sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

CINEGRAFISTA FERIDO - NÃO É ASSIM QUE SE FAZ, GLOBONEWS! NÃO É ASSIM QUE SE FAZ, "BOM DIA BRASIL"! E É EVIDENTE QUE TODOS POR LÁ SABEM DISSO. ESPEREMOS O PEDIDO DE DESCULPA!

Partiu de um repórter da GloboNews, Bernardo Menezes — e espero que o fato lhe sirva de lição e a quem deu curso à informação falsa que ele veiculou sem uma verificação mínima —, a afirmação de que o artefato explosivo que atingiu a cabeça do cinegrafista Santiago Andrade tinha partido da polícia.

Infelizmente, a informação foi reproduzida ainda nesta manhã no ‘Bom Dia Brasil”, aí da Rede Globo. O conjunto da obra é tecnicamente indesculpável (vídeo aqui). Sabem por quê?
As primeiras fotos que vieram a púbico sobre a agressão são da Agência Globo. Foi com base nelas que escrevi meu texto assegurando — por óbvio — que aquele troço não poderia ser uma bomba de gás ou uma bomba de efeito moral. Quem conhece os dois artefatos sabe que não produzem aquele tipo de luz, de faíscas, de fragmentos.
Eu conheço porque já enfrentei as duas. Mas ninguém precisa apanhar da polícia ou enfrentar bombas para conhecê-las. Basta a prudência. E, ouso dizer, é preciso ir para as suas também com o espírito desarmado. Acho que jornalistas estão tão viciados em chamar manifestações violentas de “pacíficas” que já não conseguem enxergar o que ocorre. A ideologia — ou o preconceito — faz mais mal à visão do que a minha espetacular miopia.
E que se note: eu não neguei que fosse bomba só com base na minha “experiência”. Se a gente não toma cuidado, nada distorce tanto a verdade como estar no lugar em que os fatos acontecem. Um jornalista que estivesse em Dresden quando houve o ataque dos Aliados poderia ter a impressão de que os nazistas eram as vítimas na Segunda Guerra, não é? Espalhe repórteres entre os alvos de Bashar Al Assad, e ele parecerá o carniceiro que é. Como não os há entre as alvos de seus opositores, estes não parecem os carniceiros que também são. Mesmo tendo a certeza de que aquilo não era bomba de gás, de que não era bomba de efeito moral, tomei o cuidado de perguntar a dois policiais.
Não quero satanizar ninguém, não! Aqueles que deixaram a informação de Andrade ir ao ar, sem a devida checagem, devem dividir com ele a responsabilidade.
Coisas estranhas
Aliás, sabem onde li primeiro que NÃO ERA UMA BOMBA DA POLÍCIA??? Na edição online de “O Globo”, logo depois do fato. Sim, senhores! Aliás, havia lá também o testemunho de um repórter do jornal. Ele vira o artefato partir de um black bloc. MINUTOS DEPOIS, A INFORMAÇÃO DESAPARECEU DO SITE.
Ou seja: entre a versão daquele que viu a bomba (que bomba não era) partir da polícia e a daquele que vira o explosivo partir de um black bloc, o primeiro ganhou. Afinal, ele tinha a narrativa pior para as “forças da repressão”, né?. A Abraji, que se intitula — e acredito que seja — uma associação de jornalistas “INVESTIGATIVOS”, preferiu emitir uma nota toda ambígua, sem investigar minimamente as imagens.
Eu publiquei um post às 22h52 evidenciando por que aquela coisa não poderia ter partido da polícia. Às 4h29 desta madrugada, lamentava a covardia da imprensa, que se negava a reconhecer o óbvio. O “Bom Dia Brasil” foi ao ar, sei lá, às seis e pouco da manhã. Já dava tempo, creio, não de ter me lido (os jornalistas da Globo certamente têm mais o que fazer), mas de ter visto as fotos e consultado alguns especialistas.
No texto que escrevi ontem e no comentário que fiz hoje de manhã na Jovem Pan, lamentarei que a própria Band, em nota, tivesse flertado com a possibilidade de ser uma bomba da polícia.
Não sei como as duas emissoras vão se desculpar. Sei que devem desculpas: aos telespectadores e à Polícia Militar. O erro de visão e de jornalismo é grave porque muda a autoria de um crime grotesco, que ainda pode vir a ser um assassinato. De resto, trata-se de uma agressão à imprensa livre.
Para encerrar
Ouso dizer que algo assim estava pipocando na área, pronto para acontecer. Infelizmente, a indisposição dos jornalistas, especialmente das TVs, com as Polícias e a determinação de tratar arruaceiros como manifestantes, sob a patrulha severa de milícias nas redes sociais, acabaria dando nisso. Esse tipo de comportamento não colabora para melhorar nem o jornalismo nem a democracia.
Não sou Catão de ninguém nem me atribuo esse papel. Mas conviria que o jornalismo brasileiro voltasse ao livro texto da Constituição. Liberdade de manifestação não se confunde com baderna.
Tenho a certeza de que haverá um claro e inequívoco pedido de desculpas. Por Reinaldo Azevedo

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