terça-feira, 26 de março de 2013

Lula, o homem público mais financiado pelo capital da história, defende que financiamento privado de campanha seja crime inafiançável


Do jornalista Reinaldo Azevedo - Ai, ai… Lula nunca teve limites e sempre se beneficiou disso. E, é evidente, muita gente permitiu que não tivesse. Então ele segue adiante. O homem participou, ao lado de Felipe González, ex-primeiro ministro da Espanha, do Fórum “Novos Desafios da Sociedade”, promovido pelo jornal “Valor Econômico”. Antes que fale sobre ele propriamente, um comentário sobre o espírito do tempo. Acho o máximo os nomes desses fóruns. Sempre tem um “novo alguma coisa”. Imaginem como seria constrangedor para a nossa inteligência fazer fóruns sobre os “velhos desafios” que não superamos. Vamos ver: “O Velho Desafio da Educação de Qualidade”; “O Velho Desafio da Eficiência dos Portos”; “O Velho Desafio de uma Tributação não Extorsiva”… E vai por aí. Debater o presente é chato. Erra-se com mais grandeza e com mais generosidade sobre o futuro. Ninguém cobra nada. Nunca ninguém perdeu dinheiro no Brasil sendo um mau profeta. Nem dinheiro nem poder, né, Guido? Eita! Vontade de ficar falando sobre esse assunto divertido em vez de ocupar meu tempo com Lula, mas é necessário porque apontar a sua mais recente hipocrisia é um dever cívico. Na presença do espanhol, vejam vocês!, Lula reconheceu que houve avanços no governo FHC… Ah, bom! Espero que tucanos não saiam alardeando isso por aí como um diploma de aprovação: “Vejam o que ele disse!” Quando começar o processo de demonização da oposição e do passado, na campanha eleitoral, aí quem sabe se possam resgatar as raras vezes em o próprio Lula e Dilma disseram a verdade sobre a história — ainda que verdade tímida. “Avanços” é uma palavra-gaveta. Cabe qualquer coisa aí. Qual avanço? Que proposta tinha o PT à época para dar um jeito na inflação, por exemplo, e o que o partido fez durante o lançamento do Real? Lula só estava evitando parecer bronco, imbecil mesmo!, diante de um convidado ilustre, que conhece o mundo. Fora das quatro paredes daquele evento, retomará a sua ladainha de sempre contra o passado, as elites, etc. A própria Dilma, para consumo interno, aderiu à farsa, negando até a evidência escandalosa de que o cadastro únicos dos atendidos por programas sociais começou a ser elaborado no governo FHC. Não pensem que Lula mudou, que Lula aprendeu, que Lula passou a ser mais justo. Ele distingue muito bem as esferas: o discurso para platéias selecionadas é diferente da fala palanqueira. A diferença não é só de estilo, mas também de conteúdo. Lula, segundo informa Paulo Gama, na Folha, voltou a defender a farsa do financiamento público de campanha como princípio, entende-se, de moralização da política. O homem fartamente financiado por empreiteiras para correr o mundo “em defesa dos interesses nacionais” — e, claro! nesse caso, não vê mal nenhum! — tenta nos convencer de que a mãe de todas as corrupção é o financiamento privado — e legal!!! — de campanha, o que é mesmo um piada. O problema, desde sempre, é o financiamento ilegal, não é mesmo? De campanhas e de eleitos, prática que não pode ser punida por uma Justiça Eleitoral que não tem lá tantos instrumentos. Alguém pode explicar, com base na lógica, por que o financiamento público impediria o caixa dois? Ninguém consegue. Quando se proibirem formalmente as doações privadas, haverá, isto sim, é uma explosão de financiamentos ilegais porque alguns que hoje contribuem dentro da lei vão migrar para a clandestinidade. E, evidente, os cofres públicos serão sangrados um pouco mais. Entre repasses do fundo partidário e as compensações fiscais para os veículos de radiodifusão tanto para o horário político como para o horário eleitoral, o Estado brasileiro já gasta algo que roça aí no meio bilhão de reais a cada ano. Assim, já existe financiamento público — não na dimensão pretendida pelo Apedeuta. Mais: é claro que ele não faria uma proposta dessas naqueles tempos em que o PT tinha 8 deputados. Hoje, é o maior partido da Câmara, e a divisão do dinheiro destinado à eleição teria de obedecer a algum critério. O tamanho da bancada já regula a distribuição do tempo de TV e do fundo partidário. Certamente seria quesito fundamental também na repartição da verba destinada à eleição. Agora que o PT chegou lá, quer mudar as leis para… não sair mais de lá. Imaginemos uma lei que funcionasse à perfeição, só com financiamento público: com mais dinheiro, o PT teria melhores condições de enfrentar as outras legendas, e isso faria com que tivesse mais condições de permanecer como maior legenda; uma vez sendo a maior, terá mais verba… E estaria criado o ciclo vicioso do poder eterno… Lula, o presidente do MSL — o Movimento dos Sem-Limite —, foi longe. O brasileiro mais fartamente financiado pelo capital privado de que se tem notícia na história (e, à diferença de Eike Batista, o de hoje em dia, nem precisa apresentar resultados…), se diz contra a financiamento privado de campanhas. Dinheiro de empresas e de particulares, ele só acha legítimo quando patrocina esta instituição da humanidade chamada “Luiz Inácio Lula da Silva”. Nesse caso, tudo bem! Aí é por uma boa causa! Fora disso, ele é contra. Ousaria dizer, violando a língua, que ele é “contríssimo”!!! Tanto que, segundo disse, o financiamento privado de campanhas eleitorais deveria ser “crime inafiançável”. Já o financiamento público de algumas empresas privadas, bem, nesse caso, ele pode ceder um pouco. Afinal, não nos esqueçamos de que as andanças do lobista Lula geram despesas para os cofres públicos, conforme já ficou demonstrado. Qualquer outro que fosse flagrado na situação em que Lula foi no caso das empreiteiras não falaria de corda em casa de enforcado. Com ele, é diferente. Isso mais o anima a defender o que seria, então, um privilégio só a ele mesmo concedido: o farto financiamento privado. Lula, já escrevi centenas de vezes, nada tem de burro. Mas é espantoso o que este senhor concorre para emburrecer a política!!! PS –  Ah, sim: ele também recomendou cuidado com esse negócio de combate à corrupção. Deu a entender que vê muito falso moralismo e diz que alguns que acusam são piores do que os acusados. Ele só não quis falar dos que foram mesmo flagrados, com provas. As alianças que o PT fez nos últimos dez anos demonstram, com efeito, que o PT vê esse negócio de corrupção sem preconceitos.

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