domingo, 25 de dezembro de 2011

Após dez anos, crise volta a assombrar a Argentina

O momento histórico mais dramático vivido pela Argentina depois da ditadura militar (1976-1983) completou dez anos nesta semana. O chamado "estallido", crise econômica, política e social que culminou na renúncia do presidente Fernando De la Rúa (União Cívica Radical), segue vivo na memória local e é apontado por analistas como um dos fatores que ajudaram a reeleger Cristina Kirchner como presidente com 54% dos votos. "Em 2001, não havia emprego e o dinheiro primeiro ficou preso no banco, depois não valia mais nada. Hoje há emprego e os salários aumentam", diz Juan Gímenez, ex-trabalhador de uma indústria que quebrou nos anos 90 e que hoje tem um quiosque de venda de jornais no bairro portenho de Belgrano. "A sociedade ficou muito traumatizada. O desemprego, a violência, a perda do poder aquisitivo formam um pesadelo tão grande e tão recente que qualquer coisa melhor do que isso merece um voto", diz o jornalista econômico Martin Kanenguiser, autor de "El Fin de la Ilusión Argentina 2001-2011". A crise havia começado um pouco antes. Em 1998, o país entrou em recessão devido à política econômica aplicada pelo peronista Carlos Menem (1989-1999). Durante seu governo, dólar e peso valiam a mesma coisa, de acordo com a Lei de Conversibilidade, instaurada em 1991. Isso fez com que as importações ficassem baratas e muitas indústrias nacionais quebrassem. A paridade das moedas era muito popular, pois dava uma sensação de estabilidade econômica aos argentinos, mas aos poucos foi-se mostrando algo difícil de sustentar. O desemprego cresceu até atingir 20% da população, enquanto a dívida com o FMI, em 1999, era de US$ 128 bilhões. De la Rúa assumiu em 10 de dezembro de 1999, mas não conseguiu equilibrar a economia. Os ministros da área duravam meses. Passaram pela pasta José Luis Machinea, Ricardo López Murphy e Domingo Cavallo. Os distúrbios de rua começaram a ser comuns, assim como saques a lojas. Em novembro de 2001, os grandes investidores tiraram depósitos do país, e os bancos começaram a quebrar por conta da fuga de capitais. No começo do mês seguinte, Cavallo anunciou o "corralito", por meio do qual os investimentos da população ficavam congelados e os saques, limitados. Os piquetes e "cacerolazos" intensificaram-se, assim como choques com a polícia. No dia 19 de dezembro, De la Rúa decretou estado de sítio, e no dia seguinte, renunciou. O saldo dos distúrbios foi de 39 mortos. A Argentina teve mais três presidentes em menos de dez dias. Foi decretada a moratória, o maior calote da história (US$ 150 bilhões). Até que, em 2 de janeiro de 2002, assumiu o peronista Eduardo Duhalde. O governo de Néstor Kirchner, eleito no ano seguinte, logrou reerguer o país e reestruturar a dívida, beneficiado pela alta das commodities no período. Entre 2003-2007, a economia cresceu em uma média anual de 8,2%.

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