sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Brasil e Estados Unidos finalmente atuam juntos no etanol

Após anos de atritos, o Brasil e os Estados Unidos se uniram para promover o uso de etanol em uma colaboração que pode revolucionar os mercados mundiais e os padrões do biocombustível. O ponto de virada aconteceu em janeiro, quando os Estados Unidos permitiram que um subsídio de três décadas a produtores norte-americanos de etanol expirasse e deram fim a uma tarifa exorbitante sobre biocombustíveis de produção estrangeira. Essa tarifa, particularmente, prejudicou as relações entre os dois maiores produtores de etanol do mundo durante anos. Desde então, executivos da indústria e autoridades do governo de ambos os países viram um progresso tangível em esforços para incentivar a produção e o consumo de etanol em todo o mundo. As duas nações têm pressionado governos estrangeiros para criar novos mercados na África e na América Latina, planejando "road shows" conjuntos para atrair novos investimentos em empresas de biocombustíveis, e defendendo um padrão uniforme mundial para o etanol, o que facilitaria a comercialização do biocombustíveis entre países. Os resultados podem demorar anos, mas autoridades dizem que a colaboração pode dar nova vida a uma indústria que enfrenta um futuro incerto devido a quedas crônicas na produção e dúvidas sobre os benefícios ambientais de muitos biocombustíveis. Brasil e os Estados Unidos são responsáveis por cerca de 85% da produção mundial de etanol, o que significa que eventos não recorrentes, como a atual seca nos Estados Unidos, podem gerar fortes oscilações na oferta e nos preços. A cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol produzido no Brasil, já é cultivada em muitos dos países vistos como possíveis produtores do biocombustível. A cana produz mais energia do que consome durante o processo de produção de etanol, ao contrário do milho, base do etanol norte-americano. O etanol de cana representa um apelo óbvio para países pequenos e pobres que importam a maior parte de sua energia a custos enormes. Honduras, por exemplo, gastou 2,1 bilhões de dólares, 12% de PIB, em importações de combustíveis em 2011. O Brasil e os Estados Unidos intensificaram seus esforços nos últimos meses. Programas piloto relacionados a etanol com o objetivo de apresentar o biocombustível a consumidores devem começar em três países, começando em Honduras no início de 2013. Para acelerar o processo, o Brasil e os Estados Unidos estão planejando apresentações nos próximos meses para atrair novos investidores interessados em projetos relacionados a biocombustíveis nos três países, dizem autoridades. A crescente influência diplomática brasileira teve um papel crítico para abrir portas em países onde a nação tem profundas conexões estratégicas ou culturais, como Senegal, Moçambique e Haiti. E o Brasil tem ferramentas únicas para exercer influência em Cuba. A indústria do açúcar em Cuba, que já foi poderosa, deteriorou-se nas últimas décadas sob o governo comunista, mas o país tem o potencial para se tornar o terceiro maior produtor de etanol do mundo, atrás dos Estados Unidos e do Brasil. Separadamente, o Brasil e os Estados Unidos estão lidando com obstáculos que impediram que o etanol se tornasse uma commoditiy negociada globalmente como o petróleo. Os únicos contratos futuros de etanol negociados na bolsa de Chicago dizem respeito à variedade produzida nos Estados Unidos a partir de milho. Como resultado, empresas norte-americanas que compram etanol brasileiro precisam fazê-lo por meio de corretoras ou da compra de formas complexas de seguros para limitar seus riscos, todas as quais fazem com que os acordos sejam mais caros. A principal dificuldade: o Brasil exige níveis mais altos de pureza para o etanol do que os Estados Unidos. Essa ausência de um padrão global criou uma série de outros problemas, como atrasos no desenvolvimento de carros flex universais que podem fazer uso de etanol e gasolina. O etanol brasileiro produzido a partir de cana é visto como um solo mais fértil para inovação, enquanto companhias norte-americanas têm mais recursos para pesquisa e desenvolvimento. A fabricante norte-americana de aeronaves Boeing e a brasileira Embraer anunciaram planos em outubro de construir um centro de pesquisa para o desenvolvimento de biocombustíveis para aviação. Um vôo de demonstração com combustíveis renováveis produzidos pela Amyris foi realizado durante uma grande conferência ambiental da ONU, no Rio de Janeiro, em junho.

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