terça-feira, 24 de maio de 2011

Morre aos 97 anos o líder negro Abdias do Nascimento

Abdias do Nascimento
Morreu na manhã desta terça-feira, no Rio de Janeiro, o ativista do movimento negro Abdias do Nascimento, aos 97 anos. Ex-deputado, secretário estadual e senador, Abdias foi também pintor autodidata, escritor, jornalista, poeta e ator. Ele estava internado desde abril. Sua defesa dos direitos humanos dos afrodescendentes lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz em 2010. Em março deste ano, esteve entre as lideranças negras convidadas para o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no Rio de Janeiro. Na ocasião, Nascimento afirmou : "A visita do Obama é importantíssima para aprofundar as relações entre o Brasil e os Estados Unidos. O fato deles terem eleito um presidente negro é uma lição para o Brasil". Foi dele a sugestão de instituir, em São Paulo, o Dia da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro desde 2006. Abdias do Nascimento foi o primeiro deputado federal do País a se dedicar à defesa dos direitos dos afro-brasileiros. Ele assumiu o mandato em 1983, eleito pelo PDT do Rio de Janeiro. Em seu mandato de quatro anos, segundo dados da Ipeafro (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros), foi de autoria de Nascimento o primeiro projeto de lei de políticas públicas afirmativas da história do Brasil. O ativista também foi suplente de antropólogo Darcy Ribeiro no Senado Federal e assumiu a cadeira entre 1991 e 1992 e de 1997 a 1999. Abdias do Nascimento nasceu em 14 de março de 1914, na cidade de Franca, localizada no interior de São Paulo, a 400 quilômetros da capital. Filho de uma doceira e de um sapateiro, viveu a maior parte da vida no Rio de Janeiro, onde se formou em economia. Começou a militar na década de 30, quando ingressou na Frente Negra Brasileira. Em uma viagem pela América do Sul com um grupo de poetas, assistiu a um espetáculo onde um ator branco pintava o rosto para interpretar um negro. O episódio marcou Abdias e o levou a fundar o Teatro Experimental do Negro, em 1994, após ter cumprido pena na penitenciária do Carandiru, preso pelo governo de Getúlio Vargas por resistir a agressões racistas. O Teatro Experimental do Negro formou a primeira geração de atores e atrizes afrodescendentes do Brasil, e também contribuiu para a criação da literurgia dramática afro-brasileira. Abdias do Nascimento se encontrava nos Estados Unidos quando o regime militar promulgou o Ato Institucional nº 5 e, por causa de diversos inquéritos policiais dos quais era alvo, foi impedido de retornar ao Brasil. Além do Teatro Experimental do Negro, o legado de Abdias do Nascimento inclui também o Ipeafro, fundado por ele em 1981, o jornal "Quilombo", criado em 1968, e mais de 20 livros publicados durante várias décadas. Além da indicação ao Prêmio Nobel da paz, Abdias do Nascimento recebeu honrarias dos Estados Unidos, Nigéria, México, Unesco e ONU. No Brasil, recebeu a Ordem do Rio Branco, no grau de Comendador, a honraria mais alta outorgada pelo governo brasileiro.

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