segunda-feira, 26 de agosto de 2013

SIRIA - CABE PERGUNTAR: A QUEM INTERESSAM OS ATAQUES? ASSAD SOBREVIVERIA A UMA INTERVENÇÃO?

Levei pancadas de alguns leitores porque desconfiei da versão apresentada pela oposição síria no caso de um possível ataque com armas químicas ocorrida na periferia de Damasco. Vamos ver se os inspetores conseguem colher alguma evidência. O fato é que a situação fica, a cada hora, mais esquisita. Por mais que Bashar Al Assad, o presidente do país, seja um ditador, um tirano, custa crer que seja estúpido a ponto de autorizar um ataque dessa natureza quando está na ofensiva, recuperando terreno. O presidente dos EUA, Barack Obama, já deixou claro que não haverá intervenção no país sem um amplo apoio internacional. Isso significaria, hoje, quando menos, a neutralidade da Rússia, que, por enquanto, se opõe à ação e sustenta a posição de Assad. O governo sírio finalmente aceitou a inspeção. A caminho do local do suposto ataque, carros em que seguiam os agentes da ONU foram alvos de franco-atiradores. Se um ataque com armas químicas determinado pelo governo — quando representantes das Nações Unidas estavam no país — seria evidência de uma estupidez sem- par, alvejar os inspetores parece ainda mais cretino. Pode-se acusar Assad de tudo, menos de não ser esperto — brutal, mas esperto. Caberia ainda indagar a efetividade daquele ataque químico, asqueroso em si, mas militarmente irrelevante. Além de matar eventualmente algumas centenas de pessoas, todas civis, serve a que propósito. Terroristas, especialmente as facções jihadistas ou delas próximas, usam civis, em particular mulheres e crianças, como escudo onde quer que atuem. Isso dá conta da importância que dispensam a essas vidas. A lógica — que pode não funcionar no inferno, sei disso — aponta muito mais para a responsabilidade de que extremistas que compõem a oposição armada. Pesquisem o noticiário: não seria a primeira vez. Uma intervenção em larga escala na Síria é o barril de pólvora de que precisam os extremistas no Oriente Médio. Liquidado o governo Assad, os grupos que seguirão armados (e a gente sabe que as armas, nesses casos, não são entregues; vejam o caso da Líbia) darão início imediatamente à campanha para que as forças estrangeiras deixem o país. A oposição desarmada, por óbvio, não terá como sustentar um governo. O Exército regular, comandado pelos alauítas (a minoria a que pertence Assad) vai se desintegrar. A Síria tenderia a se transformar num campo de guerra de facções terroristas, ali mesmo, na fronteira com Israel. Se a situação hoje é caótica, aí, parece, seria o caos propriamente dito. Pensem na situação anterior ao ataque: dada a guerra civil, quem estava em posição mais confortável e recuperando terreno? A intervenção já havia saído do radar de possibilidades dos países ocidentais; depois dele, voltou a ser debatida. Nem sempre quem lucra com um determinado evento responde por ele. Nesse caso, é prudente, sim, perguntar a quem interessava o morticínio. Até porque, por óbvio, Assad não teria futuro no caso de uma intervenção. Ele sabe disso. E os que se opõem a ele também. Não! Não estou afirmando que foi um grupo de oposição. Se os EUA não sabem, não serei eu a saber. O que afirmo, sim, e que é difícil saber quem é mais asqueroso por ali: Assad ou quem tenta derrubá-lo. E uma coisa dá para saber, aí sem dúvida nenhuma: para o Oriente Médio, os que lutam contra o ditador são muito mais perigosos. Por Reinaldo Azevedo

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