quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

ESTADO POLICIAL 3 - A SELETIVIDADE DA POLÍCIA DE JOSÉ EDUARDO CARDOZO E O JEITO GILBERTO CARVALHO DE DAR NOTÍCIAS

Estado policial é aquele em que o poder de investigação é posto não a serviço da verdade ou da sociedade, mas de quem está no poder. Gilberto Carvalho já anunciou para a imprensa qual é o modelo de jornalismo de que ele gosta. É o do Estadão. Sem dúvida, a gente nota que o jornal tem acesso a informações sigilosas tanto do Cade como da PF. Pode ser mérito. Por estar tão atilado e ligado ao caso é que pergunto: a reportagem ignorava estas informações, publicadas na seção “Painel” da Folha nesta quarta? Leiam com atenção. Volto em seguida.

Dois guichês
João Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) condenado na Suíça por lavagem de dinheiro e indiciado no Brasil sob suspeita de atuar em cartel em contratos de trens em São Paulo, também recebeu da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), empresa de economia mista ligada ao governo federal. A Focco, empresa da qual Zaniboni era sócio até agosto, tem contrato de R$ 4,6 milhões para consultorias em obras de metrô que integram o PAC.
Escopo
A Focco tem 50% de participação no consórcio contratado em dezembro de 2012 para fazer consultoria técnica, apoio ao gerenciamento e supervisão dos contratos de fornecimento de equipamentos para as regionais da CBTU em Belo Horizonte, Natal e João Pessoa.
Em caixa
Segundo o advogado de Zaniboni, Luiz Fernando Pacheco, a empresa recebeu R$ 500 mil, ou 24,5% de sua parte do contrato. O relatório de gestão da CBTU informa que os R$ 4,6 milhões já foram empenhados e liberados e estão inscritos nos restos a pagar de 2012.
De fora
O contrato com a CBTU não apareceu até agora nem no inquérito da Polícia Federal, no qual a Focco e Zaniboni são citados, nem na apuração aberta pelo Cade sobre cartel. A empresa está com bens bloqueados em função das investigações sobre contratos em São Paulo.
RetomoEntenderam? Quando o tal Zaniboni trabalha para uma empresa sob gestão tucana, ele é lobista; quando atua para uma empresa sob gestão petista, aí ele é “consultor”. Uma questão com essa importância não chegou a uma reportagem que sabe tudo do caso? Para a Polícia Federal, Arthur Teixeira, outro dos investigados no caso, é “lobista”. Encontros sociais com tucanos foram usados como indício de ação criminosa. Muito bem: Teixeira se encontrou com Cardozo. No depoimento do ministro à Câmara, os deputados lhe perguntaram se ele esteve mesmo com Teixeira “em 2003, 2004, 2005…”. A todas as perguntas, o ministro respondeu com um “pode ser”. O Estadão não deu uma linha a respeito. Julgou que não é notícia. O jornal usado por Gilberto Carvalho como referência também não deu atenção (não a compatível com o resto) aos indícios de cartel na construção dos metrôs de Porto Alegre e Belo Horizonte. São contratos no valor de R$ 244 milhões e R$ 172 milhões, celebrados pela CBTU, uma estatal federal, aquela mesma de que Zaniboni é consultor. Se quiserem ler mais a respeito, seguem dois links. Volto depois.

Um milagre do PT – O metrô que liga Belo Horizonte a Porto Alegre

A grande diferençaSe eu fizesse aqui, para o “outro lado”, o trabalho que faz a subimprensa suja e financiada para o PT, estaria a negar de pés juntos que tenha havido irregularidade em São Paulo, assegurando que são todos inocentes e professores de Educação Moral e Cívica. Uma ova! Que se investigue tudo e que os culpados, se houver, paguem. A minha questão é outra desde sempre:
1: acuso, sim, o direcionamento das investigações;
2: esse direcionamento se revela por meio de vazamentos cuidadosamente planejados, oriundos do Cade e da Polícia Federal;
3: personagens que aparecem como “lobistas” na investigação da PF também atuaram para a estatal federal, e não há investigação a respeito;
4: os indícios de cartel nos metrôs de Porto Alegre e Belo Horizonte são gritantes, e isso não gera nem notícia;
5: a Siemens, que assinou o acordo de leniência, é uma das maiores fornecedoras de estatais federais, especialmente na área de energia, e não há qualquer apuração em curso. Segundo o governo, é porque não há “denúncia”. Certo! E qual é a origem da denúncia em São Paulo? O PT.
6: os diretores da Siemens que assinaram o acordo de leniência com o Cade celebraram 30 contratos com o governo federal. Nada está sendo investigado.
Ainda que fossem todos culpados em São Paulo, o “estado policial” estaria caracterizado do mesmo jeito. Porque também é próprio de um estado policial punir os bandidos alheios, mas preservar os próprios. Gilberto Carvalho,  o ombudsman da imprensa, diz qual é o seu gosto. Por Reinaldo Azevedo

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