segunda-feira, 16 de setembro de 2013

SEGUNDO A POLÍCIA FEDERAL, GILBERTO CARVALHO ERA O INTERLOCUTOR DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA QUE DESVIOU R$ 18 MILHÕES DO MINISTÉRIO DO TRABALHO

A organização criminosa que desviou R$ 18 milhões de um convênio com o Ministério do Trabalho buscou apoio e incentivo do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para tentar obter aditamentos e novos repasses de verbas para o Centro de Atendimento ao Trabalhador (Ceat), ONG que teria se transformado no reduto da quadrilha. Relatório da Operação Pronto Emprego, da Polícia Federal, deflagrada dia 3 em São Paulo, revela que o ministro era tratado pela quadrilha como seu "interlocutor" na pasta do Trabalho. Interceptações telefônicas mostram que, em maio, o grupo estava preocupado com perda de espaço no ministério e com uma divisão na cúpula da pasta. "Gilberto Carvalho irá resolver isso", diz Jorgette Maria Oliveira, presidente da ONG, em ligação gravada. Gilberto Carvalho recebeu em seu gabinete muitas vezes o padre Lício de Araújo Vale, a quem a Polícia Federal atribui papel destacado na quadrilha, "articulador dos constantes aditamentos irregulares junto ao Ministério do Trabalho". Outros dois personagens centrais da trama foram recebidos por Gilberto Carvalho - Jorgette e o advogado Alessandro Rodrigues Vieira, diretor jurídico da ONG. O relatório da Polícia Federal, de 192 páginas com fotos, organogramas e planilhas da evolução patrimonial dos investigados, descreve os movimentos da organização e o assédio sobre o ministro. "É bastante comum a dupla (Vieira e Padre Lício) ir a Brasília para tratar da renovação junto a funcionários de alto escalão do Ministério do Trabalho e da Secretaria-Geral da Presidência da República", diz o documento, à página 82. A ONG foi criada pela Arquidiocese de São Paulo, em 2002. Depois, desvinculou-se da Cúria e virou Organização da Sociedade Civil de Interesse Público para capacitação de trabalhadores. Em 2008, firmou convênio com o Ministério do Trabalho. O escoadouro do dinheiro público, diz a Polícia Federa, se deu por meio de aditamentos. Nessa fase a organização pediu colaboração de Gilberto Carvalho e corrompeu assessores da pasta: Gleide Santos Costa, da Secretaria de Políticas Públicas do ministério, foi preso em flagrante com R$ 30 mil que recebera de Jorgette. Grampo de 20 de maio, às 11h43, pegou Jorgette e Gleide. Ela diz que irá a uma reunião no gabinete de Gilberto Carvalho. Às 12h42, Jorgette conversa com Alessandro Vieira. Ele conta que se encontrou com o secretário executivo do Trabalho, Paulo Roberto dos Santos (que caiu na Operação Esopo), e que este pediu a Gleide que providenciasse a renovação do convênio. Vieira diz que "seria melhor ganhar a simpatia do ministro Manoel Dias (Trabalho) por intermédio de Gilberto Carvalho". Vieira diz que Paulo Roberto seria "o 'gatilho' do ex-ministro Carlos Lupi dentro do Ministério do Trabalho". A Polícia Federal diz que padre Lício é "sacerdote e empresário, sócio do Centro Brasil do Trabalho, que não existe de fato, e recebeu R$ 1,26 milhão do Ceat, recursos desviados por meio de prestação de serviços fictícios". À página 62, o relatório mostra que Jorgette foi informada de fiscalização do TCU na ONG e ficou tensa. "A minha grande questão é, eles vão só na gente ou vão nos clientes também, nos terceirizados?" É citado Rodolfo Torelly, diretor do Departamento de Emprego e Salário do Trabalho. Ele alerta Jorgette "sobre resistências dentro do ministério, entre o grupo de Paulo Roberto e o grupo do Manoel Dias". Ressalta a "importância de se aproximar de Manoel Dias". Ela se diz confiante: "Gilberto Carvalho irá resolver isso". No dia 4 de junho, às 15h25, Jorgette comenta com o padre que Manoel Dias "não está se aproximando" do Ceat porque seriam ligados a Lupi. "Está na hora do Gilberto Carvalho falar com o Manoel Dias e informar que o Ceat é do governo", diz a presidente da ONG. Ela orienta o religioso a falar com Carvalho e pedir que os ajudem porque "existe uma divisão no ministério e, de alguma forma equivocada, os associaram ao Lupi". Jorgette recomenda ao padre que diga a Carvalho que "não são ligados a ninguém, a não ser ao próprio governo, ao ministro e ao ex-presidente Lula". Dia 5, às 11h11, da antessala de Carvalho, Lício telefona para Jorgette e diz que, enquanto aguardava ser atendido, encontrou-se com Manoel Dias e o convidou para visitar a entidade. O padre afirma que "o interlocutor do Ceat é Gilberto Carvalho". Depois, comenta que pediu a Carvalho para "dar um toque no Manoel Dias, pois ele acha que o Ceat é ligado ao Lupi". (Estadão)

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