segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Drauzio Varella vai ao ponto, contestação nos jornais da internação compulsória de viciados é “ridícula”, “ideologizada”, “vazia” e “cheia de jargões”


Do jornalista Reinaldo Azevedo - Escrevi já alguns textos sobre a internação compulsória de viciados em crack. Apontei a estupidez dos que criticam a medida e acusam de ferir a dignidade humana. Demonstrei que certas figuras carimbadas do pensamento “politicamente correto” — e estupidamente incorreto —, como o tal padre Júlio Lancelotti, estão é fazendo guerrinha ideológica. Mas eu, como sabem, sou apenas um jornalista. Leiam, então, trecho da entrevista concedida pelo médico Dráuzio Varella a Cláudia Collucci, na Folha:
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Revoltado. É assim que o médico e colunista da Folha Drauzio Varella, 69, diz se sentir com a polêmica envolvendo a internação compulsória de dependentes de crack, adotada há uma semana pelo governo Alckmin. Cancerologista de formação e com profundo conhecimento em dependência química, Varella considera a discussão “ridícula”. “Que dignidade tem uma pessoa jogada na sarjeta? Pode ser que internação compulsória não seja a solução ideal, mas é um caminho que temos que percorrer. Se houver exagero, é questão de corrigir.” Ele defende que as grávidas da cracolândia também sejam internadas mesmo contra a vontade. “Eu, se tivesse uma filha grávida, jogada na sarjeta, nem que fosse com camisa de força tiraria ela de lá.”
(…)
Folha – Muito se discute sobre a ineficácia das internações compulsórias. Na opinião do sr., elas se justificam?
Drauzio Varella - Não conhecemos bem a eficácia ou a ineficácia porque as experiências com internações compulsórias são pequenas no mundo. Mesmo as de outros países não servem para nós. O Brasil tem uma realidade diferente. Neste momento, temos uma quantidade inaceitável de usuários. E muitos chegando aos estágios finais. Estão nas ruas, nas sarjetas. O risco de morte é muito alto, e nós estamos permitindo isso.
Qual o tratamento ideal?
Depende da fase. Você tem usuários que usam dois ou três dias e param. Tem gente que usa um, dois dias, repete e nunca mais fica livre. E você tem os que chegam à fase final. A gente convive com essa realidade, e quando o Estado resolve criar um mecanismo para tirar essas pessoas da rua de qualquer maneira começa uma discussão política absurda. Começam a falar que essa medida não respeita a dignidade humana. Que dignidade tem uma pessoa na sarjeta daquela maneira? Está na hora de parar com essa discussão ridícula. Pode ser que internação compulsória não seja a solução ideal, mas é um caminho que temos que percorrer. Se houver exagero, é uma questão de corrigir. Vai haver erros, vai haver acertos. Temos que aprender nesse caminho porque ninguém tem a receita.
O debate está ideologizado?
Totalmente. É uma questão ideológica e não é hora para isso. Estamos numa epidemia, quanto mais tempo passa, mais gente morre. Sempre faço uma pergunta nessas conversas: ‘Se fosse sua filha naquela situação, você deixaria lá para não interferir no livre arbítrio dela?’ Eu, se tivesse uma filha grávida, jogada na sarjeta, nem que fosse com camisa de força tiraria ela de lá. Quando vemos essa discussão nos jornais, parece que estamos discutindo o direito do filho dos outros de continuar usando droga até morrer. É uma argumentação frágil, jargões vazios, de 50 anos atrás. Eu fico revoltado com essa discussão inútil.

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