sábado, 17 de dezembro de 2011

Confirmado, vazamento do Enem foi maior do que o MEC admite

Em 27 de outubro, dias depois da aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio 2011, o Ministério da Educação admitiu que questões haviam vazado pouco antes da realização da prova. Os 639 estudantes do ensino regular do Colégio Christus, de Fortaleza, que participaram do Enem, tinham recebido apostilas com 14 testes idênticos aos da avaliação federal. Admitido o vazamento, o MEC determinou a anulação das questões para esses estudantes. O problema é que, em meio à celeuma, alunos do curso pré-vestibular da mesma instituição admitiram à imprensa também ter tido acesso às questões. Em relação a eles, o MEC nada fez, agindo como se o vazamento estivesse restrito ao colégio, e dando o caso por encerrado. A decisão se torna indefensável quando se sabe que não foi apenas à imprensa, mas à Polícia Federal, em depoimentos formais, que estudantes do cursinho afirmaram ter visto as questões. E, ainda, que a polícia informou oficialmente o ministério, há mais de um mês, que o vazamento é maior que o admitido. Ao varrer esse fato para baixo do tapete, o ministério do petista Fernando Haddad se mostra indiferente à possibilidade de que o princípio da isonomia, segundo o qual todos os 4,5 milhões de participantes devem estar submetidos às mesmas condições ao realizar a prova, tenha sido rompido no Enem de 2011. No dia 10 de novembro, Eliana Alves de Almeida Sartori, procuradora-chefe do Inep, autarquia do MEC responsável pelo Enem, enviou um ofício ao delegado da Polícia Federal que preside o inquérito no Ceará, Nelson Teles Junior, solicitando informações sobre as dimensões do vazamento. Eliana escreveu: “Senhor Delegado de Polícia Federal, de ordem da Presidência do Inep, solicitamos os bons préstimos no sentido de esclarecer sobre o andamento da apuração do inquérito, principalmente quanto à existência de algum elemento comprobatório que nos possa permitir concluir se as questões do pré-teste aplicados no Colégio Christus no ano de 2010, além de serem divulgadas no âmbito do referido colégio em apostilas para seus alunos regulares na preparação do Enem 2011, também o foram nos cursos Pré-Vestibulares mantidos pelo Colégio Christus". O pré-teste a que se refere a procuradora é o exame que o Inep aplica a estudantes para verificar a dificuldade das questões, que só então seguem para o banco de dados do Inep e, depois, para a prova do Enem. Em 2010, o pré-teste foi aplicado a estudantes do Colégio Christus, o que levantou a suspeita de o vazamento ter ocorrido naquela ocasião. A resposta do delegado Teles Junior ao pedido de esclarecimento da procuradora foi célere e objetiva, emitida no dia seguinte: “Senhora procuradora, já foram ouvidos, nos autos do inquérito policial número 1281/2011, alunos, professores, funcionários e diretor do Colégio Christus. Até o momento comprovou-se que o material distribuído aos alunos foi reproduzido dos cadernos 3 e 7 do pré-teste realizado em outubro de 2010, havendo evidências, conforme depoimentos de testemunhas, que esse material foi disponibilizado tanto para os alunos regulares, como também para os alunos do curso pré-vestibular mantido por aludido estabelecimento de ensino". O teor dos depoimentos a que se refere o delegado é contundente. Robert Pouchain Ribeiro Neto e Amanda Galdino Carneiro, ambos de 20 anos e estudantes do curso pré-vestibular, confirmaram o recebimento das mesmas apostilas distribuídas aos alunos do curso regular do Colégio Christus. Diante do delegado da Polícia Federal, Amanda afirmou o seguinte, segundo registro do inquérito em andamento: “o terceiro ano regular funciona na mesma sala do cursinho pré-vestibular, portanto, os alunos do terceiro ano do ensino médio e os alunos do curso pré-vestibular tiveram acesso ao mesmo tipo de material fornecido pelo colégio para a preparação do Enem 2011; na sala que a declarante estudava foram distribuídos materiais denominados Enem questões selecionadas 2011". O testemunho de Amanda foi confirmado pelo colega Robert. Ele detalhou que tanto os estudantes do ensino regular quanto os do cursinho pré-vestibular receberam “quatro cadernos com a denominação Enem - Questões Selecionadas 2011, sendo certo que cada um desses cadernos possuía em torno de 20 a 24 questões”.

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