sexta-feira, 8 de julho de 2011

Magnata decide fechar jornal "News of the World" após escândalo

O escândalo das escutas telefônicas ilegais fez a News Corporation, conglomerado do magnata australiano Rupert Murdoch, fechar o "News of the World", tablóide de maior circulação aos domingos no Reino Unido, criado em 1843. Há denúncias de que repórteres do jornal acessaram ilegalmente mensagens de telefones de políticos, celebridades, membros da família real, vítimas de crimes e até familiares de soldados mortos nas guerras do Afeganistão e Iraque. O escândalo fez os principais anunciantes do Reino Unido cancelarem suas campanhas de publicidade no jornal. Fez também o governo decidir abrir um inquérito público para investigar o caso. A polícia acredita que até 4.000 pessoas tiveram seus telefones grampeados. "The News of the World está no ramo de fiscalizar outros por seus atos. Ele fracassou quando chegou sua vez", disse o vice-diretor de operações da NewsCorporation, James Murdoch, em discurso à equipe do jornal. "As coisas boas que o "News of the World" faz foram manchadas por um comportamento que estava errado. Se as recentes alegações forem verdade, as ações foram desumanas e não têm espaço na nossa companhia", completou. O "News of The World" é o jornal mais vendido aos domingos no Reino Unido, com uma circulação média de quase 2,8 milhões de exemplares e pertence ao grupo News Corporation (News Corp.), um dos maiores conglomerados de mídia do mundo. O tablóide está envolvido em um escândalo desde 2006, quando apareceram as primeiras denúncias de que grampeava celebridades e até membros da realeza em busca de informações exclusivas. O então editor do jornal, Andy Coulson, renunciou no ano seguinte, após um de seus repórteres e um detetive terem sido condenados pelo monitoramento ilegal das conversas telefônicas. Em fevereiro de 2011, a Polícia Metropolitana de Londres iniciou uma nova investigação após alegações de que mais de 7.000 pessoas, entre elas atores, políticos, jogadores de futebol, apresentadores de TV e outras celebridades, tiveram seus telefones grampeados. Pressionado mais uma vez, Coulson abandonou também o cargo de porta-voz de Cameron. A crise se agravou após o premiê britânico, David Cameron, ter demandado nesta quarta-feira a abertura de um inquérito sobre os grampos e sobre a propina, mas afirmou que, antes, a polícia precisa encerrar a investigação. Nesta semana o escândalo ganhou outra dimensão com a denúncia de que um detetive que trabalhava para o jornal teria grampeado o telefone celular de Milly Dowler, uma menina de 13 anos que desapareceu em 2002 e depois foi encontrada morta. O detetive contratado pelo tablóide para hackear o telefone chegou a deletar mensagens do celular, dando à família falsas esperanças de que ela estaria viva. Também na quarta-feira a imprensa trouxe mais denúncias, desta vez de que o jornal teria invadido os telefones de famílias de vítimas dos atentados de 7 de julho de 2005, em Londres, e de familiares de soldados britânicos mortos em ação. Mais cedo, houve confirmação de que uma comissão independente da polícia britânica vai supervisionar a investigação sobre as denúncias de que repórteres do tabloide pagaram policiais em troca de informação. Deborah Glass, vice-comissária da Comissão Independente de Reclamações da Polícia, disse nesta quinta-feira que ela vai pessoalmente supervisionar as investigações se policiais receberam dinheiro dos jornalistas do tabloide britânico para dar informações sobre investigações em andamento. Os pagamentos teriam sido autorizados por Coulson, segundo e-mails entregues pela direção do "News of the World". O detetive Glenn Mulcaire cumpriu pena de seis meses de prisão em 2007, depois de hackear mensagens de voz de telefones de funcionários da família real. O tabloide "News of the World" circulará neste domingo sua última edição, após 168 anos de história. Estima-se que cada edição do "News of the World" era lida por cerca de 7,5 milhões de pessoas entre os meses de julho e dezembro. A nota de Rupert Murdoch é a seguinte: "Tenho coisas importantes a dizer sobre o 'News of the World' e as medidas que estamos tomando para resolver os sérios problemas que ocorreram. É justo que vocês, nossos colegas na News International, sejam os primeiros a ouvir o que tenho a dizer, e ouvirão diretamente de mim. Não é preciso dizer que o News of the World tem 168 anos. Que é mais lido que qualquer outro jornal em inglês. Que desfrutava do apoio dos maiores anunciantes britânicos. E que tem um histórico louvável de combate ao crime, expondo delitos e frequentemente estabelecendo a agenda noticiosa do país. Quando digo às pessoas que me orgulho de ser parte da News Corporation, digo que nosso compromisso para com o jornalismo e uma imprensa livre é uma das coisas que nos distingue. O trabalho de vocês merece crédito por isso. Mas as boas coisas que o News of the World faz foram maculadas por comportamento indevido. De fato, se as recentes alegações procedem, foi um comportamento desumano e que não tem lugar em nossa companhia. O negócio do News of the World é chamar os outros à responsabilidade. Mas o jornal não foi capaz de fazê-lo quanto a ele mesmo. Em 2006, a polícia concentrou suas investigações em dois homens. Os dois terminaram na prisão. Mas o News of the World e a News International falharam em deslindar os repetidos delitos que ocorriam, sem consciência ou propósito legítimo. Malfeitores fizeram de uma boa redação uma má redação, e isso não foi devidamente compreendido ou esclarecido de forma adequada. Como resultado, o News of the World e a News International sustentaram que os problemas se referiam a um único repórter. Agora, fornecemos voluntariamente à polícia indícios que, em minha opinião, provarão que isso não era verdade, e aqueles que agiram de modo errôneo terão de enfrentar as consequências. Mas essa não foi a única falha. O jornal fez declarações ao Parlamento sem dispor de todos os fatos. Isso foi um erro. A companhia pagou por acordos extrajudiciais autorizados por mim. Sei que eu não conhecia o quadro completo quando o fiz. Isso foi um erro, e é causa de sério arrependimento. No momento, existem duas grandes investigações policiais em curso. Estamos cooperando ativamente com ambas. Vocês sabem que foi a News International que apresentou voluntariamente provas que levaram ao estabelecimento da Operação Weeting e da Operação Elveden. Essa cooperação total continuará até que a polícia conclua seu trabalho. Também admitimos nossa responsabilidade em processos civis. Já fechamos acordos para diversos casos importantes e estabelecemos um fundo de indenização, sob o qual os casos serão adjudicados por Sir Charles Gray, antigo juiz da Alta Corte. Pedir desculpas e tentar corrigir nossos erros é a coisa certa a fazer. Dentro da companhia, estabelecemos um Comitê de Gestão e Padrões que está trabalhando quanto a essas questões e contratou a Olswang para examinar passados erros e recomendar sistemas e práticas que com o tempo possam se tornar um padrão para o setor. Assumimos o compromisso de publicar os termos de referência da Olswang e suas futuras recomendações de maneira aberta e transparente. Recebemos de forma positiva a ampla investigação pública sobre os padrões da imprensa e as práticas da polícia, e cooperaremos plenamente com ela. Assim, da mesma forma que eu reconheço os erros que cometemos, espero que vocês e todas as pessoas de dentro e de fora da companhia reconheçam que estamos fazendo o máximo para corrigi-los, purgá-los e garantir que jamais voltem a acontecer. Tendo consultado alguns de meus colegas mais importantes, decidi que deveríamos tomar uma nova e decisiva medida com relação ao jornal. A edição deste domingo será a última do News of the World. Colin Myer responderá pela edição final do jornal. Além disso, decidi que toda a receita do News of the World neste final de semana será doada a boas causas. Embora talvez jamais possamos compensar os problemas que foram causados, a coisa certa é que cada centavo da receita de circulação recebida no final da semana vá para organizações, muitas das quais nossas amigas e parceiras de longa data, que melhoram a vida no Reino Unido e se dedicam a tratar os outros com dignidade. Não veicularemos publicidade neste final de semana. O espaço publicitário da edição final será doado a causas e organizações de caridade que desejem mostrar seu trabalho aos nossos milhões de leitores. São medidas fortes. Estão sendo tomadas com humildade e por respeito. Estou convicto de que são a coisa certa a fazer. Muitos, se não a maioria, de vocês são novos na companhia ou não tiveram conexão com o News of the World nos anos em que esses eventos desprezíveis ocorreram. Compreendo até que ponto essas decisões podem parecer injustas. Especialmente para os colegas que deixarão a companhia. É claro que comunicaremos os próximos passos de forma detalhada e iniciaremos as consultas devidas. Vocês talvez vejam essas mudanças como o preço que os funcionários leais do News of the World estão pagando por erros alheios. Portanto, por favor atentem à minha declaração de que o seu bom trabalho é um crédito para o jornalismo. Não desejo que a legitimidade do que vocês fazem seja comprometida por atos alheios. Quero que todo o jornalismo da News International esteja acima de qualquer crítica. Insisto em que esta organização viva à altura dos padrões de comportamento que esperamos de terceiros. E por fim, quero que vocês saibam que é essencial que a integridade de todos os jornalistas que jogaram de acordo com as regras seja restaurada. Obrigado a todos".

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