sexta-feira, 23 de setembro de 2011

BID traça cenário sombrio para Europa

Já estamos em uma crise bancária internacional, o cenário mais provável é de reestruturação ou calote da dívida de boa parte dos europeus e, sim, a América Latina deverá ser afetada. O cenário sombrio foi traçado nesta sexta-feira, em Washington, durante painel de economistas reunidos no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a poucos quarteirões de onde ocorria a reunião de outono do FMI. Para Raghuram Rajan, professor de finanças da Universidade de Chicago, muitos concordam que a dívida grega é insustentável e o país precisa de uma séria reestruturação (adiamento da maturação de títulos e outras medidas de calote suave). Rajan prevê duas saídas. A primeira pode ajudar na ausência de uma grande mudança no cenário atual e tem a ver com um eventual novo governo de unidade nacional na Itália. Esse governo poderia enviar uma mensagem positiva de consolidação (aperto) fiscal e reforma estrutural: "Se a Itália melhorar e a Grécia conseguir se segurar mais um pouco, o pior poderia ser evitado". Outra saída mais drástica, para ele, seria o FMI assumir as rédeas da contenção da crise, demandando reestruturação na Grécia e criando novas linhas de crédito para Espanha e Itália. Carmen Reinhart, analista do Instituto Peterson para Economia Internacional, foi ainda mais pessimista. Para ela, a única pergunta agora é se a crise atual terá a mesma magnitude da de 2008. "A perspectiva básica é de reestruturação na Europa, combinada com apoio internacional", disse, prevendo essas ações não só na Grécia, mas também na Irlanda e em Portugal. Ela projeta para economias maiores, incluindo Estados Unidos, período prolongado de crescimento baixo e alto desemprego, que levam a políticas monetárias acomodativas (basicamente, juros baixos para aumentar a oferta de crédito). Os panelistas temem que a provável piora da crise européia se espalhe para a América Latina devido à grande exposição do sistema bancário da região aos bancos europeus. Liliana Rojas-Suárez, do Centro para Desenvolvimento Global, baseado em Washington, calcula que se um choque sério chegar mesmo os países onde a integração com os europeus é maior terão contração de ao menos 20% no crescimento real do crédito. Brasil, Argentina, Colômbia e Venezuela teriam contração de 15% em média. Isso ocorre porque os bancos europeus congelariam empréstimos aos bancos latinos. E Rojas alerta que a capacidade dos países de resistir aos choques (Brasil inclusive) caiu desde 2007. "O próximo choque está chegando antes de as economias estarem totalmente recuperadas do último. Não conseguirão reagir da mesma forma desta vez", disse ela.

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