sexta-feira, 2 de agosto de 2013

LULA DECIDE QUE O “POSTE” PADILHA SERÁ O CANDIDATO DO PT AO GOVERNO DE SÃO PAULO. OU: DISPUTA NO ESTADO ESTÁ NA RAIZ DO TRANSE QUE FEZ DE DILMA, POR ENQUANTO, A PRINCIPAL VÍTIMA

Luiz Inácio Lula da Silva bateu o martelo. O candidato do partido ao governo de São Paulo será mesmo Alexandre Padilha, ministro da Saúde. É o que informa reportagem de Natuza Nery, na Folha. Nenhuma novidade. Quem toma as decisões relevantes no dito “único partido de massas” no Brasil é um homem só: Lula. Ele acredita que poderá repetir com sucesso a fórmula que resultou na eleição de Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo. O titular da Saúde, há tempos, era o seu preferido. Os critérios adotados por Lula já na disputa de 2012, na capital paulista, afastavam, de saída, os dois pré-candidatos a 2014 mais conhecidos: Aloizio Mercadante e Marta Suplicy. São nomes considerados “velhos demais” e excessivamente identificados com o PT. Ao escolher Padilha, o Apedeuta pretende apresentar o velho como o novo. Há um viés cínico na escolha. Explico. O núcleo duro do PT, Lula incluído, detesta São Paulo. Seus “inteliquituais”, a exemplo de Marilena Chaui, consideram que o estado reúne a nata do reacionarismo nacional. Marta e Mercadante, por exemplo, que trazem na testa a marca petista, tenderiam a despertar de imediato um forte sentimento de rejeição. Essas considerações já eram feitas antes mesmo das “Jornadas de Junho”. Depois delas, Lula reforçou a convicção de que o partido precisa apresentar um nome mais “neutro”, com um perfil mais supostamente “técnico”. Padilha é um virtual desconhecido do grande eleitorado. O seu grande ativo seria a baixa rejeição. É uma estratégia de risco? É, sim! E isso só revela as dificuldades do partido. Um dos motes das manifestações de rua é “hospitais padrão Fifa”. A penúria em que vive o setor — mais por falta de competência do que de dinheiro — responde, certamente, em grande parte, pelo apoio popular aos protestos. Lula quer que o ministro de uma área que se tornou foco especial de atenção vá para uma disputa eleitoral. O senso comum — e até o bom senso — recomendaria que se fizesse outra escolha. Mas, para tanto, forçoso seria que houvesse alternativas. Não há. A aposta, informa a reportagem, é que o tal programa de importação de médicos estrangeiros produza efeitos nas urnas. Vamos ver. Confirmado o nome de Padilha, o marketing petista certamente tentará opor o “novo” Padilha ao “velho” Alckmin. Pode não ser assim tão fácil. As “Jornadas de Junho” foram muito mais cruéis com a reputação do prefeito Fernando Haddad, por exemplo, do que com a do governador. Haddad passou a ser visto como uma espécie de emblema do embuste petista. A sua gestão, que deveria ser exemplar, funciona mais como uma advertência sobre os perigos da inexperiência administrativa. Tudo bem pensado, a eleição em São Paulo está na origem do transe vivido pela política brasileira. Nunca se esqueçam: os ditos protestos começaram na capital paulista, com meia dúzia de gatos-pingados, que adotaram, desde o início, a tática da violência. Eram todos aliados tradicionais do petismo, que ajudaram a eleger Fernando Haddad. Até aquele momento, os petistas eram os principais beneficiários da “política fora dos partidos”; da “política como movimento da rua”; da “política fora dos espaços tradicionais de representação”. Uma ligeira pesquisa no noticiário político de 2010 e 2012 (eleições, respectivamente, de Dilma e Haddad) vai indicar a mobilização, em favor dos petistas, dos ditos  “coletivos” — esse nome de sotaque saborosamente soviético para designar movimentos supostamente espontâneos, mas que sempre votavam com “o partido”. Quando a baderna de extrema esquerda — e era disso que se tratava — enfrentou a reação mais forte da polícia, amplos setores da imprensa (a mesma que os petistas adoram demonizar) compraram a causa dos manifestantes, que passaram a ser tratados como heróis da cidadania. Os petistas tentaram, imediatamente, “liderar as massas” e jogá-las contra o governo de São Paulo. Quem não se lembra de José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, a tirar uma casquinha dos confrontos? Chegou a oferecer “ajuda federal” a Alckmin por intermédio da imprensa. Cuidava, isto sim, de sua própria pré-candidatura ao governo do Estado. Menos de duas semanas depois, o governo federal demonstrava que não conseguia responder pela imposição da ordem nem em Brasília. O processo de demonização das Polícias Militares, que ainda está em curso, resultou numa espécie de “ocupe a rua que está dentro de você”. Todas as insatisfações se juntaram e resolveram ganhar o espaço público. De fato, não era mais “pelos 20 centavos”. Começava-se a assistir a uma jornada contra a política e contra os políticos. Como os petistas estão no poder, sofreram o maior desgaste. A popularidade de Dilma, mais do que a de Alckmin (alvo inicial da súcia), despencou. O tiro saiu pela culatra de maneira espetacular. E a pré-candidatura de Cardozo — aquele que resolveu fazer proselitismo em meio à pancadaria — foi para o brejo. Ele já contava com um adversário poderoso: Lula o detesta e nunca o quis como o nome do partido na disputa pelo governo do estado. Era o preferido de Dilma — talvez uma boa forma de se livrar de sua incompetência… Lula volta a seu plano original, ao tempo em que ele dizia que, “de poste em poste”, iria “iluminar todo o País”. O poste da hora é Padilha. Ocorre que a má consciência do PT acabou gerando um curto-circuito na política. Ninguém entendeu muito bem o que está em curso, mas os mais perplexos são mesmo os petistas. Não deixa de ser divertido assistir ao desespero da turma. Por Reinaldo Azevedo

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