sábado, 15 de janeiro de 2011

Sítio de Tom Jobim some na lama

À beira do Rio Preto, no sítio Poço Fundo, em que adorava passar férias sozinho, Tom Jobim fazia tudo virar música. Era a lama, o sapo, a rã, o caco de vidro, a luz da manhã e até um carro enguiçado do amigo João Gilberto, que visitava a toca do maestro em busca de arranjos para suas canções. Águas de Março foi o que de mais impressionante Jobim anotou ali em sua casinha, depois de uma temporada de verão com muita água caindo do céu na tranquila São José do Vale Rio Preto, a 40 minutos de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Desde as 8 horas da manhã de quarta-feira, a casa em que Jobim criou também Dindi e Matita Perê, segundo seu filho Paulo Jobim, não existe mais. O teto desabou, as paredes ruíram, muitas árvores se foram. O refúgio de Jobim desapareceu em duas horas. Jobim mostrava em entrevistas preocupação com o desmatamento antes mesmo das discussões sobre a camada de ozônio. Águas de Março, feita ali na casa destruída por uma impiedosa enxurrada de janeiro, soa agora como uma previsão. "É pau, é pedra, é o fim do caminho / É um resto de toco/ é um pouco sozinho." Outra a sair das inspirações à beira do Rio Preto foi Dindi. "Céu, tão grande é o céu / E bandos de nuvens que passam ligeiras / Pra onde elas vão, ah, eu não sei, não sei / E o vento que toca nas folhas / Contando as histórias que são de ninguém / Mas que são minhas e de você também / Ai, Dindi". Tom Jobim levava o filho Paulo ainda criança, com 7 ou 8 anos, para o sítio Poço Fundo. "Meu pai ficava lá sozinho, aproveitava o verão todo, até João Gilberto o visitava". Agora o cenário é de total devastação.

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