sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A QUADRILHA DOS PATRIOTAS QUE FOI EMPRESTAR SEU APOIO A JOSÉ DIRCEU. OU: "PRESO POLÍTICO" EM DEMOCRACIAS OU É TERRORISTA OU É GOLPISTA

No Brasil, algumas coisas são santas, e, diante delas, a gente deve se persignar: opiniões do Caetano Veloso, do Chico Buarque e do Wagner Moura; defensores do aborto e da legalização das drogas; os apocalípticos do aquecimento global e inimigos do agronegócio; os militantes em favor da ampliação das reservas indígenas (que já ocupam 13% do território nacional, para abrigar menos de 600 mil índios — uma parcela dos que se identificam assim não vive em reservas) e, deixem-me ver… Lembrei! É preciso também curtir “aquele japonês” de vez em quando — refiro-me a um restaurante, claro! Se a ideia de comer peixe cru com nabo ralado não excita a sua inteligência, meu amigo, é inútil esperar que seja o paladar a fazê-lo. E é preciso também chamar todos esses burgueses dos capital alheio, que atendem pelo nome de “movimentos sociais”, de “defensores da democracia”. Os movimentos sociais, com algumas exceções, são apenas uma das fachadas de um partido político — no caso, o PT. As exceções ficam por conta dos movimentos sociais que são fachada do PSOL, do PSTU e de outros menos cotados e votados. Vale também para boa parte dos sindicatos. Vejam o caso da deputada estadual Janira Rocha, do PSOL do Rio. A valente confessa que usou dinheiro do Sindsprevi para financiar a sua campanha eleitoral, a campanha eleitoral de outros colegas de legenda e para criar o próprio partido. Mas isso tudo a propósito de quê? O quadrilheiro José Dirceu, também condenado como corruptor, reuniu nesta quinta, no salão de festas do prédio em que mora, uma legião de bravos. Estavam lá para assistir à sessão do STF, assim como pessoas de bem se encontram para acompanhar a premiação do Oscar ou os jogos da Seleção durante a Copa do Mundo. Compareceram, além de familiares e ex-mulheres, o escritor Fernando Morais, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, a diretora de cinema Tata Amaral, a jornalista Hildegard Angel, o deputado estadual Adriano Diogo (PT), o ex-prefeito petista de Osasco Emídio de Souza, o crítico de cinema Jean-Claude Bernardet e, não podiam faltar, o presidente da CUT, Vagner Freitas, e o chefão do MST, João Pedro Stedile. Este vive meio às turras com o PT e o governo Dilma, mas não é burro. Que fauna curiosa! Tirem dali os sindicalistas que sempre foram tentáculos do PT e os que costumam depender da boa vontade de verbas púbicas para existir (Stedile inclusive) e vejam o que sobra. Nada! Nem mesmo os familiares e ex-mulheres podiam ser computados nesse resto desinteressado, já que Dirceu, como é sabido, é a cornucópia que expele as condições materiais que garantem à grei a vida confortável. João Pedro Stedile, por intermédio do Levante Popular da Juventude — que é, assim, uma espécie de “ala jovem e contemporânea” do MST; eles estão quase chegando à década de 60; com mais uns 40 anos, vão se aproximar dos CPCs da UNE… —, promoveu dia desses uma manifestação em São Paulo contra a Siemens e coisa e tal. Entendi. João Pedro Stedile põe os seus abduzidos para protestar contra o que ainda é uma acusação de corrupção, mas vai prestar à sua solidariedade a Dirceu, um condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha. É a quadrilha dos patriotas. Se Lewandowski tivesse conseguido liderar, nesta quinta, o levante em favor da redução da pena de formação de quadrilha, livrando Dirceu do regime fechado, haveria uma festa e declarações grandiloquentes em favor da resistência. Se o julgamento tivesse acabado, confirmando a pena que levará à prisão, então, cercado desses bravos, Dirceu se declararia, como sugeriu que o fará, um preso político. “Preso político” em regime democrático? Só conheço duas modalidades: golpistas da democracia e terroristas. Considerando a natureza do mensalão, talvez o marketing do martírio faça um insuspeitado sentido: afinal, o mensalão foi mesmo uma tentativa de golpe. Por Reinaldo Azevedo

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