quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Relatório de petista demonstra a vocação do PT para o estado policial. Ou: Relator de CPI se torna, à sua maneira, um mensaleiro


Do jornalista Reinaldo Azevedo - Há quem não tenha se dado conta da gravidade dos atos praticados pelo deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira. Seu relatório tem mais importância do que parece. Ele revela a vocação do PT para construir, se não for devidamente enfrentado, um estado policial no País. Não estou exagerando, não! Ao contrário! Estou dando à coisa o nome que ela tem. Se as palavras, os conceitos e a instituições fazem sentido, então é isto mesmo: os petistas, se julgarem necessário, transformam instâncias do Estado em instrumento de perseguição dos adversários. Não é de hoje que os petistas desmoralizaram as CPIs. A dos Correios — ou do Mensalão — já exibia figuras grotescas, que lá estavam para sabotar as investigações, não para apurar o eventual cometimento de crimes contra a ordem do Estado. Quem não se lembra da voz maviosa e bela da agora ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) tentando impedir, a todo custo, que se chegasse à verdade dos fatos? Coube a dois parlamentares da base governista — o senador e presidente daquela comissão, Delcídio Amaral (PT-MS), e o deputado e relator, Osmar Serraglio (PMDB-PR) — zelar pela dignidade possível da comissão. Se, por causa das chicanas, não avançaram tanto quanto deveriam, fizeram, é fato, um trabalho digno. Desde o início, como é sabido, a CPI do Cachoeira prometia se transformar em mero palco de vingança. Como esquecer aquele vídeo em que Rui Falcão, presidente do PT, afirmava: “As bancadas do PT na Câmara e no Senado defendem uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão”. A fala, em si, era uma sandice. Afinal, qual era a relação entre Cachoeira e o escândalo do mensalão? Nenhuma! Mas Falcão estava lá a anunciar que a comissão seria usada para um ajuste de contas. No radar do partido, políticos da oposição, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel; ao menos um ministro do Supremo — Gilmar Mendes — e, evidentemente, a imprensa independente. A CPI já começou torta, convenham! No mundo inteiro, comissões parlamentares de inquérito são instrumentos da minoria para enfrentar eventuais desmandos perpetrados pela maioria. A razão para que seja assim é óbvia: quem está no comando do Estado dispõe dos instrumentos para conduzir investigações policiais, aplicar punições administrativas, exonerar malfeitores… A oposição é que tem pouca coisa. Diante de uma eventual irregularidade impune, apela, então, ao Poder Legislativo para que a investigue. Atenção, meus caros! Uma CPI proposta pela minoria, se instalada, costuma ser instrumento de aperfeiçoamento da democracia. E assim é porque a minoria não tem como esmagar a maioria. Quando, no entanto, se dá o contrário, aí a gente começa a sentir o fedor dos fascistóides. E é precisamente esse o caso. Cunha pede, por exemplo, o indiciamento do jornalista Policarpo Júnior, da VEJA e de outros. Polícia Federal e Ministério Público investigaram as lambanças de Cachoeira. Nem um órgão nem outro falaram em indiciamento de Policarpo porque, como deixa claro o conjunto dos fatos, nada havia de irregular na relação do jornalista com uma de suas fontes. Na raiz desse pedido — e o relatório de Cunha nem procura esconder — está o rancor contra aquilo que os petistas e os blogs e sites sujos chamam “a mídia”. Os próprios parlamentares da base do governo — os não petistas — deram sinais claros de descontentamento com o texto, e Odair Cunha já admite revê-lo: “É uma tentativa de constrangimento de quem faz jornalismo investigativo. Tem caráter de vingança. A fiscalização do desempenho das autoridades é feita por diversas entidades públicas, mas é a imprensa que tem feito denúncias. Este relatório não tem como ser consertado”, afirmou, por exemplo, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Que coisa! A direção do PT emitiu há dias uma longa nota atacando o STF e a condenação dos mensaleiros. Todos os réus tiveram amplo direito de defesa. Para os petistas, mesmo assim, assistimos à ação de um tribunal discricionário. Cunha não apresenta em seu relatório um único fato, um indício miserável que seja, que deponha contra o jornalista da VEJA. E não apresentou porque não há. Mesmo assim, o relator propõe o seu indiciamento. E aproveita a oportunidade para dar algumas aulas sobre o que considera bom jornalismo: parece ser aquele em que os petistas sempre se dão bem… Cunha, à sua maneira, tornou-se também um “mensaleiro”. Explico-me. Os quadrilheiros — como restou fartamente demonstrado pela CPI dos Correios, pelo Ministério Público e pelo STF — assaltaram os cofres públicos em benefício de um projeto de poder. O relator da CPI resolveu assaltar a institucionalidade em proveito desse mesmo projeto. Odair Cunha, quem diria?, já fez história. E que história!

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