quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ex-diretor da Sadia obtém vitória no STJ

Adriano Ferreira, 38 anos, ex-diretor financeiro da Sadia, protagonista das perdas de R$ 2,55 bilhões com derivativos cambiais de 2008, se descreve "algumas toneladas mais leve", após vitória no Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre a companhia. Em 2009, a Sadia iniciou uma ação de responsabilidade civil contra o executivo, solicitando ressarcimento das perdas. Com a iniciativa, a companhia praticamente elegeu Ferreira como único responsável pela situação. A perda bilionária com os derivativos de alto risco - apelidados de tóxicos na época da crise - levaram a Sadia ao primeiro prejuízo em mais de 60 anos de história e à fusão com a Perdigão, dando origem a BRF-Brasil Foods. Foi a saída encontrada para a continuidade dos negócios. O Superior Tribunal de Justiça repetiu a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo e julgou improcedente a ação da Sadia contra o executivo, sem julgar o mérito. O julgamento foi na terça-feira à tarde e o executivo ganhou por unanimidade, com quatro votos a seu favor. O relator foi o ministro Ricardo Villas Bôas Cueva. A empresa terá de se responsabilizar pelos custos da discussão na Justiça, estimados em R$ 700 mil. O argumento usado pela defesa, conduzida por Edgard Silveira Bueno e Massami Uyeda Junior, do escritório Arap, Nishi & Uyeda Advogados, foi o de que a assembléia de acionistas da Sadia aprovou sem ressalvas as contas da empresa referentes a 2008. O artigo 134 da Lei das Sociedades por Ações determina que aprovação, sem reserva, da demonstração financeira exonera de responsabilidade os administradores e fiscais da empresa, exceto em casos de erro, dolo, fraude ou simulação. O advogado Uyeda Júnior explicou que a decisão é importante para dar segurança aos administradores de companhias abertas. "Fica confirmado que, uma vez aprovada as contas da empresa, o executivo não pode ser responsabilizado pelo passado", afirmou. Ferreira trabalha desde o fim de 2010 na fabricante de motocicletas Kasinski, como diretor financeiro e administrativo. "Foram amigos que me levaram. Os headhunters tinham sempre um pé atrás", conta ele. "Eram uma grande companhia, a Sadia, e um ex-ministro, Luiz Fernando Furlan, me acusando". A Sadia anunciou as perdas em 26 de setembro de 2008, junto com a demissão de Ferreira, interrompendo sua carreira meteórica na empresa. Fez parte da defesa a vocação financeira da Sadia: "Ela é anterior à minha atuação". Quando sofreu as acusações, o executivo contou que 80% do lucro do primeiro semestre de 2008 - de R$ 335 milhões - foi originário de ganhos com operações de alto risco. Ou seja, a Sadia ganhava mais dinheiro na especulação financeira do que na produção. "Quando está tudo bem, há 50 mil ao seu redor para estourar a champanhe", diz Ferreira: "Aprendi que a vida é uma selva de pedra. É preciso tomar todas as precauções possíveis, deixar tudo claro, no papel, para evitar surpresas". Na mesma época em que a Sadia sofreu os prejuízos, a Aracruz - hoje combinada à Votorantim Celulose Papel (VCP) na Fibria - teve perdas de R$ 4,2 bilhões. A assembleia da empresa de 2009 deixou registrada ressalva contra o diretor financeiro da ocasião, Isac Zagury, ao tratar das contas do ano anterior. O executivo é alvo do mesmo tipo de ação que sofreu Ferreira, pela Aracruz. Ferreira move ação por danos morais contra a Sadia, da qual também cobra direitos trabalhistas.

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