domingo, 24 de abril de 2011

Vargas Llosa provoca argentinos em feira do livro

"Um peixe na água": o título do livro de memórias do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, o peruano Mario Vargas Llosa, define com precisão sua conferência de abertura na Feira do Livro de Buenos Aires, na última quinta-feira. A polêmica começou quando o presidente da Biblioteca Nacional argentina, Horacio González, criticou a homenagem a um liberal convicto no maior evento literário do país. Sua participação só foi assegurada após a intercessão da presidente Cristina Kirchner. A Argentina se prepara para eleições presidenciais, em 23 de outubro, em meio a acirradas batalhas culturais. Tão elegante quanto mordaz, Llosa agradeceu: "Agradeço a ela e espero que esse ato em favor da liberdade de expressão e da liberdade na Argentina contagie todos os seus partidários e guie sua própria conduta". Sedutor, Llosa dissolveu as expectativas de uma participação explosiva recapitulando sua biografia de menino criado em Bogotá até receber o Nobel em 2010. Não deixou, porém, de fazer críticas frontais, não ao governo kirchnerista, mas à história política local. "O que aconteceu com este país?", perguntou a uma platéia que o ouvia muda: "No começo do século 20, a Argentina era um país de primeiro mundo, enquanto dois terços da Europa eram de terceiro mundo". E indagou por que o país "que todos invejávamos" perdeu "oportunidades incríveis", cometeu "erros políticos garrafais" e entrou em "crise quase permanente". Quando o mediador mencionou o elo ideológico do liberalismo com a ditadura militar (1976-1983), que deixou um saldo de 30 mil mortos e desaparecidos, o escritor o cortou afirmando que "associar o liberalismo a uma ditadura é uma obscenidade".

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