que representam a intensidade de luz e as posições relativas das fontes, elucida Teixeira: “Com o nível de precisão do Gaia, muitas novidades em termos da origem, estrutura e evolução da Galáxia e das estrelas são esperadas”. O grupo dos professores brasileiros, inserido na unidade de processamento de objetos do DPAC (Consórcio de Análise e Processamento de Dados), tem como objetivo o aproveitamento científico dos objetos extensos como galáxias e nebulosas planetárias, que serão detectados pelo satélite. Teixeira co-orientou, em conjunto com Christine Ducourant (Observatório de Bordeaux), uma tese de doutorado no IAG sobre o tratamento e a análise de dados que podem ser obtidos com o Gaia. A pesquisa levou o aluno Alberto Krone Martins para Lisboa, onde desenvolve seu trabalho com cientistas europeus. Para o professor, essa colaboração entre diferentes países em prol da ciência é um dos aspectos mais relevantes da missão. Em janeiro o satélite europeu chegou a sua órbita planejada, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra (no sentido contrário ao do Sol).

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