terça-feira, 12 de março de 2013

Presidente do PT pede saída de pastor de comissão de Direitos Humanos da Câmara


Do jornalista Reinaldo Azevedo - Em 2010, o PT buscou desesperadamente o voto dos evangélicos. O deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, conforme ele mesmo revela em vídeo, foi uma das lideranças evangélicas que negociaram com os petistas. Já expus detalhes dessa relação. Muito bem! Nesta segunda, chegou para a festa quem faltava: o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Agora ele também quer a saída de Feliciano da Comissão, segundo informa a Folha. Expressou-se nestes termos: “Foi uma péssima indicação; não esperávamos que o PSC fosse indicar um fundamentalista”. O presidente do  diz esperar que o Congresso “possa reconsiderar” a decisão e “convencer o PSC a fazer outra escolha”. Outro chefão petista, Paulo Vannuchi, ex-ministro dos Direitos Humanos e diretor do Instituto Lula, também pediu a saída do deputado pastor: “As coisas são reversíveis. É preciso insistir na linha das manifestações deste sábado e dialogar com o presidente da Câmara, para sensibilizar que é ruim esse ambiente”. O deputado enfrentou um novo protesto nesta segunda, desta vez em frente à unidade de Ribeirão Preto da Igreja do Avivamento. Cerca de 200 pessoas cobraram a sua saída da comissão, portando cartazes com acusações de homofobia e racismo. Ele seria homofóbico porque se opõe ao casamento gay e racista por conta de uma frase escrita no Twitter. Já expliquei por que tanto o tuíte como a a acusação são ridículas. O nome disso é, sim, intolerância. Mas intolerância de quem mesmo? A suposição de que só alguém “que pensa o que a gente pensa” pode presidir uma comissão fala por si mesma. Desde o começo, os petitas davam apoio de bastidores ao movimento contra Feiciano. Agora que veio a público o entendimento eleitoral entre o deputado e o partido, revelado no vídeo aqui divulgado, Falcão resolveu tirar o corpo fora. Eis aí. Está sendo ministrada uma importante lição às correntes evangélicas que começaram a chamar os petistas de “companheiros”. Têm a solidariedade do partido só até a página 13. Dali para diante, se preciso, o partido entrega os aliados aos leões sem pestanejar. Falta um ano e sete meses para a eleição. Ali por volta de março do ano que vem, os petistas mandam, de novo, seus emissários procurar as lideranças evangélicas com promessas e primícias. Esses líderes até podem ser “abençoados” com prebendas, mas o eleitorado, é certo, estará sendo enganado. Tudo está saindo conforme o planejado. Gilberto Carvalho avisou em janeiro de 2012 que a próxima tarefa do PT seria disputar influência com os evangélicos. É o que o partido está fazendo. Lideranças petistas estão procurando representantes dessas correntes religiosas para desqualificar Feliciano e para demonstrar que ele não tem o apoio nem dos fiéis de denominações similares à sua. Escrevo pela enésima vez: não tenho a menor simpatia pela prática política (e, até onde vi, nem pela religiosa) de Feliciano. Mas as duas acusações são absurdas, muito próprias de um tempo em que esses movimentos militantes decidem quem vai e quem não vai ser demonizado, quem pode e quem não pode dizer o que pensa. São verdadeiros tribunais de linchamento público. Não basta ser contra o casamento gay para ser homofóbico. A acusação de racismo, então, avança a linha do mau-caratismo. Segundo os critérios daqueles mesmos que estão nas ruas, Feliciano é filho de uma negra. O que ele falou sobre a  descendente de Noé e a África é só uma bobagem, não racismo. Posso detestar tudo o que Feliciano pensa, mas não me venham pedir para silenciar diante desse espetáculo grotesco de intolerância. Menos ainda para participar do linchamento a que aderiram setores “progressistas” da imprensa, que não cumprem o mínimo da nossa profissão: explicar por que as duas acusações não fazem sentido. E nem por isso precisam defender que Feliciano fique lá. No debate público, é perfeitamente possível escolher uma coisa ou seu contrário sendo honesto intelectualmente tanto num caso como noutro. O que está em curso é de uma desonestidade intelectual assombrosa.

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