sexta-feira, 13 de setembro de 2013

"AH, QUERIA SÓ VER SE FOSSE COM A SUA MÃE...."

Quase deixo de comentar um momento, vamos dizer, infantiloide do ministro Roberto Barroso no julgamento de quinta-feira. Ao evidenciar como ele se preocupa com as pessoas, lembrou na altercação com Marco Aurélio que as pessoas que cobram severidade da Justiça logo mudam de ideia se um parente seu é réu. Ulalá! Quando eu era professor de redação e temas polêmicos suscitavam debates, não raro um aluno indagava: “Reinaldo, você é a favor ou contra a pena de morte?”. E eu: “Contra!”. Quase fatalmente vinha a suposta contradita: “Ah, mas se um parente seu fosse vítima…”. Aí vinha o longo percurso para explicar a diferença entre justiça e vingança; entre um julgamento feito segundo as regras do estado de direito e o linchamento; entre a pena de morte e a legítima defesa… Mas notem: eu lidava com adolescentes. Barroso deve ter lido “Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão”, de Schopenhauer, e deve ter adotado os 38 estratagemas como táticas virtuosas. A resposta de Marco Aurélio foi excelente: “Não me impressiona o transporte da situação enfrentada para o campo familiar, mesmo porque, se parente até o terceiro grau (fosse), eu não poderia julgar. (…)” Assim caminhamos… Ainda haverá a hora em que alguém da suprema corte brasileira vai dizer: “Ah, queria só ver se fosse com a sua mãe…”. Para registro: Marco Aurélio é primo distante de Collor — de quarto grau, acho. Mesmo assim, já ministro do Supremo, declarou-se impedido de participar do julgamento do ex-presidente, em 1994. Por Reinaldo Azevedo

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