segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O segundo turno em São Paulo - basta que o político mande para que o eleitor obedeça?

Do jornalista Reinaldo Azevedo - Só São Paulo importa para a Lula. E agora? Tanto o PRB, de Celso Russomanno (21,6%), como o PMDB, de Gabriel Chalita (13,6%), são partidos alinhados com o governo federal. Mas quem não é? Só mesmo o PSDB, o PPS e o DEM — e, ainda assim, Brasil afora, essas três legendas se uniram com partidos da chamada “base aliada”. O DEM, por exemplo, está na coligação vitoriosa de Luiz Marinho (PT), em São Bernardo. Na pura aritmética, PRB e PMDB selariam um acordo com o petista Fernando Haddad, e a fatura estaria liquidada. As coisas, no entanto, não são assim tão simples. Chalita, certo como a luz do dia, vai fechar com Haddad (28,98%) e se oferecerá para exercitar seu esporte predileto, depois de escrever livros como quem respira: atacar o tucano José Serra (30,75%). Tenta negociar algum cargo federal ou ter algum reconhecimento público do Planalto. Já o eventual apoio pessoal de Russomanno parece um pouco mais delicado: foi o PT que deu início à desconstrução de seu nome, especialmente para os eleitores da periferia. Setores da imprensa paulistana, alinhados escancaradamente com Haddad, atuaram com o petismo numa espécie de frente. O candidato do PRB acusou o petista, entre outras coisas, de mentir. Este, por sua vez, afirmou que as propostas daquele puniam os mais pobres. Terão ambos cara para pedir ao eleitor que compreenda agora uma eventual aliança? Vamos ver. Quem é esse eleitor que resistiu e ficou com Russomanno, apesar da saraivada de balas? Estamos falando de 1.324.021 pessoas. É um mar de gente. Isso faz dele, só para que vocês tenham uma ideia, uma das pessoas mais votadas do Brasil. Só perde, claro!, para Serra e Haddad e para o campeão em número absoluto de votos: Eduardo Paes (PMDB), do Rio, que obteve 2.097.733. Esse eleitor de Russomanno, cuja campanha tinha um inequívoco sotaque conservador — embora um conservadorismo meio tosco —, migraria facilmente para a candidatura Haddad só porque, afinal, os partidos pertencem à mesma base aliada do governo Dilma? Pode até acontecer, mas não por isso. O que estou dizendo, em suma, é que é bobagem esse negócio de alinhamento automático. É inegável, por exemplo, que a candidatura de Russomanno mobilizou setores consideráveis da população evangélica, que não tem lá muitos motivos para se deixar encantar pelo petista. O mesmo vale para aqueles que escolheram Gabriel Chalita. Não tenho os dados, mas intuo que estamos falando de outro corte de renda. Embora o candidato, especialmente nos debates, tenha sido notavelmente agressivo com Serra, parece evidente que seu discurso não apela à mística petista. Chalita tem, sabidamente, uma penetração importante em fatias do eleitorado católico não exatamente próximos da dita “Igreja Progressista” (seja lá o que isso signifique). Também nesse caso, não basta que ele diga que vai com Haddad para que os seus eleitores o sigam. Resultado incerto O PT precisará ainda inventar para Haddad um discurso que funcione, o que, prestem bem atenção!, até agora, não aconteceu. Enquanto a campanha do candidato insistia no “promessódromo” e na história do “maior ministro de Educação de todos os tempos”, que “tem o apoio de Lula e Dilma”, a candidatura patinou na casa dos 15%, um pouco mais, um pouco menos. Ele começou a se mover quando o PT aderiu, sem medo de ser feliz, à campanha negativa, desconstruindo Russomanno. O Haddad afirmativo convenceu pouca gente; o Haddad que partiu para o ataque conseguiu surrupiar parte dos votos do outro. A campanha de Serra começou com a exposição de suas realizações, um pouco desatenta, de início, à formidável anticampanha de desconstrução de sua imagem que estava em curso — unindo petistas e setores influentes da imprensa. Percebeu a tempo que o eleitorado parecia ter poucas dúvidas sobre a sua biografia administrativa ou sua capacidade para gerenciar a cidade. Quando o tucano enfrentou a questão “Será que ele vai ficar se for eleito?”, a candidatura se estabilizou. E, como todos viram, o PSDB se encarregou de lembrar que, afinal, existe, sim, o julgamento do mensalão. A cúpula do petismo, diga-se, que está sendo julgada pertence ao PT de São Paulo — mais especificamente, ao paulistano. Abstenções, brancos e nulos Há uma massa considerável de eleitores que preferiu não escolher candidato nenhum, alcançando índices inéditos. Deixaram de comparecer às urnas 18,49% dos aptos a votar. É o maior desde 1996, incluindo aquele ano: 17,20%. Vejam os demais: 14,20% (2000), 14,95% (2004), 15,63% (2008). Anularam o voto 7,35% dos que compareceram — nos demais anos: 5,40% (1996), 5,7% (2000), 4,39% (2004), 3,86% (2008). Votaram em branco desta vez 5,42%, contra 1,6% (1996), 4,1% (2000), 2,29% (2004), 2,81% (2008). Isso quer dizer que quase 30% (28,9%) do eleitorado, de 8,6 milhões de pessoas, não escolheu… NINGUÉM! Como todos sabem, mesmo quem se absteve no primeiro turno pode decidir votar no segundo. Tanto Serra como Haddad estarão falando também a uma massa enorme de eleitores um tanto descrentes. É com promessas que se conquistam eleitores que parecem um tanto ressabiados? Tendo a acreditar que não! Sem prejuízo, é evidente, de tratar TAMBÉM de questões concretas, que digam respeito ao dia a dia da cidade, parece-me que é o confronto de valores que pode fazer a diferença. É possível que um novo país — e uma nova cidade, porque é nas cidades que moram as pessoas — esteja fazendo esforço para nascer. É aquele país que está aprendendo a admirar a Justiça e que se regozija com o fim da impunidade. É aquele país que exige, de fato e de verdade, ética na política, não apenas no discurso.

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