sexta-feira, 5 de outubro de 2012

AGORA QUE FORTUNATI JÁ GANHOU A ELEIÇÃO NO PRIMEIRO TURNO, CABE UMA ANÁLISE DO QUE ACONTECE EM PORTO ALEGRE, NO RIO GRANDE DO SUL E EM BRASÍLIA

José Fortunati (PDT) está com a eleição deste domingo já ganha, com mais de 50% dos votos dos eleitores de Porto Alegre. Na verdade, deverá ultrapassar 60%. É o candidato que terá a maior facilidade em todo o País. Por que isso? Por que Fortunati conduz a melhor administração de capital no País? Nada disso. Seu governo é um grande desastre em algumas áreas vitais, como por exemplo na saúde. Que o digam as emergências dos hospitais que atendem o SUS, todas viradas em verdadeiros campos de batalha, com pacientes acomodados no chão, sobre cobertores, ou em macas pelos corredores, à espera de leitos que nunca se abrem. Mas, nada mais escabroso do que a situação na área da limpeza pública, que envolve contratos em valor próximo de 1 bilhão de reais. Esses contratos estão quase todos vencidos, sem realização de licitações, com renovações contratuais emergenciais, semestrais, e com aumentos de preços inexplicáveis. A Lei das Licitações, naturalmente, manda "licitar". Mas, o Ministério Público não enxerga isso, não vê, não entende assim, e não move o competente processo por improbidade administrativa contra José Fortunati. Então, por que ele está ganhando a eleição no primeiro turno, com uma vantagem tão grande que parece torná-lo o melhor prefeito do País? Algumas coisa parecem ter contribuído para isso. Há cerca de três meses, quando aconteciam os primeiros passos da campanha, a comunista Manuela D'Ávila (PCdoB) ostentava condição de grande favorita para ganhar a eleição para a prefeitura de Porto Alegre. Era a favorita dos jovens, a favorita das mulheres e das vovózinhas, que a achavam uma "gracinha" de menina, embora ela já não seja mais uma "menina". Como já dizia Honoré de Balzac, é "uma mulher de trinta anos", uma balzaquiana, portanto. Foi assim que ela começou a campanha. E, tão logo começou a campanha, começou a se perceber os primeiros sinais de que ela tinha sido "rifada" por seu próprio partido. Deixaram-na a pão e água, tiraram-lhe os recursos financeiros para tudo. A paralisia da direção e das instâncias partidárias do PCdoB foi tão ostensiva que deixa pouca dúvida para a afirmação de que o partido fez um acordo com a presidente Dilma Rousseff. Qual é o comentário? É o seguinte: há poucas semanas, Dilma Rousseff veio a Porto Alegre e se acertou com seu ex-marido, Carlos Araujo, que ele voltaria para o PDT. Com qual objetivo? Agora fica mais claro. Nos próximos dias, baterá continência à mesa de Carlos Araujo seu antigo desafeto Alceu de Deus Collares. Seria uma "reconciliação". Araujo e Collares se detestam desde 1988. Naquele ano, como prefeito de Porto Alegre, Collares colocou fogo na greve dos garis, que deixaram a cidade em uma imundície imensa, nos dias que antecederam a eleição. O resultado foi o óbvio: Araújo, candidato do PDT, foi derrotado por Olívio Dutra, do PT. Araújo esperou para dar o troco. Quando Collares assumiu o governo do Estado, em 1991, uma pernambucana chamada Renilda da Silva procurou Araújo, em seu gabinete na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, para lhe relatar sobre casos de corrupção no governo de Collares. Araújo disse que não podia fazer nada por ela, mas lhe deu o nome e endereço de uma advogada, Marta Berenice Ferme, para que a procurasse. Essa advogada tinha defendido a família trabalhista do músico Diógenes, "suicidado" por enforcamento em cela do Instituto Psiquiátrico Forense. Lá, Renilda contou tudo que sabia. E repetiu, exaustivamente, em um depoimento para o Movimento de Justiça e Direitos Humanos. No dia seguinte, o conselheiro do Movimento, Jair Krischke, foi à Assembléia Legislativa do Estado, convocou uma coletiva de imprensa, apresentou Renilda aos jornalista e entregou uma cópia de suas denúncias. Em 24 horas estava montada a CPI da Corrupção contra o governo Collares. Ali foi destruída da carreira política futura de Alceu de Deus Collares e as pretensões de sua mulher, Neusa Celina Canabarro. As voltas da história levaram Collares a se ver um prestativo vassalo de governos petistas. Logo ele, em cujo governo, os professores petistas em greve cercavam o Palácio Piratini e cantavam em coro: "Neusa, de cama em cama chegastes a primeira-dama". Mais uma voltinhas ainda e eis que Collares é um subordinado de terceiro escalão de Dilma Rousseff, como conselheiro (muito bem remunerado, por sinal) da binacional Itaipu. Agora se anuncia que, nos próximos dias, com sua comitiva de velhos companheiros, e mais os atuais dirigentes do partido, irão todos prestar reverência a Carlos Araújo. Por que tantas repentinas reverências? Ora, está na cara. O ex-marido Carlos Araújo está encarregado de dar sequência, ao menos no Rio Grande do Sul (devido ao seu estado de saúde, com um avançado estágio de enfisema pulmonar), da solução político eleitoral no Estado, e também em parte do cenário nacional, devido ao estágio de influência sobre o PDT. A visita dobradiça de Alceu Collares se dará acompanhada de todos os cardeais trabalhistas. Possíveis desdobramentos: 1) Manuela D'Ávila sai do PCdoB; 2) Manuela D'Ávila perde o mandato de deputada federal, devido à saída do partido, mas ganha um ministério: 3) Manuela D'Ávila migra para o PDT, e sairia escolhida candidato ao governo do Estado; 4) Carlos Araujo trabalharia para compor uma grande coligação, reunindo PDT, PMDB, PP, PTB (partidos integrantes do segundo governo de José Fortunati), mais PSB, PCdoB; 5) o peremptório petista Tarso Genro ficaria totalmente isolado, e provavelmente aconteceria com ele o que ele fez a Olívio Dutra, tirando-lhe o direito de concorrer à reeleição; 6) Dilma enquadraria o PT gaúcho, diante do objetivo maior de conquistar a Presidência da República; 7) Dilma passaria a ter maior expressão nacional no comando do PT, após a ida para a cadeia de José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares (na próxima eleição, em 2014, os três deverão estar encarceirados; o próprio secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que vive nas altas nomenklaturas da república petista desde os escandalosos e criminosos tempos da Santo André, do governo do posteriormente assassinado prefeito petista Celso Daniel, também deve perde o cargo, a pompa, e o poder). Por último, vale uma consideração sobre o papel de Ana Amélia Lemos. Ela cometeu um sacrilégio quando se insubordinou contra a decisão do partido de apoiar Fortunati; revelou-se uma péssima analista do cenário político, uma amadora; cometeu o pecado capital de dizer que era maior do que o seu partido. Os dirigentes do PP gaúcho não a perdoam. Ela poderia até ter maior potencial eleitoral do que qualquer um deles, mas depende visceralmente do partido para ter a legenda para concorrer. E quem decide isso são os dirigentes que controlam a máquina partidária. Ana Amélia Lemos vai passar um tempo no purgatório político. Para concluir, mesmo: fica evidente que não haverá mais "oposição" de qualquer espécie no Rio Grande do Sul. Acabar-se-ão as hegemonias de qualquer espécie. A subordinação será quase completa ao projeto centralizador.

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