segunda-feira, 7 de outubro de 2013

PARA O IPEA, BRASIL NÃO ESTÁ EM FASE DE PLENO EMPREGO

Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) disseram os dados divulgados recentemente pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicilio (Pnad) referentes a 2012 não indicam uma fase de pleno emprego, como tem sido divulgado pelo governo. De acordo com Marcelo Néri, presidente do Ipea e ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), a queda da participação de jovens no mercado de trabalho mostra que há espaço para expansão da oferta. O Ipea emitiu um comunicado nesta segunda-feira sobre o mercado de trabalho a partir dos dados da Pnad, divulgada em setembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo Néri, os dados da Pnad mostram desaceleração no mercado de trabalho — e não o pleno emprego. “A taxa de desemprego é muito baixa, mas a taxa de participação entre os que estão em idade produtiva e poderiam entrar no mercado de trabalho continua baixa e pode ser ampliada, especialmente entre as mulheres e os jovens entre 15 e 24 anos. Com isso, diminuiria um pouco a pressão sobre o mercado de trabalho”, disse Neri. Segundo ele, a queda da participação dos jovens no mercado ocorre desde 2009. Entre 2009 e 2012, a taxa de participação entre as mulheres caiu 4,2%, contra 2,5% dos homens. Já entre os jovens na faixa de 15 a 24 anos, a queda foi de 5,9%. O estudo revelou também que, no mesmo período, aumentou o número de jovens nessa faixa etária fora do mercado de trabalho e da escola. Cerca de 23,2% dos jovens não estavam na escola nem trabalhando em 1999, e essa relação aumentou para 25,7% em 2012. Entre as mulheres, esse porcentual era de 38,4% e, em 1999 passou para 40,6%. Entre as categorias em que houve maior aumento de renda, segundo o estudo, estão agricultura, construção civil e serviços, onde estão incluídos as empregados domésticos. O aumento de renda estaria associado a uma melhor escolarização, na visão de Néri: "É um bônus educacional, o trabalhador saiu de um nível muito baixo de qualificação para um menos baixo". A consequência do movimento seria um "apagão" de mão de obra de baixa qualificação. A avaliação é radicalmente contrária à idéia difundida entre empresários de que há escassez de mão de obra qualificada no País. "Entre as pessoas com baixa qualificação, o salário está aumentando, pela redução da oferta. É um processo retardado, o País começou a viver isso em 2001. Talvez seja um sinal de que o Brasil não está dando um salto tecnológico. O grande apagão é de gente pouco qualificada". Segundo Ulyssea, os dados do IBGE demonstram que há um aumento da oferta de trabalho para as categorias mais qualificadas: "O quantitativo dos trabalhadores qualificados vem aumentando acima dos não qualificados. Outro fator é a evolução da renda da mão de obra qualificada, que está em queda. Isso é coerente com o aumento da oferta de mão de obra. Essas duas características são incompatíveis com a idéia de escassez". O estudo mostrou também que, atualmente, o gargalo para uma maior expansão no mercado de trabalho é a queda na taxa de participação da população em idade produtiva. A taxa se refere à relação entre a população inserida no mercado e o total da população em idade produtiva. O problema atinge, sobretudo, mulheres e jovens entre 15 e 24 anos que não estão no mercado ou em busca de uma ocupação. Entre 2009 e 2012, a taxa de participação entre as mulheres caiu 4,2%, contra 2,5% dos homens. Já entre os jovens nessa faixa etária, a queda foi de 5,9%. "É surpreendente, pois acontece no momento de melhora no mercado, quando deveria ter maior atratividade", explica Néri. Segundo ele, em 2012, o mercado de trabalho cresceu 6,45%, ou "duas vezes mais rápido que em toda a década (3,08%), o que surpreende dado que o PIB cresceu apenas 0,9%". Para Gabriel Ulyssea, coordenador de pesquisas em trabalho e renda do instituto, a queda chama atenção pela intensidade em curto intervalo de tempo e "preocupa, pois tira a possibilidade de aumento na oferta de mão de obra". No caso das mulheres, a razão apontada é uma saída do mercado de trabalho pela decisão de ter de cuidar dos filhos. "Nesse sentido, a provisão de creches terá papel importante no futuro", explica Ulyssea. Para os jovens, o pesquisador afirma que não há clareza sobre as causas do fenômeno: "É possível que esteja relacionado ao aumento de renda por outras vias que não o trabalho, isso inclui os programas sociais. Mas o fato de a queda ter sido mais intensa no Nordeste é um fator que demonstra a influência de ações sociais nesse tema".

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