terça-feira, 6 de agosto de 2013

O PETISTA EUGÊNIO BUCCI, DE COLARINHO FECHADO, DE COLARINHO FECHADO, EXIBE A CUECA METAFÓRICA DA IRRESPONSABILIDADE, JUSTIFICA O VANDALISMO E TENTA CONFUNDIR O PÚBLICO CRITICANDO ALGUMAS CORRENTES DE ESQUERDA. MAS NÃO CONFUNDE ESTE BLOG! PIOR: NÃO CENSURA A VIOLÊNCIA DE QUE JORNALISTAS SÃO VÍTIMAS E AINDA TENTA TIRAR UM SARRINHO DA GLOBO

Eugênio Bucci, professor do Departamento de Jornalismo da ECA (USP), é um velho conhecido deste blog. Já escrevi sobre o seu especioso pensamento. Ex-presidente da Radiobrás (primeira gestão de Lula), trata-se, faço-lhe justiça, de um homem bastante injustiçado por certas correntes do petismo, que o criticam. Por quê? Porque esses críticos ignoram que ele é tão autoritário quanto eles próprios, ou mais, só que de uma variante mais sofisticada. Trata-se de um autoritarismo sutil, quase sempre gentil, que se faz passar por apreço à pluralidade. Dou um exemplo: Bucci se alinha com aqueles que repudiam o controle social da mídia feito pelo estado, como querem as hostes de José Dirceu, por exemplo. Mas atenção! Não é por amor à democracia, não! Ocorre que ele é inteligente o bastante para saber que a censura, da forma como pretendem os brucutus, dificilmente se realizará. O seu jogo é mais sutil. Ele era um dos entrevistadores da dupla da Mídia Ninja no Roda Viva de segunda-feira. Envergava o seu modelito habitual: colarinho fechado, sem gravata, que herdou lá dos tempos do grupamento trotskista “Liberdade e Luta” (a Libelu). Também cheguei a fazer essa figura. Depois, aconteceu de um ficar mais maduro e passou ou a usar a gravata ou a abrir o colarinho. Bucci continua fiel a uma estética, eventualmente a uma ética também… Como dizem as minhas filhas, esse negócio de “causar” fica bem até certa idade… Sim, o colarinho estava fechado, mas Bucci não resistiu à tentação, metaforicamente falando, de exibir o elástico da cueca, demonstrando ser um “tio” moderno, compreendem?, que entende a lógica dos jovens — já meio velhuscos — que ele entrevistava. Aliás, antes que prossiga, estendo-me um tantinho só neste parêntese. Certos setores da imprensa tratam a Mídia Ninja como coisa da “molecada”. Calma lá! Pablo Capilé, o Schopenhauer deles, tem 32 anos. Bruno Torturra anda por aí. A tal Mídia Ninja não é coisa de adolescentes criativos, mas de gente adulta, que escolheu uma forma de intervenção política. Fecho o parêntese. Volto a Eugênio Bucci. Vandalismo Já chamei a atenção para o fato de que Torturra se negou a condenar o vandalismo. Mais do que isso: ele o justificou. Aí chegou a vez de Bucci falar. A sua intervenção saiu um pouco troncha, com alguns anacolutos, mas o sentido foi de uma clareza espantosa. Transcrevo a sua fala a partir de 1h05min31s. Desta feita, eu a interromperei com comentários porque é uma fala longa. Bucci vai em vermelho. Eu, em azul.Eu vejo uma coisa de notável até mesmo nessa indefinição [ideológica] que vocês estão conseguindo trazer ou que vocês estão conseguindo transformar em tema. Eu acho muito impressionante quando uma imagem do Mídia Ninja precisa ir para o Jornal Nacional. Precisa ir para o Jornal Nacional! Precisa completar aquela informação e entra no Jornal Nacional. Indefinição uma ova! São variantes dentro da esquerda. Capilé, fica evidente, gosta da companhia de petistas muito especialmente. Torturra, como ele mesmo disse, é um dos fundadores da Rede, de Marina Silva. Mas também esteve ligado ao “coletivo” (argh!!!) “Existe Amor em SP”, que fez campanha para Fernando Haddad e integra o seu governo. Bucci sabe disso porque foi um dos mais ativos militantes da candidatura do petista, para quem faz campanha já há muito tempo. Chegou a defender em artigo que fosse o seu amigão o candidato do PT ao governo de São Paulo em 2010. É o fim da picada que exalte a suposta indefinição da turma quando ele, Torturra e Capilé estiveram juntos na campanha eleitoral do ano passado. Verdade ou mentira? É espantoso e intelectual e profissionalmente doloso que um professor de jornalismo não diga, no ar, que o Jornal Nacional recorre a imagens da Mídia Ninja PORQUE SEUS PROFISSIONAIS, A EXEMPLO DOS DE OUTRAS EMISSORAS, ESTÃO IMPEDIDOS DE TRABALHAR LIVREMENTE DURANTE AS MANIFESTAÇÕES. Jornalistas estão sendo hostilizados; alguns chegaram a apanhar, a levar chutes. Carros de emissoras foram queimados. Os tais ninjas acabam, assim, se tornando monopolistas de imagens porque não se distinguem já dos black blocs. Lamento, aliás, o fato que isso não tenha sido dito com a devida clareza no programa de ontem por ninguém — nem pelos jornalistas presentes. Ao contrário até: Torturra disse que os black blocs se negam a falar com a imprensa “tradicional”, e ficou tudo por isso mesmo. Negar-se a falar é o de menos. Eles perseguem pessoas que estão lá para fazer o seu trabalho. Assim, uma imagem eventualmente registrada pela Mídia Ninja “precisa” ir para o Jornal Nacional não porque o grupo esteja exercendo algum trabalho de vanguarda ou pautado por especial talento ou coragem, mas porque se transformou num aliado político de fascistoides que perseguem jornalistas. A afirmação de Bucci, assim, é de uma covardia asquerosa. E é populista também. Está certamente pensando na sua reputação em sala de aula. Vai que não o achem moderno o bastante. Lembro que este senhor, durante uma greve (que não houve) autoritária na universidade, imposta por brucutus do PSOL, do PSTU, do PCO e de correntes ainda mais minoritárias, resolveu dar uma aula pública, no campus, condescendendo, então, com a violência. Mas gosta de fazer ares de bom moço, de moderno, de não se confundir com a esquerda brucutu. Sigamos com ele. Eu não sei se posso concordar com o entrevistado. Porque aqui a gente procura, pelo método da contradição, fazer com que as coisas aflorem. O ponto que eu queria concordar e deixar uma pergunta é o seguinte: eu acho, Bruno, que você tem razão quando cê fala que o negócio do vandalismo é mais complexo. E um dos problemas da cobertura é assim: manifestação ordeira e pacífica versus vandalismo. O vandalismo, ele também se subdivide em várias coisas. E, rigorosamente, falando, seria uma tergiversação… A Polícia Militar, quando atirou nos manifestantes, praticou vandalismo. Vandalismo fardado, o que é pior. É difícil. Aí, dentro dos, entre aspas, “vândalos”, nós temos pessoas mais à direita, pessoas mais à esquerda… Fica difícil classificar. E fica mais difícil ainda classificar quando vemos que eles são acolhidos pela manifestação, às vezes, de forma tensa, às vezes, de forma ativa mesmo, como se representassem um sentimento que as pessoas mão têm coragem de levar a termo, mas se sentem contempladas com aquilo. Então, é mais difícil de entender. A simples colocação aí “é mais difícil de entender” é uma informação, porque leva a uma reflexão que é papel do jornalismo, sim; o papel que o jornalismo convencional não está conseguindo fazer. Mas, aí, a pergunta que eu queria fazer é a seguinte: Interrompo aqui. Depois retorno com “a” questão deste notável pensador. Observem que, até agora, ele não perguntou nada. Bucci percebeu que Torturra, seu antigo companheiro de campanha pró-Haddad, não tinha sido lá muito hábil em justificar a violência. Então resolveu ele mesmo emprestar a sua lente à tese. Digamos, para efeitos de pensamento, que seja verdadeira a afirmação de Bucci de que a PM, ao “atirar contra manifestantes” — balas de borracha —, praticou “vandalismo”. Cabe a pergunta: é esse o objetivo da PM? Ela vai para a rua com o propósito de vandalizar, ou, ao contrário, essa é uma atitude reprovável, que deve ser combatida? Continuo ainda a pensar por hipótese: uma PM, então, fora do controle ou mal controlada vandaliza. Postos os devidos freios, passa a atuar segundo os limites aceitáveis, certo? Pergunto ao senhor Bucci: existe um Black Block que não vandalize? Existe um Black Bloc light? Existe um Black Block que rejeite a violência? Segundo seus próprios integrantes, a resposta é “não”. Observem, leitores, que não há diferença entre a lógica de Torturra e a de Bucci. Ambas são justificadores da violência e têm uma origem: a justificação do terror. Sem tirar nem pôr. O notável professor poderia dizer: “Os EUA praticaram terrorismo de estado no Iraque e no Afeganistão” — logo, as ações da Al Qaeda estariam explicadas. Mais: o fato de as ações violentas serem acolhidas pela manifestação muda a sua natureza, sr. Bucci? Quando as ruas árabes, mundo afora, comemoraram os atentados do 11 de Setembro, isso os tornou, de algum modo, diferentes? Um ato violento é mais justificável ou menos, mais aceitável ou menos, a depender de quantos o apoiem? Quem disse que o “jornalismo convencional” não está refletindo a respeito? Ocorre que Bucci tem o mau hábito — afinal, um esquerdista — de considerar que refletir é sinônimo de concordar com ele. A propósito: por que ele fez aquele morfético movimento com os dedinhos para indicar as “aspas” quando falou em “vândalos”? Os que destroem agências bancárias, farmácias, estações de metrô são vândalos com aspas por quê, senhor Bucci? O que eles precisam fazer para que lhes tiremos as aspas? Atacar a sede do Instituto Lula? Agora vamos à sua pergunta, que reproduz a melhor arte de Bucci. Sigo com ele. Tem uma discussão que ganhou corpo dizendo que as manifestações são perigosas, porque elas podem ser uma manifestação de direita, que podem desestabilizar um regime de esquerda — não sei onde está esse regime de esquerda, mas tem gente que fala que tem. E que essas manifestações foram insufladas pela, aspas, “mídia burguesa”, mídia que quer dar golpe. Então eu pergunto: então a Mídia Ninja é um agente dessa mídia burguesa, que não conseguiu insuflar diretamente as manifestações contra o governo, e vocês estão insuflando? O que você acha dessa formulação, dessa história de golpismo da mídia? O que é que cê acha disso? Que as manifestações são de direita? A resposta de Bruno Torturra está a partir de 1min8s, vejam lá se quiserem. O que me interessa neste post é a fala de Bucci. Aí está o seu melhor talento: disfarçar suas teses de ultraesquerda com críticas irrelevantes à própria esquerda. Reitero: há pouco, como viram, ele não só justificou o vandalismo como tentou até criar uma teoria a respeito. Bucci não é bobo! Sabe que as manifestações não são de direita. Sabe que nem mesmo existe direita organizada o bastante no Brasil para organizar coisas do gênero. Mais do que isso: tem clareza absoluta, e é fato, de que a acusação é de um ridículo atroz. Não por acaso, ele está no Roda Viva entrevistando dois inequívocos esquerdistas. Bucci viveu e leu o suficiente para constatar o óbvio: o movimento que está nas ruas submete o processo político a uma torção à esquerda — ainda que a popularidade de Dilma tenha despencado. Não que ele não dê pistas do que realmente pensa. Notem lá no trecho que pus em destaque. Bucci acha que o governo petista não é suficientemente de esquerda. E é evidente que ele o faz num tom de lamento. Mais: o professor de jornalismo que, em nenhum momento, censurou a violência contra o jornalismo recorre a uma das táticas mais autoritárias de debate e de desqualificação da crítica, que é reduzi-la a uma caricatura. Por que ele não diz quais setores relevantes da sociedade estão a dizer que os protestos decorrem de ações da direita? Posso achar, e acho, asqueroso o que pensam Torturra e Capilé. Em meio a suas formulações meio broncas, de uma arrogante ignorância, percebem-se as referências obviamente autoritárias. Mas, vá lá, eles são os militantes; não têm a obrigação do pensamento e da reflexão. Já um professor universitário, especialmente se pago com dinheiro público, como é o caso, tem o dever de pensar. Bucci cobrou um comportamento ético de um policial fardado, não é? Ou decreta: “é vandalismo de estado”. E eu cobro um comportamento ético do professor pago por esse mesmo estado — ou, então, eu o acuso de produzir vandalismo intelectual. “Ah, falou o Reinaldo da direita raivosa…” Direita raivosa? Fascistas da esquerda raivosa, ainda que disfarçados de garçons de convento, são aqueles que buscam justificar a violência e que silenciam diante do óbvio constrangimento do trabalho da imprensa, flertando com delinquentes que se apresentam como porta-vozes de táticas terroristas, mas falando em nome da democracia. No meu mundo, ninguém apanha por pensar o que pensa; no deles, sim. No meu mundo, as divergências mais azedas preservam o patrimônio público e o privado porque garantidos pela Constituição democrática; no deles, não. Isso, parece-me, ajuda a distinguir os raivosos dos mansos de espírito. Por Reinaldo Azevedo

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