quinta-feira, 14 de abril de 2011

VAR-Palmares planejou execução de militares

Documento da Aeronáutica que foi tornado público nesta quarta-feira pelo Arquivo Nacional, após ter sido mantido em segredo durante três décadas, revela que a organização terrorista VAR-Palmares, que contou em suas fileiras com a hoje presidente Dilma Rousseff, determinou o "justiçamento", isto é, o assassinato de oficiais do Exército e de agentes de outras forças considerados reacionários nos anos da ditadura militar. Com cinco páginas, o relatório "A Campanha de Propaganda Militar", redigido por líderes do grupo, avalia que a eliminação de agentes da repressão seria uma forma de sair do isolamento. O texto foi apreendido em um esconderijo da organização ("aparelho"), e encaminhado em caráter confidencial ao então Ministério da Aeronáutica. O arquivo inédito, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, faz parte do acervo do Centro de Segurança e Informação da Aeronáutica (CISA). No Arquivo Nacional, em Brasília, novo endereço do acervo que estava em poder do serviço de inteligência da Aeronáutica, há um conjunto de documentos que tratam da VAR-Palmares. Mostram, entre outras coisas, a participação de militares da ativa e a queda de líderes do grupo em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Os nomes dos integrantes do grupo receberam uma tarja preta, o que impede estabelecer relações diretas entre eles e as ações relatadas. É possível saber, por exemplo, que militantes de Belo Horizonte receberam em certa ocasião dez revólveres calibre 38 e munição, mas não os nomes desses militantes. Na primeira página, o relatório de cinco páginas destaca que o grupo não tem "nenhuma possibilidade" de enfrentar os soldados nas cidades. Sobre o justiçamento de militares observa: "Deve ser feito em função de escolha cuidadosa (trecho incompreensível) elementos mais reacionários do Exército". Na época da redação do texto, entre 1969 e 1970, a ditadura tinha recrudescido o combate aos adversários do regime. Falava-se em setores das forças de completo extermínio dos subversivos. Em dezembro de 1968, o regime havia instituído o AI-5, que suprimia direitos civis e coincidia com o início de uma política de Estado para eliminar grupos de esquerda. A VAR-Palmares surgiu em 1969 com a fusão do grupo Colina (Comando de Libertação Nacional), em que Dilma militava, com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), do capitão Carlos Lamarca. Dilma, à época com 22 anos, foi presa em janeiro de 1970, em São Paulo. Ela só foi libertada em 1972, após passar por uma série de sessões de tortura. Sempre que fala sobre seu envolvimento com a resistência ao regime militar, Dilma costuma ressaltar que sua visão atual da vida não tem "similaridade" com o que pensava durante o tempo de guerrilha. O documento tornado público classifica as ordens como contraofensiva. Seria uma resposta aos "crimes" do regime militar contra a esquerda: "O justiçamento punitivo visa especialmente paralisar o inimigo, eliminando sistematicamente os cdf da repressão, os fascistas ideologicamente motivados que pressionam os outros". O texto também dá orientações sobre como definir e vigiar possíveis alvos. A idéia era uma fazer uma lista dos oficiais "reacionários" e de pessoas ligadas à CIA, a agência central de inteligência dos Estados Unidos. A VAR-Palmares tinha definido como alvos prioritários o delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS, e seu subordinado Raul Careca, acusados de comandarem a máquina da tortura nos porões de São Paulo: "Careca, Fleury são assassinos diretos de companheiros também. Trata-se de represália clara. Já outros investigados serão eliminados sob condição, conforme vimos acima". O relatório confidencial produzido pelo Centro de Segurança e Informação da Aeronáutica (Cisa) em 9 de março de 1972 indica que o presidente Emílio Garrastazu Médici sofreria um atentado a bomba em encontro que teria no Rio de Janeiro com os presidentes da Argentina e do Uruguai. Outro documento do Cisa mostra que o ministro da Justiça do governo Costa e Silva, Gama e Silva, também seria alvo de atentado. Os detalhes sobre o atentado contra Médici foram passados à Aeronáutica por um informante, tratado no documento como "fonte de alta credibilidade". O atentado seria organizado por integrantes do Movimento Internacional Revolucionário (MIR), sediado no Chile. De acordo com as informações passadas à Aeronáutica, "estariam envolvidos nessa trama subversivos brasileiros banidos" inicialmente para a Argélia e depois para o Chile. O plano, conforme o relato, era explodir uma bomba plástica quando Médici estivesse reunido com o presidente do Uruguai ou, no dia seguinte, com o presidente da Argentina. "Numa dessas ocasiões deverá ocorrer um atentado contra a vida do presidente do Brasil", relata o informe. Outro relatório do Cisa, de 29 de fevereiro de 1972, revela que um "artefato explosivo" foi encontrado em um vaso de plantas durante o embarque de Médici. "Artefato foi colocado após a chegada de autoridades por pessoa desconhecida, mas autorizada a penetrar no recinto", informa o documento. As informações foram passadas ao Cisa no dia 21 de fevereiro de 1972.

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