sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Reservas encostam na marca dos US$ 300 bilhões

As reservas internacionais brasileiras encostaram nesta quinta-feira na marca histórica de US$ 300 bilhões, ao atingirem US$ 299,184 bilhões, reavivando o debate sobre os limites da política agressiva de compra de dólares que vem sendo implementada pelo Banco Central. A estratégia de aumento constante das reservas, embora tenha como consequência evidente uma redução no risco externo do País, cumpre o objetivo do governo de conter a tendência de valorização do real. Mas essa política também tem um custo, resultado da diferença entre os juros praticados no Brasil e no Exterior. É que, ao comprar dólares, o Banco Central se endivida em reais, já que a taxa de juros é de 11,25%. Ao mesmo tempo, aplica os dólares em títulos do governo americano, cuja taxa é um pouco superior a 3%. Os cálculos diferem entre os economistas, já que os custos internos e externos variam, além do peso do fator câmbio. De qualquer forma, uma estimativa simples colocaria o custo na casa dos US$ 20 bilhões por ano, além da elevação do estoque da dívida pública. O governo argumenta que a discussão do custo não pode ser desvinculada dos benefícios que a atual política traz. Afinal, o desempenho do País na crise, com redução da dívida líquida do setor público no momento em que o dólar disparou e rápida recuperação da atividade econômica, mostra que vale a pena ter esse seguro. Mas esse argumento pode fortalecer a tese dos que não vêem mais sentido em seguir reforçando o colchão de dólares do governo. Afinal, se usando apenas pequena parte do montante dos cerca de US$ 200 bilhões que estavam guardados em 2008, o Brasil saiu da maior crise em 80 anos, qual a necessidade de se ter mais reservas e impor um custo fiscal? Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, entende que continuar comprando dólares e aumentar as reservas é uma política de "enxugar gelo": "Quanto mais aumenta as reservas, menor a percepção de risco e, por sua vez, maior o incentivo à entrada de dólares, exatamente em um contexto em que se quer evitar o ingresso de moeda estrangeira". Ele entende que não se pode mudar a tendência de valorização do real. Por isso, a alternativa seria deixar a moeda americana cair ante o real, o que ajudaria o Banco Central na tarefa de recolocar a inflação na meta. Freitas reconhece que a valorização do real teria impacto negativo nos exportadores, que poderiam ser compensados por medidas de natureza tributária. Na visão dele, a atual política econômica trabalha com meta de inflação e de câmbio, o que pode ser problemático. As reservas internacionais funcionam como um seguro. Quando um país possui muitos dólares mostra aos investidores que tem capacidade de quitar os compromissos internacionais. Mas, como todo seguro, isso tem um preço. No Brasil, esse custo tem crescido porque os juros estão em trajetória de alta. Para o Banco Central aumentar as reservas, é preciso fazer três operações distintas. Primeiro, a autoridade monetária toma reais emprestado de bancos e, para isso, paga os juros da taxa Selic, atualmente em 11,25% ao ano. De posse dos reais, ocorre a segunda transação: o Banco Central compra dólares no mercado. Com a moeda estrangeira na mão, a última operação: a instituição adquire títulos de dívida de governos, como os papéis do Tesouro dos Estados Unidos. É aí que mora o problema. Os papéis de 10 anos dos Estados Unidos têm rentabilidade de pouco mais de 3% ao ano. Dessa forma, o Brasil paga 11,25% a quem emprestou os reais e só recebe 3% de juros nos títulos norte-americanos. A diferença entre as taxas - mais de 8% ao ano, é o custo de se elevar as reservas e é bancada pelo governo brasileiro.

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