quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Estado paralelo do MST, as mortes no campo e as mistificações


Do jornalista Reinaldo Azevedo - Que tal tratar de um tema delicado? Regina dos Santos Pinho, agricultora do assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos, no Rio, foi assassinada. É lá que morava também Cícero Guedes dos Santos, liderança do MST, morto a tiros no dia 26. O movimento se pronunciou nesse caso afirmando que o assassinato era “resultado da violência do latifúndio, da impunidade das mortes dos sem-terra e da lentidão do Incra para assentar as famílias e fazer a reforma agrária”. Muito bem! A polícia já prendeu o mandante do assassinato de Cícero. Latifundiário? Não! José Renato Gomes de Abreu, 45 anos, é funcionário público do município de São João da Barra, mas, ATENÇÃO!, morava num acampamento do MST na Usina Cambaíba, em Campos. Vocês entenderam direito: o funcionário público em um município era invasor de terra em outro. E o MST, é claro!, sabia. Cícero foi morto justamente quando voltava de uma reunião em Cambaíba. E por que José Renato mandou matá-lo? Segundo a polícia, ele é aliado de traficantes da “comunidade” Tira Gosto, em Campos, e queria assumir a liderança na invasão. Uma pausa para a memória - Em 2011, houve cinco assassinatos de pessoas envolvidas em conflitos de terra no Pará. Gilberto Carvalho e Maria do Rosário denunciaram o que seria uma cruzada de extermínio contra os movimentos sociais. De novo, os “latifundiários” — sejam lá quem forem — entraram na mira. Dilma formou uma espécie de gabinete de crise com cinco ministérios e os deslocou para a região. Ok. Tá bom! Cinquenta mil morrem todo ano no Brasil, e isso não mobiliza nem mesmo um ministério… Mas vá lá. Fez-se tal barulho que alguns figurões da imprensa estrangeria resolveram se interessar pela coisa. O tiro até saiu pela culatra. Jon Lee Anderson, biógrafo de Che Guevara, o Porco Fedorento, escreveu um textão na New Yorker. Jogou parte da responsabilidade pelas supostas execuções nas costas de Dilma — e, obviamente, acusou o novo Código Florestal, que demonstrou desconhecer. Esculhambei o mistificador. Apuradas as mortes, tudo não passava de acerto de contas e rivalidades entre os próprios assentados. O caso mais espantoso foi mesmo o do “casal de ambientalistas”, como chamavam os cândidos, José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. Os dois teriam sido assassinados pelos interesses do latifúndio, madeireiras etc. e tal. O assassino, na verdade, era José Rodrigues Moreira, morador do mesmo assentamento. Tinha uma rixa com o casal. Mas o dado espetacular que surgiu da história foi outro. José Cláudio havia, ele próprio, participado de outro homicídio, o de um homem chamado Pelado. A polícia nem mesmo havia aberto inquérito a respeito. “Pelado” não era considerado do lado “do bem”… Outro suposto “líder” morto era um bandido foragido do Maranhão, que usava nome falso… E daí? Os idiotas e analfabetos morais militantes lerão este texto e dirão: “Ah, o Reinaldo nega que haja mortes no campo!”. Uma pinóia! O Reinaldo está informando — isto mesmo, INFORMANDO — que as mortes envolvendo lideranças, assentados e invasores do MST entram na conta dos ditos “latifundiários” e que isso esconde conflitos de outra natureza. Eu estou afirmando que o MST é o primeiro a jogar uma cortina de fumaça nas ocorrências e a impedir a devida apuração dos casos, como aconteceu em Campos com Cícero Guedes dos Santos. Eu estou dizendo que, com frequência, os mortos do MST escondem mortos que não são do MST e que não chegam a ser notícia porque essas outras vítimas não têm em mãos uma empresa de produzir mistificação e ideologia. Vejam lá: o movimento acusou os latifundiários em Campos. Errado! O mandante é um sujeito que é funcionário público — o que faz ele numa invasão de terra? —, aliado de um traficante. O que estou dizendo, meus caros, é que, na prática, João Pedro Stedile e seus comandados pretendem liderar uma espécie de Estado paralelo. Quando morre alguém “da sua gente”, eles pretendem ter a última palavra sobre a natureza da ocorrência. A lógica me diz que, nesse universo dominado pelos ditos sem-terra, deve-se matar e morrer muito mais do que sabemos. Existe aí um Brasil subterrâneo. As mortes conhecidas, as que vêm a público, entram na conta dos conflitos com o latifúndio. Não era verdade no caso do Pará, com todo aquele estardalhaço. Não é verdade no caso de Cícero, em Campos. E, suspeito, não deve ser verdade no caso de Regina dos Santos Pinho, a morta da hora. O primeiro que chamou a minha atenção para esses acertos de contas feitos ao arrepio do Estado, no ano 2000, foi um dos chefões do PT que andam por aí — informação passada em off, fora da entrevista. Ele temia, então, que, com a chegada do partido ao poder, que antevia como certa (e eu também), houvesse um recrudescimento desses casos. Como disse então, o PT controlava apenas parte das ações do movimento. É um escândalo que o governo brasileiro permita que essas mortes fiquem sob o arbítrio de uma espécie de estado paralelo.

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