Os bispos vetaram
nesta segunda-feira, por consenso, o projeto sobre a Questão Agrária que
deveria ser publicado como documento oficial da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), na próxima sexta-feira, por considerar o texto parcial e de
inspiração socialista. Dezenas de sugestões e de emendas apresentadas no
plenário da Assembléia Geral do episcopado, reunida em Aparecida, tornaram
inviável a publicação do documento, que só será votado no próximo ano. "Houve
objeções à linguagem e ao conteúdo com relação, por exemplo, aos movimentos
sociais e à análise de novas realidades", disse o vice-presidente da CNBB,
d. José Belisário da Silva, arcebispo de São Luiz (MA). Os bispos rejeitaram a
sugestão de que, feitas as emendas, o projeto fosse enviado ao Conselho
Permanente, que se reúne periodicamente em Brasília e poderia aprovar a nova
versão. O plenário preferiu transferir a responsabilidade para a 52ª Assembleia
Geral, em 2014. Os pontos mais polêmicos foram os referentes a movimentos
sociais, como as organizações terroristas e clandestina Via Campesina e o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que tiveram mais
importância para a Igreja Católica no passado, mas que, na opinião dos bispos,
não merecem mais o destaque e o apoio quase incondicional que tiveram no texto
vetado. O agronegócio, criticado no texto como se fosse uma realidade opressora
dos pequenos agricultores e trabalhadores rurais, deverá receber outro
tratamento na revisão da proposta de documento. "Os bispos sugeriram, numa
enxurrada de emendas, que se reconheça o avanço alcançado na questão agrária
nos últimos 33 anos, desde 1980, quando a CNBB publicou seu último documento
oficial sobre o tema", informou o bispo de Ipameri (GO), presidente da Comissão
Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz. "Houve
avanço na Reforma Agrária, embora haja muito ainda a fazer, e conquistas da
parte da sociedade, da ação política e da Igreja", observou. O conceito de
latifúndio também deverá ser revisto, para evitar uma condenação generalizada,
como se toda propriedade de terra fosse sinônimo de injustiça e contrária ao
direito natural. A linguagem do projeto de documento, segundo um bispo do
Nordeste que lutou pela rejeição do texto, é cheia de chavões marxistas e
desatualizada. A mesma comissão que redigiu a versão rejeitada foi encarregada
de melhorar a redação.
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