sexta-feira, 26 de abril de 2013

Os gatos-pingados na praça, a agressão à democracia e, de novo, o beijo na boca


O que faz essa foto aí ao lado, de Marlene Bergamo, da Folhapress? A personagem da direita é o deputado Jean Wyllys (PSOL-RL). A do meio não é, asseguro, a deputada Iriny Lopes (PT-ES), ex-ministra das Mulheres. É o cartunista Laerte. É aquele senhor que se declara bissexual (direito dele), que gosta de se vestir de mulher (direito dele) e que reivindica o “não direito dele” de usar o banheiro feminino quando vestido de “antropóloga” porque se considera “transgênera”. Certo! Laerte quer balançar os seus balangandãs entre as mulheres e acha que a oposição à sua vontade é manifestação do mais odioso preconceito. Estou banalizando a sua figura e a sua luta? Não! Ele é que se envolveu num caso assim num restaurante. Não estou inventando nada. Vamos ver. Alguns leitores me perguntam por que parei de tratar do “caso Marcos Feliciano” (PSC-SP), numa referência ao presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, ou por que ignorei um evento de ontem, em São Paulo (a que se refere aquela foto), que deveria ter sido um estrondo e foi pouco além de alguns suspiros. Não parei. É que cansei de fazer parte, ainda que involuntariamente, da campanha eleitoral de 2014 do esperto Wyllys. Esse rapaz não precisará gastar um tostão para se reeleger com, sei lá, 10 ou 15 vezes mais votos do que os 13 mil conseguidos em 2010. Também Feliciano pode agregar alguns milhares aos 212 mil que teve — no seu caso, convenham, ele se tornou o antagonista preferencial dos politicamente corretos não por escolha pessoal. Essa história já deu o que tinha de dar, não é? Os protagonistas da chanchada já souberam se aproveitar da oportunidade o bastante para lograr o seu intento. É um despropósito que setores importantes da imprensa brasileira tenham condescendido com assaltos reiterados a uma comissão da Câmara, ao arrepio da lei, do Regimento Interno da Casa, de tudo. E, por óbvio, ninguém precisa concordar com Feliciano. Vejam só. O governo federal decide patrocinar uma emenda cujo objetivo principal, se não for o único, é criar facilidades adicionais para a eventual reeleição de Dilma. Cadê a gritaria? Um deputado petista apresenta uma emenda — e a CCJ a aprova, com os votos de dois mensaleiros condenados — que dá um golpe no Judiciário. O texto ameaça os direitos de todos — gays, héteros, homens, mulheres, brancos, pretos, pardos, corintianos, flamenguistas, amantes de comida japonesa… Cadê o beijo na boca de Fernandona? Cadê o beijo na boca de Fernandinha? Cadê aqueles bananas autoritários do “não me representa”? Então vamos ver: um deputado contrário ao casamento gay e chegado a algumas declarações infelizes teria de ser arrancado quase aos tapas de uma comissão da Câmara, com o apoio, na prática, do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Mas uma proposta de golpe fascistóide no Supremo ou uma lei casuística só para privilegiar a presidente Dilma na disputa eleitoral passam em brancas nuvens. Ou por outra: isso que chamam hoje em dia “opinião pública” não tem nada de público. Trata-se da opinião privada de grupos militantes que querem se impor pela força, pela gritaria e, de fato, pela violência. É com os direitos humanos mesmo que aquela turma está preocupada? Se é, a sua principal garantia está justamente na independência entre os Poderes. Anunciou-se para ontem (quinta-feira), com o apoio explícito da Folha, o maior jornal do País, uma concentração na Praça Roosevelt, em São Paulo, para protestar contra Feliciano. Reuniu, no máximo, 350 pessoas. Há quem diga que não havia mais de 200. Coloque lá um show de malabaristas ou de engolidores de espada, e se vai juntar mais gente. As estrelas do evento eram justamente Laerte, na sua persona mulher (ou algo assim) e, claro!, Wyllys, o onipresente. Os 200 ou 300 da praça, com a representação que lhe foi conferida por ninguém, criaram a sua própria “Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Minorias”. Então tá. O evento foi anunciado com antecedência. Cartunistas da Folha promoveram um beijaço nas tirinhas do jornal — tudo selinho, sem língua; um deles, visivelmente, deu um jeito de recusar até o selinho… Nada de beijo francês nas tirinhas do jornal! Tudo muito pudico e respeitoso. Afinal, isso é política, companheiros, não sacanagem. Marcuse deve estar se revirando na tumba. Noto: a praça pode abrigar manifestações assim. É do povo, e mesmo dos que ousam falar em seu nome, como o céu é do condor. Não tenho nada contra — e até apoio — protestos dessa natureza. Não sei se houve um beijaço no fim do evento. Ficaria bem. Mas continuo na minha campanha contra esses beijos que o padre Júlio Lancelotti poderia classificar de  ”higienistas”, reacionários, que viraram a coqueluche dos bacanas que têm “posição”. Ignorei inicialmente o evento porque a gritaria de minorias, da forma como é manipulada pelas esquerdas, costuma ser uma forma de molestar os fundamentos da democracia e tem é de ser denunciada. Como o evento ocorreu numa praça, por mim, tudo bem! E estou ainda mais certo sobre esse caráter deletério dessa militância estridente quando constato que duas agressões óbvias aos valores democráticos são solenemente ignoradas pela turma. Por Reinaldo Azevedo

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