quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Morre em São Paulo, aos 74 anos, o ex-ministro Fernando Lyra

Fernando Lyra
Depois de 35 anos de luta contra uma grave cardiopatia, morreu nesta quinta-feira, aos 74 anos, no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, o ex-ministro da Justiça, Fernando Lyra. Um dos mais destacados integrantes do chamado grupo dos "autênticos" do MDB, que combatiam dentro e fora do parlamento a ditadura militar, Lyra exerceu sete mandatos de deputado federal (1970-1998) e um de deputado estadual (1966-1970). Exímio orador, mas também um grande articulador político, o pernambucano teve como ponto alto de sua carreira a articulação para construção da candidatura de Tancredo Neves à presidência da República. Após a derrota da emenda Dante de Oliveira, em 1983, o deputado se afastou do grupo dos "autênticos" e mergulhou na campanha para tentar eleger Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Com Tancredo eleito, acabou escolhido para ocupar o Ministério da Justiça e foi  mantido no cargo por José Sarney. Lyra, ironicamente, foi o responsável por uma das definições mais ácidas do presidente do Senado, quando em um encontro com artistas, no Teatro Casagrande, em uma tentativa de defender o ex-presidente, cravou: "Sarney é a vanguarda do atraso". Lyra deixou o cargo em 1986 e, no ano seguinte, foi derrotado na disputa pela presidência da Câmara por Ulysses Guimarães. A partir daí, uma sucessão de desilusões (como a derrota eleitoral em 1990, quando só conseguiu voltar à Câmara como suplente, e outra na disputa para uma vaga do Tribunal de Contas da União) o levaram a abandonar definitivamente a política eleitoral em 1998. Mas, mesmo sem mandato, nunca largou a política. Nos últimos anos, tornou-se um entusiasmado conselheiro do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que tem como vice o irmão do ex-ministro, João Lyra Neto. A atuação política incansável envolvia até mesmo temas do parlamento, como a Reforma Política. Quando o Congresso tentava avançar com uma Reforma Política em 2007, Lyra sugeriu a instituição do chamado "voto distritão", pelo qual a eleição parlamentar em cada Estado se daria pela disputa majoritária entre os candidatos. Nas últimos meses, assumiu posto de colunista na revista Carta Capital. Foi a ela, em novembro, que deu uma das últimas entrevistas, em tom desiludido com o Congresso: "O Parlamento viveu no período da ditadura momentos deploráveis e momentos gloriosos. Hoje, com a democracia instalada, os momentos gloriosos tornam-se raros". O senador pernambucano Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que conviveu com Lyra nos últimos 40 anos, lembra da capacidade de diálogo do ex-ministro. Segundo ele, mesmo estando em lados distintos da política pernambucana desde a década de 1990 (Lyra apoiou Miguel Arraes e Eduardo Campos em eleições contra Jarbas), nunca deixaram de dialogar. Nos últimos anos, Lyra foi internado várias vezes em função de seus problemas cardíacos, que começaram em 1978. A última internação começou no dia 29 de dezembro, quando o ex-ministro foi levado ao Real Hospital Português, de Recife, com um quadro de infecção e problemas cardíacos. No dia 5 deste mês, foi transferido em uma UTI aérea para o Instituto do Coração de São Paulo, onde apresentou melhora e chegou a ser transferido, na última quarta-feira, para a unidade semi-intensiva, após ter uma infecção urinária debelada.

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