terça-feira, 19 de março de 2013

A falta de oposição no Brasil, em qualquer esfera, mata muito mais do que as chuvas


Do jornalista Reinaldo Azevedo - Mais do que as chuvas, o que mata no Brasil é a falta de oposição. Explico. Em qualquer esfera de gestão, podem reparar, o país praticamente só tem situação. Essa história de não ser nem de “direita nem de esquerda nem de centro” (by Gilberto Kassab), de “não ser nem oposição nem situação, mas ter posição” (by Marina), de “não fazer oposição rancorosa, mas programática” (by qualquer tucano, com raras exceções), isso tudo é um desastre para os desassistidos, para os pobres. Os políticos são permanentemente cooptados, e não se tem nem mesmo a voz de alerta. Quase todos apoiam o prefeito, quase todos apoiam o governador, quase todos apoiam o presidente… E ninguém chama as coisas pelo nome para não perder a boquinha. Até quando escrevo, já são 16 mortos em Petrópolis, com um número não-sabido de desaparecidos. Ainda me lembro de Aloizio Mercadante, ministro da Ciência e Tecnologia na tragédia passada, a anunciar radares e programas miraculosos. Sérgio Cabral não fala muito nessas horas porque ele costuma dar sumiço. Ontem, os parlamentares do Rio estavam excitadíssimos é com a liminar sobre o royalties do petróleo (ver post) e não tinham muito tempo para os mortos. Cuidavam do mundo dos muito vivos. A região serrana do Rio está entregue às cobras. Ao desastre das chuvas, segue-se o desastre administrativo nas três esferas de gestão: municipal, estadual e federal. E não há ninguém para botar a boca no trombone. A culpada passou a ser mesmo a natureza. Dilma falou sobre a nova tragédia lá da Itália. Agora quer medidas para tirar pessoas à força das áreas de risco. No período da seca teria sido mais fácil, não é?
Leiam texto publicado da VEJA.com:
Com 16 mortes confirmadas e um número incerto de desaparecidos, a cidade de Petrópolis vive, desde a madrugada de segunda-feira, o pesadelo da volta dos deslizamentos. As mortes de agora e as imagens do Rio Quitandinha varrendo o centro histórico não chegam a ser novidade para a população que, há pouco mais de dois anos, foi atingida pela maior tempestade de que se tem notícia na história recente do país: entre a noite de 11 de janeiro e a madrugada do dia 12, mais de 1.000 pessoas desapareceram sob a lama, 72 delas no Vale do Cuiabá. Petrópolis experimenta agora o eco da tragédia que, no ano passado, se manifestou em Teresópolis, no feriado de 1º de maio, uma maldição que se abate de tempos em tempos também sobre Nova Friburgo. Em todos os casos, a sensação de desamparo e de exposição ao acaso convergem para a situação ainda vulnerável que essas cidades enfrentam sempre que a chuva – algo anterior a todas as cidades – se anuncia no céu da região. A confirmação das 16 mortes veio no início da noite, à medida que novos desaparecimentos se confirmavam com o encontro de corpos sob escombros e lama. Às 19h30, três pessoas eram procuradas pelas equipes de resgate. O número de ocorrências registradas pela Defesa Civil nas últimas 24 horas chegou a 368. Cerca de 250 agentes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil auxiliam as operações de busca por desaparecidos. Reforçadas desde a tragédia de 2010, a Defesa Civil também teve suas perdas: dois técnicos que auxiliavam na retirada de moradores de uma área de risco em Petrópolis morreram num desabamento, na Vila São Joaquim, no bairro Quitandinha. Os mortos são Fernando Fernandes de Lima, 44 anos, experiente em resgates naquela região, onde já foi subcoordenador de Defesa Civil municipal, e Paulo Roberto Filgueiras, 37, técnico em enfermagem e integrante do grupo de voluntários Anjos da Serra. A tragédia de 2010 deixou claro que o problema não é de contenção de encostas, como se gostaria, ou de aperfeiçoamento de previsões meteorológicas, apenas. Contribuem para o cenário de precariedade todas as variáveis possíveis, agravadas por um histórico de construções irregulares e com técnicas inadequadas para uma área de solo instável e sujeito a altos volumes de chuva. Diante desse quadro, a solução definitiva para a Região Serrana do Rio – como para milhares de outras áreas de risco Brasil afora – dependeria de um maciço investimento em habitação, com remanejamento de bairros inteiros.
Alertas
Seria ingenuidade supor que os mesmos governos que permitiram – e incentivaram – as ocupações irregulares sejam capazes de reverter esse quadro com rapidez. A solução, então, veio na forma de sirenes que fazem o básico: avisam os moradores que a chuva torna inseguras as casas onde ainda vivem. As sirenes são a versão brasileira dos sistemas de informação usados em áreas com risco de furacões, nevascas, terremotos e outras tragédias naturais. A Defesa Civil informou que, recentemente, começou a haver resistência para os moradores em áreas incluídas nesse programa – um indício preocupante de que, tal como antes, moradores se acostumam com o risco, à medida que se repetem os acionamentos, e passam a se expor além do que é razoável. Os rios Piabanha e Quitandinha estão em alerta máximo, com risco de transbordar. Conforme o balanço mais atualizado da Defesa Civil, Petrópolis tem 21 pontos de escorregamento ou alagamento. As localidades mais afetadas foram Quitandinha, Bingen, Independência e Doutor Thouzet. Cerca de 560 pessoas estão desalojadas ou desabrigadas. As aulas na cidade foram suspensas e o prefeito decretou três dias de luto oficial pelas mortes. Pela medição do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em um período de apenas 24 horas – das 7h de domingo às 7h de segunda – choveu em alguns pontos quase o dobro da média de 151 milímetros que era esperada para todo o mês de março. De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), entre 9h de domingo e 9h de segunda, a região do Quitandinha acumulou 399 mm e a Rua Coronel Veiga, que liga o bairro ao centro, registrou 338 mm. Sem ter construído uma casa sequer das prometidas para Petrópolis, o governador Sérgio Cabral repetiu a fórmula: anunciou liberação de 3 milhões de reais para amenizar o sofrimento dos moradores. Mais que o anúncio do governador e o posicionamento da presidente Dilma Rousseff, de Roma, onde defendeu medidas mais drásticas para remover moradores de áreas de risco, são as previsões meteorológicas: a Região Serrana do Rio deve ter uma trégua da chuva até o fim de semana. É pouco, mas é melhor que esperar pelas casas que, em dois anos, não têm ainda um tijolo sequer. Os prejuízos materiais no Centro Histórico também foram muitos. A água invadiu lojas e, ao longo da avenida Coronel Veiga, que dá acesso ao local, pontos de alagamento atingiram mais de um metro e meio. Outras áreas da cidade ficaram parcialmente inundadas. O assessor político Sidney Nascimento, morador de Itaipava, contou que seu bairro e o distrito de Correas tiveram problemas por causa da cheia do Rio Piabanha, que corta a cidade. As sirenes instaladas nas localidades que apresentam mais risco podiam ser ouvidas enquanto bombeiros, guarda civis e soldados do Exército faziam a remoção de escombros e ajudavam moradores a retirar seus pertences de casas ameaçadas. O prefeito Rubens Bomtempo anunciou a contratação de 500 pessoas para uma frente emergencial de trabalho. Segundo ele, cerca de 5.000 pessoas vivem em área de risco em Petrópolis.

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