domingo, 2 de junho de 2013

A CRÍTICA OPORTUNISTA E DESINFORMADA DE KASSAB AO GOVERNO DE SÃO PAULO E A RESPOSTA EQUIVOCADA DE UM DIRIGENTE DO PSDB

Se o ex-prefeito Gilberto Kassab não tem como como consertar a biruta política, pode ao menos pedir à assessoria que cuide melhor dos dados ao redigir um artigo assinado por ele. Na Folha de segunda-feira, ele publicou um artigo criticando, em tom bastante demagógico, a política de segurança pública do estado de São Paulo. Kassab é presidente do PSD. O outro pensador do partido é Guilherme Afif Domingos, vice-governador, eleito pelo povo quando era do DEM e oposição ao PT, e agora ministro de Dilma Rousseff. O histórico defensor do estado enxuto foi ser o… 39º ministro do petismo. Esse é o dado anedótico. É claro que a questão política é mais grave. No seu artigo na Folha, Kassab elogia a política de Segurança de Sérgio Cabral, feita, destacou, em parceria com o governo federal. Anunciou ainda que seu partido estava recebendo naquele dia José Mariano Beltrame, secretário de Segurança do Rio de Janeiro, apontado por ele como um exemplo de eficiência. Os fatos se encarregaram de tornar seu texto não só errado. Ele se tornou também patético, risível até. O artigo, redigido com antecedência, saiu na segunda-feira. Três dias antes, o narcotráfico tinha decretado o fechamento das escolas e do comércio no Alemão. No dia 26, enquanto a Folha mandava para a gráfica seus pensamento imperfeitos, a “Corrida da Paz” no Alemão, uma patuscada dos deslumbrados, foi recebida por uma salva de tiros disparada pelos narcotraficantes. Mas Kassab acha a política de segurança de São Paulo ruim, e a do Rio de Janeiro, boa. É que Kassab é um político do tempo em que se deve atacar o que o adversário faz, mesmo estando certo, e elogiar o que o aliado faz, mesmo estando errado. E Kassab tem a ambição de ser um adversário de Alckmin em São Paulo — ou, ao menos, de colaborar com o PT nessa tarefa. Tudo bem pensado, ele já foi um exímio colaborador de Fernando Haddad em 2012, certo? Seu artigo não é ridículo só por isso. Erra também ao lidar com a taxa de homicídios no Brasil, que não é 20,5 por 100 mil, como diz. É, no mínimo e com boa vontade — já que há casos de subnotificação — de 25. Estima-se em 50 mil os mortos. Há mais: Kassab quer um exemplo de segurança pública desastrada? Procure na Bahia.. Lá ele tem um aliado seu como vice-governador do Estado. São Paulo deve ter ainda a menor taxa de homicídios por 100 mil habitantes do Brasil. Mesmo com a elevação, ela deve estar na cada dos 11 e poucos por 100 mil. A da Bahia, que ele ajuda a governar, é superior a 37. A do Rio de Janeiro, que ele elogiou, é mais do que o dobro da paulista. Kassab aprendeu bem depressa com Lula — ou já sabia, apenas encontrou o parceiro certo — que a política consiste em elogiar ou criticar este ou aquele segundo os interesses da hora. Nessa perspectiva, o único princípio é não ter princípio. E pretende que isso seja pragmatismo. Ao lado de Afif, vai escrevendo algumas das páginas mais lamentáveis da política brasileira, em que o oportunismo pretende alcançar a condição de categoria de pensamento. Como ele sabe muito bem, defendi escolhas administrativas que ele fez quando quase toda a imprensa caía de pau nele porque o considerava um “reacionário”. Agora que é da base de Dilma, virou bibelô de certo jornalismo. Coisa semelhante aconteceu com um ex-adversário político seu, Gabriel Chalita, que deve ter virado amigo a esta altura. O ex-prefeito sabe que eu não o elogiei pessoalmente antes nem o critico pessoalmente agora. Eu escrevo sobre posturas políticas. Esta sua, de agora, é detestável .“Ah, mas está dando certo pra ele…” Ok. Então tá. Um equívoco raramente vem sozinho. Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, que costuma dizer coisas sensatas, pisou no tomate ao criticar o artigo de Kassab num particular ao menos. Escreveu: “Fazendo uma tentativa de entender a posição de Kassab, só me resta concluir que ele, para justificar seus novos aliados, Dilma e companhia, necessita de um discurso contra o governo do PSDB em São Paulo e, mais ainda, para se colocar como uma liderança nova no Estado, que procura seu espaço político, atualmente ocupado pela polarização PSDB x PT, tentando atrair o eleitorado mais conservador, já há anos órfão de lideranças com esse perfil”. O que Goldman terá querido dizer com essa história de “eleitorado mais conservador” é, para mim, um mistério. O que, afinal de contas, os conservadores têm a ver com a crítica desastrada, precária e desinformada de Kassab? Goldman deveria explicar aos conservadores — aceito estar entre eles — por que um aliado de Dilma e do PT, que incensa a insana política de segurança do Rio de Janeiro por razões puramente oportunistas, deveriam se sentir atraídos pelo ex-prefeito. Quem dera, Goldman, ele fosse um conservador! A menos que o ex-governador de São Paulo seja do tipo que confunde conservadorismo com oportunismo. Mas ele sempre me pareceu bem mais sofisticado do que isso intelectualmene. Na raiz dessa crítica, há um outro equívoco do qual o PSDB não sairá tão fácil: querer disputar com o PT o chamado eleitorado “progressista”. Os tucanos, todos sabemos, também se querem de esquerda. Kassab, diga-se, que lançou um partido que não seria nem de esquerda, nem de centro nem de direita também é hoje um “progressista”. A geleia-geral ideológica está na raiz das piores coisas que acontecem em Banânia. Numa coisa, petistas e tucanos se igualam: quando querem atacar o adversário ideologicamente, chamam-no “conservador”. Como vou esquecer que “conservadores” eram Churchill, De Gaulle e Adenaurier, e progressistas eram Stálin, Mao Tse Tung e Pol Pot? Enquanto os tucanos não saírem dessa areia, vão continuar na praia. O seu programa de TV ontem, à sua maneira, foi “progressista”… Por Reinaldo Azevedo

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