quarta-feira, 21 de agosto de 2013

ELTON JOHN, SEU MARIDO, A MARCHA DA ESTUPIDEZ, A DECREPITUDE A SOLDO E O ÓBVIO: CIRCULAR COM DOCUMENTOS SECRETOS, QUE FORAM ROUBADOS DE UM PAÍS, EXPÕE O PORTADOR A RISCOS

Pessoas que têm alguma noção do que vai pelo mundo sabem que gays americanos e ingleses, por exemplo, se referem às pessoas com quem vivem como “maridos” — e as lésbicas, como “mulheres”. Tentar criar caso porque chamei David Miranda de “marido” de Glenn Greenwald, apontando um suposto traço de “homofobia”, como fez um sujeito aí, é mesmo o último estágio de uma miserável decadência. Prestar-se a esse papel, alugando a pena, no ocaso da carreira, deve ser melancólico. Um leitor me manda um link de um site inglês especializado em notícias que interessam ao mundo gay. Há uma entrevista concedida em 2012 pelo cantor e compositor Elton John, que, como sabem, é “sir”. Ele repudia esse negócio de “companheiro”. Reproduzo trecho de sua fala:

“Eu não aceito isso (chamar “marido” de “parceiro”). Eu não aceito isso porque há uma gigantesca diferença entre chamar alguém de ‘parceiro’ e de ‘marido’. Parceiro é uma palavra que deve ficar reservada para as pessoas com quem você joga tênis ou com quem trabalha. Não chega perto de descrever o amor que eu tenho por David (Furnish) e que ele tem por mim. Já ‘marido’, sim. É alguém que você estima para sempre; por quem você renunciaria a tudo, que você ama na saúde e na doença”.
Pois é… Gays como Elton John ainda pedirão a volta do casamento indissolúvel e declararão a superioridade do outrora chamado amor romântico… A polêmica, obviamente, é imbecil e de encomenda. Vamos ao que de fato interessa.
Documentos roubados
Chego a sentir certa vergonha da qualidade do debate que se faz no país sobre o caso Edward Snowden-Glenn Greenwald-David Miranda. Ainda que o ex-agente americano fosse um teólogo da democracia e do respeito aos direitos individuais, o fato inquestionável é que ele roubou documentos que dizem respeito à segurança dos EUA e, em certa medida, de países ocidentais. “Roubou”? Sim, cabe essa palavra, que foi empregada pelo governo do Reino Unido. Ainda que Snowden tivesse acesso àquela documentação, ela era de circulação restrita. O eventual bem, se é que existe, que possa ter feito ao denunciar supostas operações ilegais não anula aquele crime. David Miranda, o marido de Greenwald (“parceiro” é para jogar vôlei na praia), circulava, confessadamente, com documentos surrupiados por Snowden, fruto de uma conduta tipificada como criminosa nos EUA e no Reino Unido. Não compreender essa evidência é, parece-me, estar com alguma falha moral tendente ao incurável. É simples: faça-se um exercício. Imaginem um americano ou inglês que saísse por aí com informações que o governo brasileiro considera secretas, obtidas em razão de um crime. Reitero: se a informação chegasse às mãos de Greenwald, sabe-se lá como, que publicasse — como fez. Mas não cabe à Scotland Yard e ao serviço secreto britânico colaborar para que isso ocorra. “Ah, está obstruindo o trabalho jornalístico!!!” Uma ova! Cadê a obstrução? A ninguém é dado roubar documentos sigilosos de estados ou sair circulando com eles por aí debaixo do braço ou num pen drive. Jornalistas não têm licença para cometer crimes. Até onde sei, em todo o mundo democrático, eles costumam cobrar que os políticos ajam dentro da lei. A reação do governo brasileiro, nesse acaso, apela ao ridículo. Ver os esquerdinhas frenéticos a protestar tem lá a sua graça. Lula mandou expulsar do Brasil o jornalista Larry Rother porque este escreveu que ele gostava de cachaça. Nem é assim tão preciso. Desde que negociava o fim das greves com empresários do Grupo 14 da Fiesp, Lula gostava mesmo é de Black Label. Cachaça era pra peão. E ele já era candidato a rei. Miranda decidiu processar o governo britânico. Greenwald, que vive ameaçando o governo americano com novas publicações, diz que se trata de campanha de intimidação. Que coisa pitoresca! A informação publicada que tem origem num crime é considerada um ato heroico. A ação da Scotland Yard, que se deu segundo a lei, é… criminalizada! “Ah, mas toda a imprensa diz que…” E eu com isso? Pode dizer! Eu não digo. Quase toda a imprensa dizia que sair botando pra quebrar na rua iria aprimorar a nossa democracia. Eu, desde sempre, considero que o país regride assim. Quase toda a imprensa apostou nas glórias da Primavera Árabe. Eu dizia que se tratava de uma escolha entre uma ditadura militar e uma ditadura da Irmandade Muçulmana — com graus diferentes de periculosidade… Eu não me importo com o que dizem os outros. Não me incomoda ficar eventualmente isolado num ponto de vista. Não pertenço a manada nenhuma. A minha referência não é a cauda que balança à minha frente. Isso termina em matadouro. Tentem me provar que Snowden não é um criminoso, e então chamarei de arbitrária a retenção — e não “prisão” do marido de Greenwald. Se crime é, então a polícia fez a sua parte. “Ah, mas recolheram computador, pen drive…” É. Ele confessou que trazia parte da documentação roubada por Snowden. Como são arquivos eletrônicos, a Scotland Yard deveria ter feito o quê? Por que Antonio Patriota não diz o esperaria que as autoridades britânicas fizessem caso retivessem um estrangeiro com documentos sigilosos roubados do estado brasileiro? Ademais, Greenwald é um ex-advogado experiente. Não quisesse que seu marido fosse pego, teria escalado outra pessoa para a missão. Como é americano e conhece as leis, como trabalha para um jornal inglês e conhece a legislação do país, sabia que estava expondo o seu marido ao risco da interceptação. Pergunto: terá contado com isso? Já encontrei na imprensa textos delinquentes que praticamente justificam a violência dos black blocs. Está faltando agora um que justifique o roubo de documentos secretos. Desculpem! Não combina com o meu senso pessoal de moralidade. Tampouco aceito que um assunto sério, como é o combate ao terrorismo, seja transformado por messiânicos irresponsáveis em mero capricho autoritário de uma superpotência. Pouco me importa o status da união entre Miranda e Greenwald. Só não aceito que as bobagens do politicamente correto omitam a real natureza da notícia. “Mas precisava ser a lei de combate ao terrorismo?” A Justiça britânica dará seu veredicto. Qualquer que seja, não mudarei o meu: quando o que está em risco são documentos secretos roubados, que podem pôr em risco o combate ao terror, precisava, sim! De resto, para lembrar Elton John, seria mais prudente que Greenwald fosse do tipo que “ama o marido na saúde e na doença, para sempre”, deixando-o longe de seus trabalhos e de seus negócios. “Olhem aí uma observação sobre a vida pessoal…” Errado! Foi o jornalista americano quem afirmou que “eles” (o governo dos EUA), na sua campanha de intimidação, resolveram mexer com alguém que ele ama. Errado! Este senhor não é o centro do mundo. Esse “alguém que ele ama” só foi retido em Londres porque carregava arquivos de documentos roubados. Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário: