quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Risco de apagão em país que cresce 1,5%? Dilma é a grande chefe da área há 10 anos. Deu mais pitos do que soluções


Do jornalista Reinaldo Azevedo - Conheço direitinho a, digamos assim, história política do apagão, inclusive o de 2001, penúltimo ano do governo Fernando Henrique Cardoso. Sabem por quê? A revista que eu dirigia, República-Primeira Leitura, deu a primeira grande reportagem sobre o assunto, matéria de capa. Ninguém nem sonhava ainda com o problema. Era, sim, uma matéria muito crítica, duríssima com o governo Fernando Henrique Cardoso. Não fomos acusados de tentar ajudar o PT; não fomos demonizados; ninguém do PSDB saiu xingando. E, noto, aquela foi apenas uma das reportagens que apontavam erros oficiais. Hoje em dia, o mínimo que esperam do jornalismo é que declare o petismo acima da lei… A crítica, pois, é considerada ação de sabotagem. Sabem por que faltou energia em 2001? Porque faltou chuva. E sabem por que falta energia quando falta chuva? Porque há erro de planejamento. Porque falta investimento. Mais de 11 anos depois do que se chamou “apagão”, acreditem, o Brasil corre o risco de passar por uma nova crise energética. E pelo mesmo motivo divino: faltou chuva. E pelo mesmo motivo humano: faltaram planejamento e investimento.
O apagão de 2009
No dia 10 de novembro de 2009, um apagão deixou às escuras nove Estados, incluindo toda a região Sudeste do País. O problema começou em Furnas. Até hoje, não se conhece o real motivo. O governo federal tentou culpar os raios, os ventos e as chuvas. Certo! Não havendo nenhum desses fatores intervenientes, tudo funciona bem. Que bom! A versão do “raio” foi desmoralizada pelo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). E ficou o dito pelo não dito. Em um vídeo, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (pré-banho eleitoral), aparece dando pito em jornalista e tentando explicar o inexplicável. Vinte e uma horas depois! Desde o primeiro ano de governo Lula, ela foi a chefona do setor elétrico: primeiro como ministra das Minas e Energia e depois como comandante do PAC. E segue sendo, agora como presidente da República. Desta feita, a chuva não é o problema, mas a falta dela. O Brasil está quase rezando por alguns raios… Há mais: no sábado, dia 15, 12 Estados foram afetados por um apagão. O problema começou na usina hidrelétrica de Itumbiara. Nelson Hubner, diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), explicou a razão: “O arranjo da subestação é muito ruim, desatualizado. (…) A subestação tem 40 anos. Aquele arranjo já não comporta a evolução do sistema, então ele tem de ser modernizado”. Faltou chuva. Faltou planejamento. Faltou investimento.  No apagão de 2009, no entanto, Dilma deixou claro que o governo do PT já tinha resolvido tudo. E aproveitou, claro!, para falar mal da gestão Fernando Henrique Cardoso.
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A falta de chuvas e a má gestão do setor energético nacional fizeram o País chegar a uma situação limite: o Brasil está às portas de um racionamento ou mesmo de desabastecimento de energia elétrica e de gás. O alerta foi dado na última segunda-feira pela Petrobras às federações das indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e São Paulo (Fiesp). Interlocutores da presidente da estatal, Graça Foster, procuraram as duas entidades para pedir ajuda na elaboração de um plano de racionamento tanto para a energia elétrica quanto para o gás. Em reação, a Firjan está pedindo ao Ministério das Minas e Energia que esclareça quais providências está tomando para evitar o pior. As hidrelétricas brasileiras estão gerando menos energia do que são capazes, porque há pouca água disponível. Os reservatórios estão no nível mais baixo dos últimos dez anos — apenas 29% do total. A previsão para os próximos meses é de uma quantidade de chuvas menor do que nos anos anteriores. Para evitar apagões, todas as termelétricas do País foram ligadas e estão operando a plena capacidade. Essas usinas podem ser movidas a gás, carvão ou óleo. Dos três, o gás é o insumo mais barato e mais limpa, mas sua oferta no Brasil é finita. Além do produto que vem do gasoduto Brasil-Bolívia, o País ainda importa gás liquefeito, mas a Petrobras está encontrando dificuldades em importar gás para os meses de janeiro e fevereiro, o que obrigaria a estatal a tirar gás dos consumidores industriais para continuar abastecendo as térmicas. Qualquer aumento de demanda, portanto, pode levar a um racionamento ou desabastecimento. Para a Firjan, a situação é “muito crítica”. “Estamos na antessala do racionamento. Por isso o pedido de providencias ao governo. A última coisa que queremos é que a atividade industrial seja prejudicada, afetando o crescimento da economia”, diz Cristiano Prado, gerente de competitividade industrial da Firjan. Para o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (Cbie), o mau planejamento da demanda energética agravou as consequências da conjunção climática desfavorável. “Se não tivéssemos esperado tanto para ligar as usinas térmicas à gás, possivelmente não teríamos hoje reservatórios tão baixos. O governo ficou esperando um milagre da chuva que não aconteceu”, explica Pires. Para ele, o governo deixou para acionar as térmicas mais tarde porque o custo da energia gerada nessas usinas é maior que o da fornecida por hidrelétricas. Seria, portanto, politicamente inconveniente aumentar o preço da energia em um momento em que o governo protagoniza um embate com as distribuidoras de energia elétrica por uma queda no preço das tarifas.A presidente Dilma Rousseff usou o tema do racionamento em várias oportunidades para atingir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ela, que foi ministra de Minas e Energia na primeira gestão de Lula, atacou o tucanato durante a campanha presidencial de 2010 argumentando ter sido a responsável por reestruturar o setor elétrico do País e impedir a volta do apagão. Em setembro deste ano, o assunto voltou à baila. No anúncio da redução das tarifas de energia elétrica, Dilma voltou a lembrar dos apagões de 2001. Naquele ano, foi necessário o racionamento para evitar a falta de luz. “O novo momento exige que o País faça redução de custos e a redução das tarifas decorre do modelo hidrelétrico que implementamos em 2003. Lembro quando o mercado de energia não funcionava, mas esse País mudou, hoje respeitamos os contratos. Contratos venceram, não se pode tergiversar quanto a isso”, afirmou a presidente, referindo-se ao ano em que ela assumiu a pasta da Energia. Na mesma ocasião, Dilma fez a seguinte declaração: “Tínhamos um País com sérios problemas de abastecimento e distribuição de energia, que amargaram oito meses de racionamento, que resultaram em grandes prejuízos para as empresas e impuseram restrições à qualidade de vida da população. Tivemos que reconstruir esse setor”, declarou.
Dois dias depois, o atual ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o Brasil não passaria por novos apagões. O que houve no período anterior ao governo Lula foi um racionamento de energia que durou oito meses e que não voltará a acontecer no Brasil. Hoje temos um sistema interligado de Norte a Sul, de Leste a Oeste no País”, afirmou.
Voltei
Atenção! O quadro é assim com o Brasil tendo crescido 1,5%, se tanto, em 2012, e com a perspectiva de crescer uns 3 e poucos, se muito, no ano que vem. Imaginem, então, para os sonhos do país-potência. O mesmo governo que está nos dando um novo risco de apagão porque falta chuva resolveu ancorar no barateamento da energia “a nova fase do crescimento”.

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