terça-feira, 3 de julho de 2012

Ex-ditadores argentinos no banco dos réus por roubos de bebês

Será anunciado nesta quinta-feira o veredicto de um julgamento histórico contra os ex-ditadores argentinos Jorge Rafael Videla e Reynaldo Bignone. O tribunal vai decidir sobre a existência de um plano sistemático de roubo de bebês, filhos de desaparecidos políticos durante a ditadura no país (1976-83). Foram analisados 35 casos de apropriação de crianças, das quais 26 recuperaram a identidade. "Este é um julgamento histórico, carregado de muito simbolismo que serviu para manter viva a memória e a luta por justiça, contra a impunidade e que não tem precedentes no mundo, porque o roubo de menores da maneira como aconteceu na ditadura argentina nunca havia ocorrido antes", declarou Alan Iud, advogado das Avós da Praça de Maio, denunciante na causa. Ao lado de Videla, de 86 anos, e Bignone, 84 anos, está Jorge Acosta, chefe da Escola de Mecânica da Armada (Esma), o principal campo de concentração da ditadura, além de três ex-chefes militares, um obstetra e um agente da inteligência. Em sua alegação final, Videla, que recebeu em 2010 sua segunda condenação à prisão perpétua por crimes contra a Humanidade, classificou como "terroristas" as mulheres que deram à luz nas prisões da ditadura e que depois, em grande parte dos casos, eram jogadas vivas no mar de aviões militares em pleno vôo. "Todas as gestantes, a quem respeito como mães, eram militantes ativas da máquina do terrorismo. Usaram seus filhos como escudos humanos", disse o ex-ditador no tribunal. De acordo com Videla, a existência de um plano sistemático para roubar crianças "é uma falácia, havia ordens estritas e escritas para devolver menores desamparados a seus familiares". "É impossível que se tenha estabelecido lugares especiais para grávidas dentro dos centros de detenção e toda uma logística sem uma decisão das cúpulas", argumentou o advogado das Avós da Praça de Maio. O ex-subsecretário de Direitos Humanos do Departamento de Estado americano (1982-1985), Elliott Abrams, revelou durante o julgamento que os Estados Unidos sabiam do que ocorria na Argentina. "Acreditávamos que era um plano, porque prendiam ou assassinavam muitas pessoas, e nos parecia que o governo militar tinha decidido que algumas crianças seriam entregues a outras famílias", declarou no consulado argentino em Washington. As "Avós" estimam em 500 o número de crianças roubadas ao nascer durante o cativeiro de suas mães, em sua maioria desaparecidas, das quais 105 recuperaram sua identidade.

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