segunda-feira, 11 de abril de 2011

OMS pode destruir últimos exemplares do vírus da varíola

Uma das grandes assassinas da história, a varíola é, desde 1980, considerada extinta pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Todas as amostras de seu vírus foram destruídas, exceto em dois laboratórios. Agora, cientistas se dividem sobre o que fazer com elas. Após sucessivos adiamentos desde a década de 1990, está previsto que a OMS decida o futuro das amostras do Orthopoxvirus variolae em uma assembléia em maio. Em 2007, Estados Unidos e Rússia, países onde ficam os laboratórios de segurança máxima que abrigam os últimos exemplares do vírus, usaram a ameaça de possíveis ataques de bioterroristas para convencer a organização a postergar a destruição. Segundo eles, só com amostras do vírus vivo seria possível desenvolver novas vacinas e tratamentos eficazes em caso de uma epidemia provocada por terroristas. O argumento convenceu os países-membros, mas a pressão para a destruição tem aumentado consideravelmente, com direito a manifestações públicas nesses próprios países. "Por que correr o risco de os vírus escaparem e a doença ressurgir?" - manifestou o pesquisador do "Third World Network" Lin Li Ching ao "Washington Post". O risco de contaminação acidental em laboratório é, aliás, um dos principais argumentos a favor da destruição das amostras. Na década de 1970, houve um caso de contaminação dessa forma em Birmingham, no Reino Unido. Embora o episódio tenha causado uma morte, ele foi logo contornado. "Nós sentimos que o mundo ficaria mais seguro sem a existência desses estoques de vírus", completou Lin. O grupo que é contra a destruição do O. variolae diz que acabar com as amostras seria cantar vitória sobre a doença antes do tempo. "Sou radicalmente contra a destruição. Comemorar uma vitória de três décadas diante de algo que tem milhares de anos é muita pretensão", afirma Erna Kroon, coordenadora do Laboratório de Vírus da Universidade Federal de Minas Gerais. Segundo Kroon, é possível que haja amostras clandestinas do vírus. Além disso, haveria formas de recuperá-lo em cadáveres congelados, por exemplo. "Destruir os exemplares oficiais do vírus dificultaria imensamente a reação em caso do retorno da doença", avalia a cientista. Responsável por 500 milhões de mortes só no século 20, a varíola foi erradicada com um esforço mundial de vacinação em massa. Com o declínio da doença, os governos interromperam as imunizações e, atualmente, boa parte da população está desprotegida.

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