sexta-feira, 29 de março de 2013

Militares criticam Comissão da Verdade e homenageiam movimento contra-revolucionários de 1964


Associações formadas por integrantes das Forças Armadas divulgaram um manifesto que presta "homenagem" ao aniversário de 49 anos do golpe militar de 31 de março de 1964, quando o presidente João Goulart foi deposto. Uma carta assinada pelos presidentes do Clube Militar, do Clube Naval e do Clube da Aeronáutica critica os trabalhos da Comissão da Verdade, e chama seus integrantes de "totalitários" e de "democratas arrivistas". "Não venham, agora, os democratas arrivistas, arautos da mentira, pretender dar lições de democracia. Disfarçados de democratas, continuam a ser os totalitários de sempre. Ao arrepio do que consta da Lei que criou a chamada 'Comissão da Verdade', os titulares designados para compô-la, por meio de uma resolução administrativa interna, alteraram a Lei em questão limitando sua atividade à investigação apenas de atos praticados pelos Agentes do Estado, varrendo 'para debaixo do tapete' os  crimes hediondos praticados pelos militantes da sua própria ideologia", escreveram o general Renato Cesar Tibau da Costa, o vice-almitante Ricardo Antônio da Veiga Cabral e o tenente brigadeiro-do-ar Ivan Moacyr da Frota, todos da reserva. O manifesto, publicado na página do Clube Militar do Rio de Janeiro, afirma que agentes da esquerda praticaram crimes contra militares e civis que estavam "no cumprimento do dever ou em situação de total inocência". Os autores do texto criticam a Comissão da Verdade por se debruçar apenas a violação de direitos humanos por agentes de Estado. O documento, no entanto, não faz referência a episódios de tortura ou outros crimes praticados por militares no período da ditadura (1964-1985). "As minorias envolvidas na liderança da baderna que pretendiam instalar no Brasil tentaram se reorganizar e, com capital estrangeiro, treinamento no Exterior e apoio de grupos nacionais que almejavam empalmar o poder para fins escusos, iniciaram ações de terrorismo, com atentados à vida de inocentes que, por acaso ou por simples dever de ofício, estivessem no caminho dos atos delituosos que levaram a cabo", anotaram os militares. Segundo os presidentes das instituições, a ação das Forças Armadas na "intervenção" de 1964 tinha o objetivo de proteger a nação e restabelecer a ordem, "colocada em risco por propostas contrárias à índole ou ao modo de vida do Brasileiro". "O povo brasileiro, no início da década de 1960, em movimento crescente, apelou e levou as Forças Armadas Brasileiras à intervenção, em março de 1964, num governo que, minado por teorias marxistas-leninistas, instalava e incentivava a desordem administrativa, a quebra da hierarquia e disciplina no meio militar e a cizânia entre os Poderes da República", afirma o manifesto. O texto afirma ainda que os governos militares beneficiaram o Brasil "em todos os setores: econômico, comunicações, transportes, social, político, além de outros". Para que a versão dos militares pudesse ser examinada, em fevereiro, o brigadeiro Ivan Frota, presidente do Clube da Aeronáutica, procurou o então presidente da Comissão da Verdade, Cláudio Fonteles, para, em nome da Academia Brasileira de Defesa, encaminhar ao órgão documentos, livros e revistas como “subsídios para a apreciação isenta dos fatos”, para que o grupo possa ter outras fontes de informações, e assim, “conseguir preservar a verdade” em relação ao que ocorreu durante a revolução de 1964. Na conversa, que durou mais de uma hora, Frota aproveitou para falar “sobre a inconveniência dessa iniciativa de reviver dissensões do passado e da tentativa de apreciar novamente fatos já transitados em julgado, no Supremo Tribunal Federal. Frota disse que fez questão de levar os documentos a Fonteles para "ajudá-lo a ver o outro lado da história, já que a comissão tem trabalhado em uma direção única". Além do livro Orvil (que representa a palavra livro ao contrário) - Tentativas de Tomada do Poder - e de documentos produzidos pelo grupo Verdade Sufocada, foi entregue a Fonteles uma separata de número antigo das Seleções do Reader's Digest sob o título "a Nação que salvou-se a si mesma", que "relata o sentimento da população brasileira à época, sobre a revolução, e dando graças a Deus que não caminhamos para o comunismo". Frota contou ainda que apresentou a Fonteles o descontentamento de militares e civis com o fato de que "está sendo promovido um novo julgamento patrocinado pelo governo em que um dos lados não têm direito à defesa". Para o brigadeiro, "isso é um desrespeito à Suprema Corte", ainda mais que estavam sendo considerados agora fatos sem provas e a parcialidade do grupo. Ao justificar a necessidade de a comissão ouvir o outro lado, a carta entregue a Fonteles por Frota informa que, na época, "o Estado Brasileiro, no uso de impostergável e intransferível dever, foi obrigado a enfrentar e debelar a cruenta ameaça representada pela ação armada de facções internas, que, sob inspiração externa, tentavam substituir a ordem democrática, entre nós, por um sistema totalitário, estranho à História Pátria e aos desejos mais profundos do nosso povo, além de negador da dignidade intrínseca do ser humano, criado à imagem e à semelhança de Deus". Na carta, o brigadeiro Ivan Frota lembra que houve "anistia ampla, geral e irrestrita a ambos os lados opostos pela guerra revolucionária vivida no Brasil". E, em seguida, acrescenta: "Por isso, dentro da situação criada pela pressão para revolver o passado, queremos contribuir para que o ódio não volte a ter primazia em razão da supremacia de visão unilateral, necessariamente partidária e/ou ideológica, sobre os eventos vividos em nossa dolorosa experiência no contexto da Guerra Fria".

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