domingo, 12 de maio de 2013

A caxirola de Carlinhos Brown, o povo de manual, e de Dilma, a búlgara da percussão


Junte a granada com o soco-inglês. Depois acrescente doses generosas de folclorização do subdesenvolvimento disfarçada de Metafísica Afro-Americana Transcendental. Submeta o conjunto a uma empresa de marketing para ver no que é que dá. Eis que surge, então, a caxirola, um suposto instrumento supostamente inventado pela suposta genialidade de Carlinhos Brown. Ele patenteou o que não passa de uma variação do caxixi, aquele chocalho de palha que acompanha o berimbau. Privatizou o apetrecho dos “irmãos” e firmou um contrato com a multinacional The Marketing Store. Tudo para emprestar cor local à Copa do Mundo. A ideia era produzir 50 milhões de caxirolas, a R$ 29,90 cada. Isto mesmo: algo, assim, como R$ 1.490.000.000,00. Um bilhão, quatrocentos e noventa milhões de reais. Brown receberia uma porcentagem a título de colaboração intelectual. A Brasken forneceria o plástico. Não estudei o caso a fundo para saber como a criação de Brown se diluiria, depois, na natureza. Eu agora estou nesta: só defendo produtos e ideias biodegradáveis, hehe. Fico cá a imaginar se a ideia pega… Imaginem o mundo vendo aquele monte de brasileiros chacoalhando aquela coisa nos estádios: “Ai, que coisa bonita! Que gente feliz! Mais feliz do que o povo do Butão!” . Só que deu tudo errado. Brown privatizou o caxixi, patenteou e se associou a uma gigante do marketing. O suposto gênio é, indiscutivelmente, um esperto
Leiam o que informa a VEJA.com. Volto em seguida.
O músico Carlinhos Brown sofreu uma nova decepção na quinta-feira: a caxirola está proibida em seu próprio estado. De acordo com anúncio feito pela Polícia Militar da Bahia, o instrumento oficial da Copa do Mundo de 2014 não poderá ser usado pelos torcedores que forem à Arena Fonte Nova para acompanhar a primeira partida da final do Campeonato Baiano de 2013, no fim de semana. Por motivo de segurança, o torcedor que tentar entrar com o objeto terá de deixar a caxirola na porta — caso contrário, perderá o duelo entre Bahia e Vitória. A caxirola foi incluída numa lista de objetos proibidos nos estádios baianos —- uma relação que já inclui bebidas alcoólicas, armas e objetos pontiagudos, entre outros. Há duas semanas, durante outra edição do clássico local, também pela competição estadual, torcedores do Bahia protestaram atirando no gramado as caxirolas que tinham sido distribuídas gratuitamente antes do jogo. Os jogadores do Bahia tiveram de retirar os objetos de plástico do campo para que a partida pudesse ter sequência, num episódio que acabou ficando conhecido como “a revolta das caxirolas”. A decisão de vetar o chocalho de plástico na partida foi tomada em uma reunião que contou com a participação de representantes da PM, da prefeitura, da Federação Baiana de Futebol, da Justiça e de torcidas organizadas. O uso das caxirolas como arma despertou a preocupação da Fifa e do Comitê Organizador Local da Copa de 2014 (COL), que estariam estudando banir o objeto das partidas do Mundial para evitar qualquer tipo de risco.
Voltei
Pois é… Vejam os dois vídeos abaixo. Um deles mostra Carlinhos Brown, o empresário, disfarçado de Carlinhos Brown, a entidade mística. O outro exibe os russos baianos, que não foram chamados para a combinação de Brown com a empresa de marketing, em ação. Retomo em seguida. E não foi isso, é claro! Os mais afoitos descobriram que aquelas argolas por onde passam os dedos também servem para potencializar a contundência da chamada “porrada”. Carlinhos Brown queria brincar de pós-Carmen Miranda e acabou criando um soco-inglês com sotaque português. E é bom não esquecer: tudo isso contou com apoio do governo. Vejam, no vídeo abaixo, Marta Suplicy, especialista em chocalho desde os tempos em que estudava no Colégio Des Oiseaux, e a presidente Dilma Rousseff, conhecida pelo samba no pé e pelo apego às tradições nativistas, comportando-se como uma búlgara da percussão. Chocalho é instrumento de percussão? Sei lá eu. Deve ser. Um dia ainda estudo, como tese de doutorado, “A Relação Entre Água Encanada, Verminoses e Vacinas e a Quantidade de Instrumentos de Percussão nas Sociedades Contemporâneas — Uma Hipótese Explicativa”. Vou defender lá na Unicamp, onde Aloizio Mercadante conseguiu o doutorado dele, fazendo a apologia da “economia caxirola” do governo Lula… Se vocês procurarem no arquivo do blog, encontrarão dezenas, talvez centenas, de textos em que critico essa mania dos “descolados” brasileiros de ensinar o povo a ser povo. É um hábito dos intelectuais do miolo mole e associados — vejam os sucessivos desastres que produz a Funai, por exemplo, quando tenta ensinar índio a ser índio. O índio quer roupa, e a fundação insiste em deixá-lo com a bunda de fora para satisfação de taras antropológicas que não ousam dizer seu nome… O que tem de ONG, por exemplo, que sobe o morro para ensinar funk e batuque para as crianças pobres que já sabem funk e batuque é uma enormidade! Aula de oboé, ninguém dá. Sobre Manuel Bandeira, ninguém fala. Povo tem é de bater lata e chacoalhar a caxirola do Carlinhos Brown. Mas será mesmo que isso é “coisa nossa”? Nossa? De quem? A “caxirola”, até pelo nome, e uma apropriação obviamente indevida do caxixi. Além da Bahia, em que outro Estado isso quer dizer alguma coisa? Aliás, mesmo nesse Estado, estamos falando de um traço cultural de uma parcela da sociedade apenas — e é da minoria extrema! Por que a “caxirola” deveria nos representar? Deixem-me ver… A Bahia concentra 7% da população brasileira. Dos poucos mais de 14 milhões de baianos, para quantos o berimbau e suas derivações teratológicas (como a de Brown) têm alguma importância? Imagino os meus amigos Weimar e Cremilda com a caxirola na mão… Por que a estrovenga inventada pelo músico haveria de ser um símbolo do Brasil se ela não diz absolutamente nada para, deixem-me ver, uns 98% dos brasileiros? E olhem que chuto baixo. Fora das áreas destinadas ao folclore local da Bahia, ninguém quer saber de berimbau… A viola caipira é muito mais paulista, por exemplo, do que o berimbau é baiano. Ou ainda: a música de origem sertaneja, com todas as suas derivações não menos teratológicas, representa muito mais os brasileiros — se o critério fosse a representação democrática — do que as parlapatices culturais de Carlinhos Brown. O governo petista da Bahia acaba de proibir, em nome da segurança dos baianos (que remédio?), o “instrumento” lançado por Dilma Rousseff, com aquele ar sempre encantado que fazem os políticos diante do alegre, primaveril e suposto primitivismo do povo… Por Reinaldo Azevedo

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